sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Eu queria morar nos seus abraços.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Coração Selvagem

Se você já leu qualquer linha daqui, já conversou comigo ao menos cinco minutos ou já me viu passar no calçadão, sabe que um dos meus principais vícios é a música. Sou movida ao som. Das cores, das vozes, das respirações, dos ritmos, dos versos, dos diversos silêncios.

É, eu sou daquelas moças latinoamericanas, sem parentes importantes, sem muito dinheiro no banco e claro, morando no interior, que cantam alto no carro, que atravessam a faixa de pedestre com o Ipod no ouvido, que começam a cantar gritando quando se empolgam na academia e que quando dá dos pés a primeira coisa que faz é ligar o rádio do quarto ou do computador ou da TV.

Minha formação musical, eclética, vem dos primórdios, herança paterna, materna, derna de quando tinha uma vitrola CCE daquelas de madeira na casa da minha avó, depois uma Gradiente, hoje uma Philips. Eu estou sempre assim, entre um samba e outro blues buscando novas trilhas sonoras para viver. Mas, um dia, há muitos anos atrás, minha mãe me pegou no colégio para acompanhá-la ao um show. E essa história, eu vou contar.

Lembro que quando entrei no Cine Cid (é, acontecia shows nos cinemas mossoroenses na década de... 90, eu acho), hoje Teatro Lauro Monte Filho, fiquei logo impressionada com a foto do artista que ia se apresentar - o nome, quase que eu não aprendo a dizer: Belchior. Aquele cara do Bigode igual ao de Vovô, dizia pedindo que mamãe colocasse o vinil dele na vitrola em cima da estante.

Fiquei quietinha o show inteiro, deveria estar no auge dos meus dez anos, mas eu nunca esqueço o jeito que ele subiu ao palco, deu boa noite, pegou o violão, ajustou o microfone e disse: agora eu quero tudo, tudo outra vez. Esta frase, especificamente, é a única que eu me lembro desse show. Depois, claro, fui aperfeiçoando o meu conhecimento da obra e coisa e tals.

Poderia citar dezenas de frases que me acompanham desde as madrugadas sofríveis trancadas na solidão do meu quarto, até a maturidade real de hoje, nas mesmas madrugadas sofríveis, na solidão de outros quartos.

Minha música preferida? Coração Selvagem. Desconfio até, que ele escreveu pra mim, depois daquele show. Se ele cantou? Se já existia? Não lembro. Prefiro pensar que foi pra mim.

Já tomei porres ouvindo Belchior, já cantei no chuveiro ouvindo Belchior, já escrevi declarações de amor com trechos de Belchior, já chorei um grande amor imitando Belchior.

Enfim, já deixei algumas camisas sujas de batom depois da sessão no cinema das cinco para realizar os versos de Belchior. Hoje, 26 de outubro, aniversário dele, um dos meus maiores ídolos musicais, li em algum lugar que ele anda esquecido. Por quem?

Não quero lhe falar meu grande amor, que o meu coração selvagem, continua...

A la Belchior: com pressa de viver;

De viver as coisas novas, que também são boas.


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Não é de mim que você se lembra quando ouve aquela música. Não é do vivemos. O que vivemos? Vivemos nada. Você não quer viver nada comigo. Não sintonizo mais o rádio naquela FM de Música Popular Brasileira, pra não ouvir sua canção de fim de tarde. Inclusive, quero saber se até o fim da minha vida todas as esquinas que não fomos me trarão a vontade de você. Outro dia estava com tanta vontade de te ver que antes de dormir me ajoelhei aos pés da cruz e pedi para sonhar com você. Ontem eu chorei. Chorei tanto. Um choro de alma. Um choro que vinha de dentro. Sentia um vento muito forte batendo nos sorrisos. Não era como o ar. Vezenquando a vida me dá pena. É. Tenho pena de ver as pessoas tentando ser felizes com quem não sabe nada sobre felicidade. Vezenquando eu me tenho pena. É. Tenho pena de mim porque quero fazer feliz quem não sabe nada sobre felicidade. Depois tudo passa e eu me revolto por ter chorado pelo o que não vale. Mas sempre o que me vale é o não conseguir conviver com quem me obriga a ser boazinha. Li no blog de um amigo que Saer certamente fumava. Lembrei imediatamente de mim quando quero ser má e resolvo fumar nos bares com aquele ar charmoso das mulheres francesas, um ar autoritário, despreocupado com a vida, um ar fingido de quem sofre versos em guardanapos de papel e sabe que viveu um fim de semana mau porque o nariz amanheceu sangrando na segunda-feira.

