quinta-feira, 16 de abril de 2009

Um bem que ninguém faz

Ingratidão é como ódio. Só dói em quem sente. É como a indiferença sem motivos óbvios. Engraçado é a gente perceber depois de um certo amadurecimento que na vida existem pessoas que não merecem ter nossa atenção quiçá o respeito ou admiração, pessoas que simplesmente não valem a pena.

No meu último aniversário uma amiga pediu espaço para falar algumas palavras sobre mim, e em meio a tantos adjetivos, alguns até que eu nem merecia, me chamou atenção quando ela disse “a forma com quê você se doa pras pessoas, seu jeito entusiasmado que sempre faz bem."

Ela me deu sem saber a resposta que eu mais buscava nos últimos dias. Porque tenho tanto apreço e consideração por algumas pessoas que não merecem se quer minha atenção? Sou uma otimista e sonhadora incorrígivel e tento ao máximo passar isso para quem está ao redor e, se eu não puder fazer o bem por alguém, eu não faço nada.

Tenho pensado muito esses dias. Já me flagrei várias vezes refletindo até ‘frases do dia’ daquelas vindas no biscoito chinês. Mas, enjoei de ser doce.

Ando me escondendo, é bem verdade. Sumida. Fechada. Propositalmente inalcançável. Só o tempo conhece o caminho, os atalhos, as brechas e todos os dias eu recebo uma cota de sol, de sabedoria, de carinho.

Desapeguei. Despojei. E a liberdade tem mudado discretamente o meu dia-a-dia.

Ela tem tido um parceiro forte que nesses momentos de faxina interior, fica parado na porta reclamando da poeira e botando defeito. Reclamando dos cantos, da sujeira em baixo do tapete, e sempre pisa onde acabei de limpar. Fica impedindo que a melancolia domine.

Engraçado que essa semana quando ia para o trabalho parei no sinal e li no pára-choque de um caminhão “Não repare a poeira que está a minha volta. Deus está em obras na minha vida.” É brega, eu sei, mas lembrei do lance da faxina, e as palavras têm sido minha cota diária de luz e ar no meio de tanta mudança.

O entusiasmado unido à liberdade exige que as coisas mínimas beirem a perfeição. E aos poucos tudo está ficando tão limpo e brilhoso como passar óleo de peroba na madeira. Um organizado desorganizado que eu entendo.

Só assim, conhecendo os cantos da alma, os lugares onde escondemos os segredos, é que podemos limpá-la. Não basta limpar o aparente, é preciso revirar e limpar quantas vezes forem necessárias. Abrir a janela algumas horas no dia pra entrar um pouco de luz e ar.

Essas faxinas fazem bem. Trazem paz. Limpam. Curam. Fortalecem.

Entusiasmo... Me faz um bem que ninguém faz.

Ele é um pouco de sol.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

(A) Migos

Olhe para a direita. Olhe para esquerda. Olhe a sua agenda de papel. Busque na sua agenda do celular. Nos contatos do e-mail, do Orkut. Se quiser, vá até Google. Concorde comigo: amizades acabaram.

As pessoas que eu mais tenho contato são as que convivo no trabalho diariamente, e na grande maioria delas, infelizmente, eu não posso confiar. Tenho um problema sério em conversar sobre coisas minhas com os outros. De mim, sempre ouvirão, que a vida está ótima e que as coisas vão perfeitamente bem.

Raríssimas são os dias que eu chego para trabalhar mal humorada, e mais rara ainda as vezes que trato alguém mal, respondo ou faço qualquer coisa com má vontade. Não tenho “duas caras”, não sou “de lua” e educação na minha casa foi ensinada até pras horas de mau humor. Tenho claro comigo o objetivo do meu trabalho, e mais claro ainda o que tenho e devo fazer nas seis, oito, doze, quinze horas que passo entre aquelas quatro amarelas paredes; além de respeitar as pessoas, claro.

A falsidade me ofende. Não gosto de ouvir comentários sórdidos, maldosos, irônicos e principalmente insinuantes sobre o que não se conhece, sobre o outro, sobre a vida do outro, e graças a Deus não tenho tempo de ficar nos corredores ou nas salas alheias comentando sobre fulano, sicrano ou sobre mim. Chego, faço o meu e vou embora. Hoje, mais do que nunca.

Nunca vou me acostumar com a forma que as pessoas analisam, interpretam, distorcem e concluem as situações. Nunca. Dissimular e gerar uma confusão de mal entendidos por um comentário de terceiros que acha que Maria tem um caso com José porque conversa com ele pelo MSN na hora do expediente, porque João sai pra almoçar com Josefa.

Não sei se devo chamar de sorte o que eu sempre tive. Mas eu consigo ficar verdadeiramente feliz quando algo de bom acontece com alguém. Consigo realizar-me com a felicidade dos outros, como consigo sofrer com a dor. Sou amiga de muita gente, mas não sei ao meu redor diário com quem posso contar.

Pobreza de espírito se extingue com nobreza de caráter. Não me junto com eles, me afasto com delicadeza, me afasto fazendo por eles.

Não me deixo igual. Pelas pessoas que querem derrubar, desorientar, colocar para baixo e destruir as relações, amizades e conquistas das outras eu só tenho a minha oração de penitência.

Dó. Piedade. Só isso.