sábado, 29 de outubro de 2011

Moço,
Quantas estrelas eu perdi pedindo você...
Poderia ter feito outro pedido as estrelas?
Perdi muitas estrelas pedindo você...
quantas estrelas cadentes foram desperdiçadas por um pedido irrealizável?
Por meu desejo inatingível, além do seu desejo.
Eu viro uma coisa feita de luz e sombra,
Uma estrela.
Agora eu sou estrela?
Raio?
A estrela cadente que caiu, foi parar no fundo do mar?
Sempre imaginei que as estrelas caiam do céu direto pro fundo del Mar.
Mar.
Quantas estrelas ainda rasgarão o céu?
Quanto esse desejo ainda rasgará o meu peito?
Amar.
Foi pensar em você
Passou uma estrela.
Caiu no Sertão.
Um pontinho luminoso a menos raiando no céu e iluminando o chão.
[...]
Pedi ao Mar,
Um amor que nem as estrelas deram.

domingo, 23 de outubro de 2011

Contou os dias

“Eu também estava com saudades”

Contou os dias até que ele voltasse. Marcaram de se encontrar no apartamento dele. “Amanhã, no local do crime. Mesmo horário da última vez.” Não se atrasou. Arrodeou o quarteirão duas vezes para ter certeza que ninguém ia vê-la chegar, esqueceu-se que havia sempre alguém fumando cigarros ou pendurando bandeiras nas janelas dos prédios em dias de futebol.

A volta ao inferno pessoal.

Chamou a campainha, chamou o elevador. Subiu. Elevadores (com espelhos) eleva dores (sem espelhos) - sobem mais lentos. Parece que não descem. Retocou o batom.

A porta estava entreaberta.

- Esse seu vizinho nerd só ouve The Notwist.

- Outro dia você disse que gostava.

- Gosto. Coincidentemente dessa ‘one step inside doesn't mean you'll understand…’

- The devil is lurking in the shadows... (respondeu saindo do banheiro segurando a toalha com a mão esquerda e sacudindo os cabelos com a outra.

Se beijaram aflitamente. Ela puxou a toalha e saiu jogando as coisas pelo caminho. Os sapatos ao pé da porta, a bolsa na mesa da sala, os brincos, o relógio e as roupas no chão. Transam ali mesmo, em cima do tapete da sala. Caindo pela quina da mesa e apoiando os corpos nas cadeiras. Ela pula em cima dele e fala o tempo todo das angústias, dúvidas e medos que sente quando não está ali. Ele responde despretensioso entre uns e outros “não para...” “ai como é bom” “gos-to-so, assim, vai, vai, ai ai ai...”

Gozaram.

Ela suspira e se joga no tapete, esticando a mão para pegar uma cerveja - já quente - que ele deixara sob a mesa. Dá um gole alisando o peito dele e sussurra no ouvido: Delícia.

“Você consegue ficar ainda mais linda suada e vermelha enquanto goza.”

“Quer ver de novo?”

Beijaram-se e recomeçaram. Excitaram-se novamente. Ele em cima agora. Prestes a enrijecer o véu. Pegando os cabelos dela por debaixo da nuca e beijando o seu corpo delicadamente como se escolhesse o perfume de um rosa em meio aos seus pelos. Sentam. Abraçam. Sorriem. Gozam outra vez. Aliviados.

“Volta amanhã?”

“Nos falamos” – ela responde erguendo o corpo e dirigindo-se ao banheiro e já volta de calcinha e sutiã abotoando os brincos e arrumando os cabelos. Checa o celular dentro da bolsa e abotoa o vestido enquanto ele traz o computador pra sala e senta com ele no colo nos três lugares do sofá.

Despede-se com um beijo na testa. Nada mais fraternal e sincero.

“E amanhã?”

“Manda um email, uma sms, uma dm, uma indireta na timeline...” (risos)

Abriu a porta. Chamou o elevador. Olhou para a fechadura do apartamento vizinho. Térreo. Retocou o batom.

Tinha estacionado na vaga de deficiente físico em frente ao prédio. Ele gargalhava da janela.

Checou o celular no semáforo do quarteirão seguinte.

Um recado: Tomorrow is a long time e o link do Bob Dylan.

Não mais se falaram; e amanhã ela não voltou.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A mulher que eu queria ser

Queria ser meiga e discreta. Repito isso quase que constantemente aos meus amigos homens.


Sacam aquelas mulheres que entram num ambiente e saem sem ninguém dá conta? Elas geralmente são magras e altas, usam roupas folgadas, coisas no pescoço, sentam a mesa do canto, pedem uma Martini Rose, alguma entrada light e tudo que falam é com os olhos. Se gesticulam os lábios, é na hora de direcionar o copo à boca.


Outra semana fui jantar com um amigo, ele queria me apresentar a namorada. Nos encontramos num restaurante, tomamos 2 garrafas de vinho até eu descobrir com o que ela trabalhava. Ela era dessas mulheres misteriosas que sabem o que querem da vida e onde estará a exatamente 987 dias, 22 horas e 30 segundos, caso não aconteça uma fatalidade.


Eu não. Vivo perdida me perguntando o que estou fazendo aqui. Traço metas de desejos até que o desejo se acabe. Ou realize.


Tenho uma multidão de amigos. A maioria homens. Não passo despercebida nem na fila de espera do banco com a ficha 107. Sou espalhafatosa, falo alto, dou gargalhadas, me lambuzo de sorvete feito criança, bebo vodka e embriagada ou não, converso muito, algumas horas e você já sabe minha vida inteira. Pois é, prefiro falar de mim a falar dos outros. Não que minha vida seja interessante, não é, mas sei mais ao meu respeito.