E ainda sangra. Tudo sangra. Tudo arde e queima aqui.
Sinta vontade de ficar,
estou sangrando.
(...)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Outro gole, por favor...

A vida é feita de diálogos. Fato. Uns dramáticos, outros românticos, uns apaixonados, outros vagabundos, uns impublicáveis, outros indescritíveis. Sei que outra tarde, uma Boa Tarde...

Me conte algo bom

Borges deixou uma obra maravilhosa.

Me conte algo que me faça rir

Sabe a história do pintinho que não tinha cu?

Me conte algo que me faça acreditar

A gravidade existe.

Me conte algo sobre mim

Depois de um gole de cerveja, você fica TARADA. Tarada por mim, é claro.

Me conte algo sobre você

Eu não presto, eu não presto...

Me conte algo que me faça chorar

Fernando Pessoa morreu aos 47 anos. Oscar Niemeyer continua vivo.

Me conte sobre sua música preferida

Não saberia falar sobre minha música favorita porque nem eu mesmo sei qual é minha música favorita. Poderia citar várias.

Me conte sobre esta tarde

Calor. E tesão, muito tesão.

Me conte algo sobre os livros

Livros são como o Aleph borgiano. Encerram todo o universo dentro de si.

Na verdade, me conte algo sobre as palavras

...


Daí foram tomar uma cerveja.


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A solidão me faz conhecer as coisas que me completam. A solidão me faz esbarrar em mim. De repetente, eu começo a notar que eu e a música, se tivermos um livro, uma vodka e um pacote de biscoito passatempo, nos bastamos. E começo a constatar que esta solidão pode acontecer numa noite de sexta-feira ou numa tarde de domingo sem diferenciar que dia é dia de que.

Estou doente. E observo melhor tal constatação quando estou sozinha. É quando estou sozinha que sou desleixo. É quando estou sozinha que me deixo. Que deixo o perfume destampado e a toalha molhada em cima da cama. Que não dou descarga no sanitário, nem dobro os lençóis. Ando nas livrarias, ando, ando, ando, como se aquelas estantes pudessem conversar comigo e o sentido real é esse mesmo, de que cada livro daquele me conte sua história.

Outro dia, outra tarde de sábado vazia, depois da aula, das enfadonhas aulas de comunicação, não, não, acho que nesse sábado em especial a aula nem foi tão enfadonha assim, teve uma discussão sobre crise em grandes empresas e foi, foi legal. Mas eu saí depois da aula sem rumo, como sempre sem rumo são os finais das minhas tardes e o inicio das noites. Saí. Sozinha. Não preciso de nada além de música, livro, vodka e um pacote de passatempo. Tinha o livro na bolsa, a música no Ipod, a vodka e o biscoito no bar da esquina. Caminhei.

A agonia das livrarias nas tardes de sábado me afastam. Sentei no café. Alguém tinha esquecido um livro na cadeira. Gostei do título. Da capa eroticamente sugestiva para uma noite de sábado. Antes que eu esqueça, o título: Cerimônia da Sedução. O autor? Cassie Ryan. Não sei se Americano ou Europeu, sei que eu, nunca tinha ouvido falar. Não é um romance de grande primor, não é um livro que tenha grandes citações ou que nos deixe com a sensação de que “o cara que escreve coisas assim é genial”, mas tem uma frase. Aliás, tem um diálogo genioso. Que segue assim:

— É um homem teimoso, dominante, insofrível, e chia os dentes enquanto dorme até o ponto de que muitas noites gostaria de matá-lo. — Sorriu e seus olhos brilharam (…) — Mas também é meu melhor amigo, e o quero com todo meu ser. Além disso, perdoa-me meus costumes mais desagradáveis e, apesar deles, quer-me. — encolheu os ombros e continuou a falar.

