Não dou dos pés e me levanto. Demoro pra dormir, demoro pra acordar. Sempre foi assim. Lembro que quando era criança – e, já escrevi várias vezes sobre isso – morávamos na casa da minha avó e eu ficava contando as telhas no teto e imaginando várias histórias olhando aqueles quadradinhos de madeira marrom e as telhas antes de dormir. Acordar para ir ao colégio era um processo de longos cochilos no sanitário, na cama após o banho, no carro e nas primeiras aulas.
Eu gosto de tetos. O preferido foi o da adolescência entre 15 e 19 anos, meu quarto era cor de rosa e tinha umas estrelas, planetas e luas fluorescentes no gesso que quando apagava as luzes elas brilhavam como se fosse o céu. Eu chorei os meus amores da adolescência ouvindo rock progressivo, lendo romances, escrevendo diários e imaginando várias histórias olhando aqueles plásticos luminosos de neon.
Quando os amores da adolescência entram na fase adulta é um problema, principalmente porque os tetos não são mais os mesmos e a gente teme o tempo. Não há prazer sem dor e ninguém morre nos braços que aprendeu a amar. Não é o primeiro amor, nem o segundo, a consciência do amor – vou chamar assim que é mais leve – se dá do terceiro amor em diante, não importa se você tem 18 anos ou 81, depois do terceiro amor o coração está calibrado a não conseguir ficar sem amar. É verdade. Sente-se a necessidade da ardência, do prazer e da dor.
Tentei explicar isso para uma amiga que terminou um longo relacionamento com o “primeiro tudo” – como ela diz, tentando explicar que ele foi o primeiro namorado, o primeiro noivo, o primeiro homem, enfim, essas prioridades que a gente dá tanta importância e deixa de viver novas intenções.
Pedi para ela entender que ele também foi o primeiro marido, o pai do primeiro filho e que isso era ótimo, porque ela poderia ter um segundo marido, quem sabe um terceiro e ter outros filhos e casar e descasar quantas vezes ela achasse que deveria.
Brincadeira, eu sei que não é tão prático assim. Afinal, se permitir ser feliz não é fácil. Mas, isso é outra história. Não entendo porque sou a Gestora de Relacionamento das minhas amigas. Sempre que elas estão em estado de desespero e o assunto é amor, a terapeuta sou eu. Por quê?
Não sei. Só amo paredes inteiras. Não tenho a menor moral para amar. Amo sem manuais. Sem passado, sem futuro. Sem mundo ao redor. Sem programação. E, derrubo todos os tetos depois de todo aquele estado de demência e overdoses seguidas por torpores medonhos, quando acordo, não é outro tempo entre maio e abril, nem muito menos entre dezembro e janeiro.
Se eu tivesse a tendência equilibrista e a vida sentimental padronizada como a da minha amiga, amaria pela terceira, quarta, quinta vez o mesmo homem. Faria tudo para reconquistá-lo. É tão mais fácil quando se conhece os limites, os (des) limites, as fraquezas, as fortalezas do outro. Apaixonar-se pela mesma pessoa em várias fases da vida talvez seja a melhor forma de amar - desconfio.
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