Li numa edição do Jornal de Hoje uma abordagem charmosa sobre o 'câncer na alma' expressivo e observador vindo da coerência da escrita do jornalista potiguar Vicente Serejo. Já tinha lido algo antes sobre o tema que dita comportamentos de agressão, inveja, ansiedade, depressão como sintomas, mas a crônica do jornalista intitulada de "Pior que a inveja" vai além contextualizando que "o ingrato é capaz de tudo". E é.
Cito o texto de Serejo como referência e indicação para quem não leu procurar ler. Não vou falar das pessoas ingratas pela oportunidade de um emprego bom, de um presente caro, de um reconhecimento profissional, porque agradecer alguém que nos ajuda diretamente em alguma conquista é tão importante quanto cuidar de quem você cativa. Eu quero falar da gratidão dos pequenos favores, nos pequenos gestos. Da disponibilidade, da atenção, do 'obrigado'.
Um 'obrigado' a pessoa que pastora seu carro, que lava sua roupa, que entrega seu livro, que traz sua correspondência, que passa sua ligação, que tem atenção por você custa tanto quanto um sorriso e tem um valor interno incalculável. Que mal há em tratar bem? Em ser educado?
O "câncer na alma" de Serejo e o Câncer da medicina, esta doença que contamina e corrói que fazer crer e desacreditar de tudo, que desabrocha tão veloz que quando diagnosticada, muitas vezes é tarde demais, só tem em comum a forma que ambas acabam com a vida de uma pessoa, a forma que dilaceram os sonhos e fazem dos grandes castelos pequenos grãos.
Os pacientes que sofrem do câncer da medicina lutam pra viver. Lutam por sair da cama, sair da quimioterapia, mudar a realidade, acreditam no tratamento, acreditam na cura, acreditam que podem ter três dias de vida, três meses, três anos, mas que podem viver os três minutos que restam como se fossem três milênios. Os pacientes com câncer na alma só acreditam neles. Na verdade deles, na inveja deles, na autonomia deles, na autoridade, no altruísmo. O câncer da medicina pode ter cura, mas o da alma, não. Porque o ingrato e invejoso é anti-tratamento, se diz amigo e solidário invés de inimigo e solitário.
Se um dia for me dada oportunidade de ensinar valores aos filhos que ainda não tenho, certamente hombridade e respeito pelos outros serão prioridades como foram na minha educação, mas do que qualquer outro valor. Tanto quanto a capacidade de perdoar, temos que ter a capacidade de amar, de doar. Escolhi seguir uma profissão onde o ego reina mais do que o talento, onde o dinheiro vale mais que o reconhecimento, e se eu conseguir trabalhar sem ser contaminada com isso, minha escolha terá valido a pena, terei feito a escolha certa.
Não podemos perder a integridade de espírito, não podemos deixar que atos como: estender a mão ao próximo, ajudar a quem precisa e ser honesto, virem notícia por ser raridade.
Quando vamos acordar para igualdade? Quando vamos ser leais com nossas essências? Quando vamos recuperar nossos valores? Quando vamos lutar pela verdade e voltar a ser íntegros nas coisas de espírito até as últimas conseqüências?
Vamos trocar o clichê "a esperança é última que morre" pelo "a esperança dança". Para agirmos mais rápido e não deixarmos que os fatores nos entoem no lugar dos valores.