É abstratamente concreto.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

As mesas dos bares têm sido os melhores lugares que eu tenho sentado ultimamente. Melhor do que a minha cama, melhor do que as cadeiras do trabalho, melhor, mais muito melhor do que a cadeira do divã do terapeuta.

Gosto de mesas mistas. Homens, mulheres. Gays, héteros. Brancos, pretos, mulatos, índios, lindos, com a pele macia – oxum. Mas eu não vou entrar no Samba da Bênção de Vinicius e Barden apesar de que as mesas dos bares que apesar dos pesares, me trazem você - serem um verdadeiro altar.

Pois bem. Outro dia, estava eu, numa mesa de bar, lá pela madrugada de uma terça-feira, lá pela 6° dose de vodka, lá pela 20° pauta. É, porque mesa de bar não tem concordância nominal, verbal, ideológica, moral, nem porcaria nenhuma. Mesa de bar é uma discordância de conclusões desclassificadas e, só. Aí, vezenquando aquele amigo que você não tem muita intimidade, leva outro amigo que você não tem intimidade nenhuma que leva uma amiga inconveniente. Daí, você, que já tem por natureza, uma intolerância e uma impaciência com a burrice inconveniente é escolhida para vitima de ataque.

Enfim, estava eu, numa mesa de bar, lá pela madrugada de uma terça-feira, lá pela 6° dose de vodka, lá pela 20° pauta. Quando a amiga inconveniente do amigo do amigo que eu não tenho muita intimidade interrompe um assunto sobre a legalização do diploma de jornalismo para me fazer uma pergunta bastante pessoal e inconveniente.

Nunca me intimidei em responder absolutamente nada. Nem sobre o que eu penso, nem sobre o que sinto, nem, nem. Até quem não me conhece sabe: my life is an open book.

Nunca fui de viver preocupada com o que os outros pensam e devo frustrar muitas expectativas porque sempre fiz o que eu queria fazer. Enfim, eu sempre mandei pro cacete o que eu tive vontade de mandar e sempre trouxe pro meu colo o que eu quis amar.

Só que um detalhe eu zelo: o respeito e a confiança da minha mãe. Com o que ela pensa, eu me preocupo, e acho bacana, sabe? Porque mesmo quando eu tomo uma decisão contra a vontade dela ela sabe respeitar de uma forma confiante e apoiadora. E essa confiança, conquistada dia a dia dada pela segurança de sempre dizer a verdade e ter agüentado firme as decisões erradas é que eu temo perder. Engraçado, que enquanto minhas amigas viviam o drama do medo da mãe descobrir que elas tinham perdido a virgindade, eu morria de rir porque pra minha, eu contei.

Apesar de toda discrição que procuro viver sei que de certa forma as pessoas aumentam o que vêem. E eu temo quem distorce verdades. Temo porque eu cresci. Temo porque eu mudei. Temo porque ela não me espera mais acordada. Temo porque eu viajo na sexta volto na segunda e ela só me liga pra dizer que o quarto está vazio. Temo porque ela sabe que dentro de alguns dias eu vou morar sozinha e ela vai perguntar se eu tranquei a porta. Temo porque ela sabe que eu sei que a vida não se resume mais a barra da saia dela.

Mas não era sobre isso que eu queria falar. Minha relação com minha mãe é coisa de filme. Ela é minha melhor amiga. Eu sou a melhor amiga dela. Eu queria falar que cansei dos padrões que as pessoas precisam seguir pra viver. Cansei dos sinônimos da felicidade.

Porra.

