sexta-feira, 29 de julho de 2011

Diário de Bordo - Parte I

Os girassóis se levantam para o sol, não há nuvens no céu, os pássaros cantam no viveiro, vontade de soltá-los. Se pudessem me carregar em suas asas. Se eu coubesse na sua janela. Se conseguisse rasgar o céu sem escalas. Um mar do sul da china dentro da mente. Alguém me conte como está o Mar hoje. Está impaciente? Esta calmo? Não me falem do Atlântico. O Atlântico eu posso ouvir daqui. Quero saber da imensidão do Pacifico, das suas desaguações. À noite as constelações nos guia por onde devemos dirigir o barco da alma. Meu corpo pagão ainda está morto, chapado, doente. Adoeci. Estava desprotegida de anjos. Os anjos não experimentam este lugar - este arvoredo morto. Paraíso de inferno. O quarto ainda cheira a madrugada bebida comida dinheiro sexo - amor de verdade é injustiça. Pés sujos de areia insólita. Às vezes moça, às vezes velha. Sinto-me despida de todas as minhas qualidades, sinto-me pobre com meus próprios caos, quebrem os espelhos, não consigo me olhar nos olhos. Não há ilhas. Não há salvação. Hoje eu vou me acompanhar sozinha. Repensar a felicidade. Quero conhecer as carícias baratas do mundo. Quando eu acho que é verdade o que resta é melancolia, decadência, dejetos. Minto que estou bem. Pela primeira vez não consigo conciliar. Não consigo equilibrar as razões. Perdi a vontade de trabalhar, tenho medo quando o telefone toca, medo de que não amanheça quando o sol se põe. Tem horas que eu sinto um barulho estranho, principalmente no silêncio, barulhos de asas se debatendo. De anjos e demônios brigando no ar. O céu está tão baixo que eu posso alcançá-lo no chão. Mas eu não quero nada. Eu não preciso de nada se você se importar. Eu ligo o som. Quero falar de amor até que o amor desgaste.

[diário de bordo, em alto aMar, olhando para os escafandros e prestes a naufragar]

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Sobre escovar os dentes,

Esta semana dormi na casa da minha melhor amiga. Ela sempre levanta primeiro porque demora mais com esses negócios de maquiagem, cremes, hidratações e além do mais tem o cabelo super comprido e leva pra penteá-lo, o tempo que eu levo para tomar banho e me trocar.

E eu não molho os cabelos de manhã cedo como também não tenho fome. Meus rituais de beleza são poucos ou quase nenhum, comparados aos da minha melhor amiga. Temos a mesma idade. Quer dizer, sou mais velha três meses. Nasci no quatro e ela no seis e assim, vamos levando a vida, eu ficando mais velha primeiro e ela me alcançando depois.

Mas para não me dispersar, volto para os rituais de beleza, os dela, porque já falei que os meus são quase nenhuns. Não sou noiada com essas coisas de corpo (neste aspecto, claro) nem de beleza. Não tenho alimentação saudável, até porque nunca sei quando, como e onde vou comer e sempre que a atividade física começa a dar resultado, eu largo. Apesar de que, acho que ainda não contei pra vocês, que estou na Ioga – mais por uma questão de busca pelo equilíbrio espiritual do que pela busca de um corpo escultural. Afinal, daqui uns dias serei uma Balzaquiana e a cabeça, ombro, joelho e pé, sentirão mais minhas estripulias.

Mas esses dias, compartilhando com minha melhor amiga o espelho do banheiro, vi que levo pra escovar os dentes o tempo que ela leva para passar pó, sombra, rimel, delineador e blush – é, ela faz maquiagem completa às 7:18h da manhã. E nem precisa, porque é linda de dá abuso.

Eu vi o quanto eu demoro escovando os dentes. De verdade. Adoro escovar os dentes. Começo pela parte das bochechas, depois os dentes superiores, depois os inferiores, o céu da boca e principalmente a língua. Com a língua, eu tenho até um tratamento especial. Escovo com mais força, esfregando bem, todas as partes, até arder, para depois, tirar todo o excesso.

Escovo a boca várias vezes durante o dia. A higiene bucal é importante. Associada ao creme dental, a escova dentes e suas cerdas de náilon [que antigamente (pasmem) eram feitas de pelos de porco ou de cavalo] higienizam a boca por onde entram ou saem todos os fungos, bactérias e alimentos que nos habitam. Por onde saem, as palavras, todas, tudo o que a gente diz. Reparem como o sentido é até poético: o amargo, o ácido, o unami, o doce e o salgado das papilas gustativas que estão na língua e toda sua função na formação dos fonemas da fala. Daria um bom tema de dissertação acadêmica.

Gosto de escovar os dentes. De esfregar bem a língua. De lavar bem a boca.

É a forma mais saudável de exorcizar o que a gente se arrependeu de dizer.