Esse estereótipo da mocinha virgem que não fala de sexo e não tem orgasmos múltiplos não saí de mim.


Vez por outra me flagro imaginando como eu seria recatada e imediatamente adiciono o rótulo de frigida a minha imaginável imagem.


Sou original, não adianta. Não aprendi a me comportar, nem me esconder. Feminina. Pra fora. Pelo o tom da voz. Sou mulher.


Hoje almocei com esse mesmo amigo. Contei pra ele uma história que está me ocorrendo e afligindo o tempo todo. Ele prontamente disse “admiro muito você viver o hoje pra caralho. Se preocupa com a vida, mas vive com o botão de “fodam-se o que os outros vão pensar ligado”.


Na teoria dele gente assim parece que vive melhor, mas é só desligar o botão e a “mulher fuderosamente foda” como ele gosta de adjetivar se torna uma menina frágil e insegura ali, diante de um homem, de um prato de salada e de 100 ml de suco de limão.


Acho que me encontro mais quando estou perdida, como nesta fase morna em que nada acontece e ao mesmo tempo tudo muda.


Na rua, como nunca.


Estranha, como sempre.


Preocupada no máximo se vou encontrar algum homem charmoso pra escrever um texto quando chegar em casa bêbada.


Ou quando vou me envolver na próxima enrascada.


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Não me cuido porque não consigo estar inteira para quando te encontrar amanhã de novo.

Atravesso a rua desligada, dirijo falando no celular, pego resfriado, tomo banho quente antes de dormir, adoeço, tenho febre, bebo na rua e falo todas as besteiras possíveis para você vir cuidar de mim.

Não me cuido enquanto você estiver longe.

Não me cuido porque.

Nunca quis tanto alguém. Que cuidasse de mim.

Era e não. Estava e não.

Mas tinha vida, eu sinto no corte.

Tu sussurras, eu sinto faltar.

Meus sorrisos de menina se aninham num batom rouge de mulher.

Seus braços de homem estancam as dores de um sonho roubado dos meus.

O gosto do seu beijo ardendo a minha língua. O cheiro da sua respiração queimando os meus pelos e escorrendo o sabor do nosso suor. O cio do desejo se liquefaz.

O carinho da minha terra brota a imensidão infinita no horizonte do teu nome.

Não, não há com que preocupar-se. Este lamento é fraco e eu não sei amá-lo.

E ai, você manda eu me cuidar, mas nas entrelinhas eu só entendo te amo.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Sobre não aceitar os vícios,

Dou prazo de validade para alguns relacionamentos. É automático. Basta saber que um não respeita o vício do outro e já estou dizendo quanto tempo ainda durará.

Outro dia, um Tio meu fumante desde os tempos do cigarro Plaza, veio me confessar angustiado que não podia mais fumar porque a namorada nova não suportava cigarro.

Dias depois a conheci numa reunião de família. De cara, ele me reclamava de um lado que não podia mais sequer fumar dentro da própria casa, ela reclamava do outro o quanto ele fumava. O ritual dele me doía mais que o dela, porque ele contava triste que tinha que limpar até a piúba do cigarro nos aparadores e passar bom ar com pinho sol pelo menos meia hora antes dEla chegar ao ninho de amor. De repente a confissão virou discussão, eu no meio e eles dois se acusando. Sabem como funcionam essas coisas, né?! Começaram por causa do cigarro e terminaram porque ele tinha namorado a prima da vizinha dela há dez anos.

De repente me levantei e disse: 2 meses na pior e 5 na melhor. Justificando: se você é incapaz de suportar o maior vicio do outro, o que resta é chorar.

Durou 3 meses e 21 dias e meio até ele me ligar chamando pra jantar. Contou-me tudo que aconteceu nos mínimos detalhes. Não quis dizer que já sabia, sempre acredito que posso me surpreender.

Mas já.

É impossível manter qualquer relação quando não se aceita os vícios que o outro tem. Vícios não são costumes.

Lembro o relacionamento de uma amiga em que eles não suportavam os programas um do outro. A vida a dois funcionava na base do jantar duplo: primeiro você come sua carne e depois vamos a outro restaurante, do outro lado da cidade, comer o seu caranguejo que eu não suporto a catinga.

E lembro que quando o conheci, disse pra ela “ah, mas vocês dão tão certo. Parece que nasceram um para o outro!”. Mas não se entendiam durante a simples escolha do lugar para jantar porque não se aceitavam. Durou menos de 2 meses.

Meu Tio deixou de fumar tem 18 semanas. Ontem, encontrei a ex namorada dele com o atual namorado fumando cigarros. Um após o outro. Ainda não liguei pra contar. Sei o quanto é danado essa parte de descobrir que a pessoa faz com o primeiro outro que aparece o que jamais faria com você. Imagina quando é o que mais dizia detestar.

Namorei um Médico e vezenquando ele me ligava dos plantões e eu perguntava se alguém tinha morrido. Não tinha nada de engraçado, eu sei. Mas desgraçado é não se esforçar para fazer o outro rir. Terminamos porque tive a infelicidade de perguntar no dia que alguém tinha acabado de morrer. Mentira! Não ríamos um do outro. Ele não sorria nunca, e me levava a sério.

Faço de tudo pra aceitar o outro nos seus vícios.

É na fraqueza dele que reconheço o meu amor.