Uma coisa que eu aprendi muito cedo na minha vida foi a ser só. A melodia morosa de Marcos Vale e Paulo César Vale nunca foi o samba enredo da minha vida. E, agora, depois de cabra véia e passada na casca do alho, como se diz por aqui, é que não será.
Aprendi a ser sozinha nos primórdios, ainda criança, quando na festa do dia dos pais da escola eu mesma tive que ir lá à frente da mesinha pegar o presente do meu pai porque confundi o dia da festinha e esqueci de faltar a aula. Aprendi a ser só durante a noite, quando minha mãe fazia faculdade e eu fingia que estava dormindo esperando caladinha a hora dela chegar. Aprendi a ser sozinha quando resolvi fugir de casa depois de uma grande briga de família, e, ainda que tenha voltado dois dias depois, o frio na barriga e o desespero da desproteção me fizeram levantar a cabeça e enfrentar a rua sozinha. Aprendi a ser sozinha quando me apaixonei por um garoto na escola e tinha muito medo que ele descobrisse que eu gostava dele. Ele era tão simpático, sorria pra mim na hora do intervalo e eu me apaixonei. Mas, aprendi a ser sozinha, quando ele passou na minha frente namorando a garota do Ensino Médio. Ah, também aprendi a ser sozinha quando perdi por meio milésimo de segundo a medalha de ouro em natação na especialidade que eu treinei o ano inteiro; perdi a medalha por meio milésimo de segundo nadando costas e não era a dor de ter perdido a medalha, era a dor de ter perdido no estadual para aquela menina que me soltava piadadinhas porque eu não era magrinha como ela. A solidão neste dia doeu. Aprendi a ser sozinha trancada no meu quarto, ouvindo o que eu gosto de ouvir, lendo o que eu gosto de ler. Aprendi a ser sozinha me dando prazer. Aprendi a ser sozinha viajando, correndo, falando, sozinha. Rá também aprendi com as futilidades, nas horas vagas que não tinha com quem brincar, conversar, beber. Aprendi a ser sozinha me decepcionando com as pessoas e jurando em lágrimas diante do espelho que nunca mais ia acreditar em ninguém e, quando menos esperei, me flagrei sorrindo sozinha por estar acreditando mais do que deveria em todo mundo. Aprendi a ser sozinha nas dores de amor. No medo do novo amor quando está chegando e no desespero do ex amor quando está partindo. Aprendi muito com a solidão acompanhada. Com a solidão durante o abraço, durante o beijo, durante. Aprendi que a solidão não tem nada a ver com a multidão de quem se tem ao redor e sim com a presença única e insubstituível de quem se tem distante. Aprendi que muitas tardes ensolaradas não me valeriam de nada se o outro dia não amanhecesse. Aprendi a ser só sendo amada, quando soube que o meu amor deveria ser independente do amor do outro. Aprendi a ser no silêncio, no barulho. Na falta de companhia no leito do hospital. Aprendi a ser só nas melhores situações. Nas piores aprendi. Aprendi tanto a ser só que tem horas que me abandono e nem me sinto falta. Aprendi e ainda me sinto. Mas sei sentir. Só.