Não está escrito na minha testa que eu sou uma pessoa de bem com a vida e feliz? Que nos dias de tristeza, solidão e depressão eu fico em casa ouvindo samba, rock, jazz, blues, escrevendo e enchendo a cara da primeira coisa que eu encontrar na frente seja doce, seja álcool, seja verbo, seja carne. Que eu corto os pulsos só pra provar que a dor não é mais forte do que eu. Que eu não derrubo o dia de ninguém e, se isso acontece é porque às vezes acordo com instinto mal mesmo e tenho vontade de ver todo mundo convalescendo. Inclusive, eu.

Mas que besteira eu tô escrevendo. Que arrodeio bobo para dizer que eu tenho preguiça de perguntas idiotas que vêm com afirmações embutidas nas entrelinhas. Aliás, tire o entre de todas as linhas.

A pergunta, né?!

Outro dia vi sua Mãe num desses programas matutinos da Tv falando sobre família. A repórter mandou lembranças pra você e perguntou se você já tinha casado e quando chegava o netinho. Ela ficou bem sem jeito pra dizer que ainda não. Ai foi tão engraçado. Você não vai dá um neto pra sua mãe não, mulher?

Primeiro, ela deve ter ficado sem jeito porque era uma pergunta pessoal sobre a minha vida que, com absoluta certeza ela não se achava jamais no direito de responder.

Segundo, minha resposta?

Ah, deixa pra lá, vai empobrecer o texto.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

as cores têm som

Sobre o dia das crianças

Ainda posso sentir o cheiro da comida da minha Avó flutuando como sonhos pela casa. Ainda posso ouvir a voz da minha Mãe no auge dos seus vinte e pouquinhos anos cantando músicas de liberdade e nostalgia. Uma saudade de olhar que eu tive que conhecer o amor para entender. A coleção de bonecas, a bicicleta cor-de-rosa, o Topo Gigio na TV, a Bia Bedran cantando cantigas de roda a tarde inteira enquanto eu cabia direitinho no colo do meu Avô e dançava, dançava, dançava como se o piso de cimento verde fosse um linóleo com impulso de trampolim. O leite com achocolatado, o pão com bife.

Eu tive tudo que o amor pode ter. Eu tive os passeios no zoológico, eu tive as lições de dignidade nos bancos de praça, eu tive a casa na árvore desenhada no giz de cera, eu tive os sonhos das princesas nas coleções literárias. Eu tive as melhores festas de aniversário com tema de coelhinho, eu tive todos os vinis da Xuxa, da Mara Maravilha, do Trem da Alegria, tive os amigos de rua, tive a liderança dos grupinhos no Colégio.

Eu tive sorte? Não sei. Prefiro dizer que tive amor. Amores. Admirações oriundas do privilégio de ter sido a primeira – filha, sobrinha, neta, dos dois lados, dos dois métodos, dos dois jeitos.

O que a vida me roubou em dor, sempre me devolveu em alegrias. Sempre me compensou a perda de um amor, com outro melhor. Acho que ela, a vida, sempre se preocupou em me apresentar soluções de sucos Gummy para preencher qualquer vazio.

Mas não era isso que eu queria lembrar. Não eram das perdas, nem dos sofrimentos que atormentaram minha infância. Eu quero lembrar os limites impostos, as palmadinhas merecidas e os castigos pagos que, eu sei, doíam mais na minha mãe do que em mim.

A consciência da realidade, os dois pés firmes presos ao chão. A viagem à Disney que ela nunca pode me dá e que hoje, graças a outras prioridades que ela me deu, eu posso ter. A liberdade, a independência. Trocar o almoço pela sobremesa.

A confiança.

A confiança dos nossos pais que a gente conquista na infância. O soltar de mãos. O correr pro abraço. O deitar no colo. A confiança do amor maior que o ciúme do irmão mais novo.

Só por isso, eu tomo a decisão de nunca querer crescer.

De sempre perder a hora, de falar alto, de gargalhar, de brincar na areia, de não levar a vida a sério, nem dar as perdas da vida as devidas proporções que elas querem merecer.

De não lavar as mãos para almoçar, só para ouvir: levante! Vá lavar as mãos.

Eu vivo. Talvez errado.

Dias extremos. Dias Intensos.

Dias de criança.