quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Vou de Taxi

- Boa tarde.
- Boa tarde.
Liga o taxímetro. Pra mim, um termômetro emocional que vai subindo a cada 100m. Acho que por causa da luz vermelha.
- Pra onde, moça?
- Jornal de Fato, ali na Avenida Rio Branco, próximo a Praça de Esportes. - Ok. Posso ligar o rádio?
- Pode, claro.

Meu telefone toca. Um cliente esperando. Volto para o ambiente do táxi meio aborrecida, meio apressada. A rádio sintonizada na AM Difusora. Sintonia de AM tem aquele tom característico de noticias, parece distante. O ouvinte espera um desastre ou um gol de futebol a cada “14h23min na terra de Santa Luzia”. O eco é diferente.

Acho que o cara não gostou muito. Resolveu colocar um CD de Flávio José de mil novecentos e lá vai o verão “...ela me traiu usando o resto das camisinhas, que eu deixei da última vez que a gente fez amor...” o hit me trouxe a memória os tempos que dona Rosa trabalhava na casa da minha mãe e passava o meio dia lavando a louça ouvindo os bregas mais Top 10 do momento. Notou pelo retrovisor que eu não tinha gostado. Desligou.

A sensibilidade humana às vezes me assusta. Interpreto mal. Não precisa da menor intimidade. O olhar. O tom da voz. O jeito de sorrir. Qualquer pessoa com a mínima sensibilidade mata meu estado de humor. E não se enganem os taxistas sempre conhecem os passageiros. Eles são sensíveis. Sabem quem está com pressa e quem está indo pra casa por falta de opção.

Era o meu caso ontem à noite. Queria pegar o telefone e sair ligando para todos os números da minha agenda em busca da companhia certa para rir. Ou pra chorar. Ou pra dizer que vou jogar tudo pro alto sabendo que hoje, quando o dia amanhecesse tudo ia passar.

Peguei outro táxi depois de 4 doses de vodka com soda e fui pra casa. Entrei cantarolando “e eu, gostava tanto de você...” na minha cabeça a indiferença. Não sabia nem o que estava cantando. Acho que alguém cantou e eu fiquei com a música no subconsciente.

- Boa noite.
- Boa.
- Vou ali...próximo ao Candidu’s Restaurante.
-Ok.
Estico as pernas e bocejo. O taxista em seu carro super-hiper-equipado com ar condicionado congelado me oferece água. Depois diz: “Vou colocar uma música que você vai gostar” e desce aquela Tv de 10’’ do teto com Ivete Sangalo cantando ‘Me Liga’ de Hebert Vianna. Luzes reguláveis, maquineta de cartão, almofadas no banco de trás, jornal do dia, revistas da semana, e eu já esperava a cobrança dos 10% da taxa de serviço. De repente a afirmação: - Seja lá o que tenha acontecido lembre-se que é apenas uma possibilidade e a vida é cheia de possibilidades.
Poético. Engraçado. Verdadeiro.

Um táxi divã.

Um taxista marketeiro.

Gostei.

4 comentários:

Cinthia disse...

Ai me apresenta esse taxista, que para conversar e escutar musica eu topo :)

Cefas Carvalho disse...

Legal o texto, Larissa. Bem humorado e na medida. Lembrando que no filme "mulheres à beira de um ataque de nervos", de Almodóvar, há um taxista engraçadíssimo que acompanha as desventuras da Pepa (Carmen Maura). Um abraço!

Gabi Damásio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gabi Damásio disse...

se não fosse pelas almofadas, eu diria que era o táxi de Girliano... Aquele que eu lhe indiquei depois da sua dose de vodka e um copo de cerveja... kkkkkkkkkkkkkkkk
Como disse Cefas, na medida!!!
Apesar de eu entender as entrelinhas...