segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A vida é de outro jeito. Estou vivendo errado. Sei lá, não parece primavera! Ou a primavera ainda não desabrochou em mim, mas existe uma fé que eu não sei explicar. Se ele já saiu? Acho que nunca nem esteve. Mas sempre que eu o abraçava fechava os olhos, como os apaixonados fecham os olhos no beijo. Saio pela cidade encolhida, repetindo tristemente todos os caminhos que fiz com ele, repetirei por toda vida. Achando graça e lembrando que nos apaixonávamos pelo o nosso riso. Toda raiva já passou. Já esqueci os discursos ensaiados na bebida e a lembrança das vezes que peguei carona no cheiro do cigarro. Fica tudo tão estranho quando não compartilhado nele. Mas ele não se importa, e eu sigo dançando je t'aime moi non plus com o disco desligado, em silêncio. Suportando a (in) paciência até o dia de abrir a alegria.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Entre quatro paredes

A verdade é que com o tempo os amores vão ficando repetitivos. A gente sempre espera o outro dizer “estou me envolvendo com você” e meio que sem esperar, no fundo, no fundo sempre espera um "estou me envolvendo com outra pessoa". Entre uns fins que envolvem decepções e outros que nem tanto, conversava com um amigo outro dia sobre a necessidade, na maioria das vezes masculina, de quase sempre se ter uma parceira além da parceira que se tem. Ou mais simples, essa necessidade quase fisiológica de alimentar traições que nunca vão se consumar – ou não.

Meu amigo vive algo parecido. Está alimentando um romance virtual com uma jovem que mora do outro lado do oceano. Ele casado, ela quase a ponto de atravessar o Atlântico a nado em busca da esperança do novo amor, a esposa provavelmente em casa, cuidando dos filhos ou no motel com um amante, porque hoje em dia, né?! Não se sabe... e assim eles se amam, nas ondas da internet, o dia inteiro mensagem vai, mensagem vem. A cabeça dele está trabalhada [essa capacidade masculina em trabalhar a cabeça - do pau] para não se envolver.

Desconfio das declarações dos homens, mas acredito neles. Não tenho reclamações a fazer - os amo, os devoto, os admiro, os quero. Passarei minha vida inteira dormindo nos braços masculinos cercada de promessas que talvez não durem até eu chegar em casa e ele está trocando mensagens com outras. Os homens vivem a melhor fase do seu apogeu, mas estão carentes de amor intenso e seguro porque as mulheres não fazem (nem aceitam) mais tudo por eles.

Tenho uma amiga que deu um pé na bunda do namorado de quase dois anos e ainda se vingou com as provas desmoralizando-o diante da família. Achei justo. Depois, ele veio com o papo que “isso nunca aconteceu antes, nunca tive nada com ela, te amo...” Confiança quebrada, quem quebrou é quem perde. Daí coitado, deve tá penando nos braços de qualquer uma que amanhã estará com qualquer outro.

Não se fazem mais canalhas elegantes como antigamente. Só lamento. Os homens nem trair sabem mais, então as mulheres perderam a vontade de perdoar, partem logo pra outra.

Culpa do amor fácil, divulgado, rasgado e declarado nas colunas sociais, nas redes sociais. Quem está feliz no amor, está ocupado vivendo-o intensamente na intimidade e não sentindo a necessidade de provar pra si qualquer coisa e pouco se importando com os outros.

Sou defensora absoluta do amor clandestino. Em segredo. Discreto, a dois.

Sempre vivi meus amores assim, em quatro paredes.

Gosto da intimidade porque sempre desconfiei dos sentimentos declarados em qualquer lugar que não fosse ao pé do ouvido.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Nossa estupidez,

Conheci Frauzi Arap por causa do Samba numa tarde solitária de final de semana no Dragão do Mar. Faz uns anos. Acho que 10 ou 11. Na época, eu estava em Fortaleza para prestar Vestibular e etc daí ouvi falar em "O mundo é um moinho" e quase fiz teatro. Só que me apaixonei e a comunicação me salvou (ou não), mas acabou dando uma mudança no roteiro. Voltando a Frauzi Arap, ele continuou sendo trilha textual de muitas fases. Daí ontem, eu lembrei de "O mundo é um moinho", lembrei que ainda dá tempo de fazer teatro e tentar definitivamente decorar estes versos:

E eu tenho que gritar isso
Porque você está surdo e não me ouve
A sedução me escraviza a você
Ao fim de tudo você permanece comigo
Mas preso ao que eu criei e não a mim
E quanto mais falo sobre a verdade inteira
Um abismo maior nos separa
Você não tem um nome e eu tenho
Você é rosto na multidão
E eu sou o centro das atenções
Mas há mentira na aparência do que eu sou
E há mentira na aparência do que você é
Porque eu não sou o meu nome
E você não é ninguém
O jogo perigoso que eu pratico aqui
Busca chegar no limite possível de aproximação
Através da aceitação da distância
Ou do reconhecimento dela
Entre eu e você
Existe a notícia que nos separa
Eu quero que você me veja nu
Eu me dispo da notícia
E a minha nudez parada
Me denuncia e te espelha
Eu me dilato
Tu me relatas
Eu nos acuso e confesso por nós
Assim me livro das palavras
Com a as quais você me veste.

[Fauzi Arap]


Sobre 'o mundo é um moinho':