terça-feira, 6 de março de 2012

Mais uma partidinha e ambos vão perder desta vez. Só me ocorre àquela canção, como é mesmo? “Começaria tudo outra vez, se preciso fosse, meu amor...” mas com nós dois vai combinar “sempre acabo em teus braços na hora que você quer” ou todo o repertório de Nara Leão que deve ter recomeçado no iTunes pela madrugada inteira porque o amor é sempre tão repousante que adormece. E ninguém acorda mais pra ir embora. O fuso horário matinal se alinha sem problemas de desencontros porque não temos pressa. Tanta loucura para descobrir escovando os dentes, ouvindo você alterar a voz enquanto lê alguma frase em francês, que quando se ama sério não é loucamente. E me grita em voz grave e respiração lenta para eu ouvir você traduzir o que o autor quis dizer. E eu sempre batendo de frente com a tranqüilidade. Sempre querendo ir embora, virando a mesa, abandonando o jogo, deixando você perder, fazendo tudo para ganhar. Sempre te acordando de madrugada e acordando querendo ir embora ao meio da madrugada sem lembrar nem como cheguei depois de um milhão de doses e depois de não querer lhe ver. E você me invocando em voz suave e respiração rápida ao pé da nuca, ao pé do ouvido e eu me negando nua às suas mãos dentro das minhas pernas e os pêlos do seu corpo nas minhas costas. Sempre acordando seu prédio, segurando o seu elevador, esquecendo meu carro na vaga proibida, dizendo que é a última vez, enquanto você prepara o café, esquenta as torradas, não me responde como eu cheguei e deixa o que eu quiser levar embora. Mas eu tenho tentado fazer o que você pede ficando um pouco mais e lavando a louça e deixando o carro em casa e até comentado com o táxi que não devo voltar amanhã de manhã. E você me manda sms perguntando “ainda demora” - nem me demoro a dizer que não vou e poderia lhe deixar esperando. Mas eu fico dividida e só me atraso provando que alguém pode influenciar o outro a qualquer coisa e me sinto feliz conversando com os seus amigos enquanto você fixa em mim olhando brabo virando pela terceira vez uma dose de uísque e me perguntando, sem falar, quando todos vão embora e se a gente vai namorar. Desvio o olhar. Vou embora lhe deixando sem saída. No meio do caminho você me liga e desliga antes d’eu dizer: te amo, sem planejar, eu te amo.

sábado, 3 de março de 2012

Sobre começar um novo amor...

Para Eduardo Magalhães (@edulhaes)

Começar um novo amor é como começar um novo livro. Não sei por que me ocorreu essa comparação outro dia. Mas é. Sei lá, mas sempre que começo a ler algo novo, tenho vontade de me apaixonar. Sinto como se estivesse começando um novo amor. E, pensando outro dia, quase sempre começo um novo livro junto com um novo amor. Foi assim da última vez. Acho que do começo pro meio eu li uns três livros, no fim, já não conseguia ler nada. Nem mesmo as mensagens que não vinham.

Notei que fazia essa co-relação quando ela me tomou de assalto enquanto conversava com uns amigos sobre Extremamente Alto e Incrivelmente Perto, de Foer, e lembrei que foi um presente com umas das dedicatórias mais lindas que ganhei escrita por ex- namorado. Com muitas pessoas isso acontece com música, comigo também.

Mas ler um novo livro é como começar um novo amor pela sensação de entusiasmo. Vezenquando termina bem, outro quando nem começa, é o meio que vai definindo e definhando tudo.

É como fazer o caminho mais longo só porque é mais bonito e a beleza nos dá aquela sensação de que tudo é possível. Ou até mesmo como acordar de manhã e coar o café no pano “porque existe uma arte de olhômetro para atingir a medida certa” – como sempre me ensinou Vovó ao pé da pia.

No amor, tem gente que também precisa de uma medida certa. Como coar café no pano. Eu não sei. É como se amar com medida fosse sempre trazer algum dano maior do quê deixar o café amargo.

Tenho um grande amigo, de infância, que tem tentado. Outro dia escreveu que está aprendendo a ser racional e menos romântico. Senti uma coisa meio Herbalife – Pergunte-me como?

Mandei ele aprender a coar café no pano. E logo veio a resposta “gosto de coisas solúveis, tomo nescafé”. E não seria solúvel o pó na água? Talvez seja mais fácil errar a medida.

Nunca vi uma pessoa que lê de verdade adiar o final de um livro. Guardar páginas pra amanhã com receio que o livro acabe é coisa de quem não lê.

Amar limitando o que o outro quer lhe oferecer é coisa de quem não dá.