terça-feira, 29 de junho de 2010

Prefiro os Pássaros

Tenho que perder essa mania de achar que vivi tudo que escrevo. E, de principalmente usar o backspace e fugir do que deveria escrever na verdade. Tenho mais é que controlar o que eu sinto do que tentar controlar essa fuga do que eu tenho medo de sentir.

Como se eu pudesse evitar os meus pensamentos e esse jeito de sentar numa mesa para tomar um vinho e me apaixonar de repente como se a paixão fosse a única coisa necessária para que eu tenha pulso e coragem de viver amanhã.

A casa está quente como o meu corpo. Tenho vivido grandes dias. Tenho aprendido eternidades nas madrugadas. Tudo é muito inquieto e estranho. O meu porteiro, que sempre foram os pássaros do viveiro que enfeita a área da casa da minha mãe, hoje é um cara estranho, chego em casa às 5h da manhã e ele me olha fazendo acusações estúpidas com o olhar. Mal sabe ele da minha capacidade de ler retinas. Bobo.

Aliás, os pássaros do viveiro lá de casa são os mesmos há quase dois anos, por mais que eu viaje e passe meses fora, eles são os mesmos quando eu volto. O porteiro, não. Passei uma hora no shopping da esquina e quando voltei já era outro. Sorri sozinha e ele deve ter concluído que eu sou “doida”. E sou. E desconfio de quem não seja.

Sensações daqui

Não me sinto sozinha aqui. Talvez pelo o barulho dos carros, a internet, as luzes por toda parte, a quantidade de amigos que fiz e as programações divertidas que eles fazem pra mim e fazem questão de fazer comigo.


Praia. O som que as ondas fazem. A energia que as estrelas trazem. Esse compromisso descompromissado que as pessoas que vivem aqui têm. Esse calor que não é abafado, essa brisa que é fria. E esse céu. Poxa, e esse céu. Eu quero casar com esse céu.


Com essa paz impar e essa sensação de liberdade que as ruas me trazem. As esquinas, não. As esquinas só me trazem seu olhar. Só acho que vou te encontrar no próximo bar, no próximo congestionamento, na próxima página.


Sempre as palavras. O tempo se tornou uma vítima dependente das minhas carências estúpidas e, por conhecer tão bem as palavras e as mentiras me domina, de dia e de noite. E conhece os segundos, e sabe que passam, eu tenho certeza que não.


Reféns.


Mesmo refém não vai me render. O tempo.


É só uma história. Nem eu, nem ele, nem ninguém vai morrer por causa disto.

terça-feira, 22 de junho de 2010

"O Contrato do Casamento"

O email caiu na caixa de entrada com a mesma naturalidade dos mais de cem releases, correntes, mensagens, notícias e problemas diários que caem todos os dias. Confesso que o que me chamou atenção não foi o titulo do email: O Contrato do Casamento, mas sim, o remetente que me enviou.

Pulei do cabeçalho “Casamento é o compromisso de aprender a resolver as brigas e as rusgas do dia-a-dia de forma construtiva, o que muitos casais não aprendem, e alguns nem tentam aprender" ao rodapé “Ponto de vista: Stephen Kanitz (Revista Veja, Edição 1873 . 29 de setembro de 2004”.

Fui ao Google me informar melhor sobre quem é Stephen Kanitz. Antes de ler qualquer linha, a fotinha que apareceu me ligou imediatamente o nome a quem é a pessoa. Acho que até hoje, ele publica artigos quinzenais na Veja, geralmente sobre economia. É um cara analítico e cheio de margens percentuais. Não gosto.

Abandonei o texto na caixa de entrada há mais de duas semanas. Hoje, digitei na busca do email “contrato”, procurava um email de trabalho com um contrato de trabalho e eis que entre as dezenas de resultados, “O contrato de Casamento” ressurge das cinzas. Ou melhor, dos arquivos.

Abri pra deletar. Passei os olhos, comecei a ler. A promessa de “vou sempre amar você” me chamou a atenção. Quem sabe, ali, no meio do texto, o economista não me apresentasse soluções estatísticas sobre o amor. Pois mal. “Banalizamos a frase mais importante do casamento. Hoje, promete-se amar o cônjuge até o dia em que alguém mais interessante apareça”, de certo que sim. A independência não nos faz repensar a convivência.

Depois, vem a frase mais sensata do texto:
Nunca temos na vida todas as informações necessárias para tomar as decisões corretas.

Mas daí, o remorso só dura até o próximo amor. Depois a mais devaneia:
"Eu sei que nós dois somos jovens e que vamos viver até os 80 anos de idade. Sei que fatalmente encontrarei centenas de mulheres mais bonitas e mais inteligentes que você ao longo de minha vida e que você encontrará dezenas de homens mais bonitos e mais inteligentes que eu. É justamente por isso que prometo amar você para sempre e abrir mão desde já dessas dezenas de oportunidades conjugais que surgirão em meu futuro. Não quero ficar morrendo de ciúme cada vez que você conversar com um homem sensual nem ficar preocupado com o futuro de nosso relacionamento. Nem você vai querer ficar preocupada cada vez que eu conversar com uma mulher provocante. Prometo amar você para sempre, para que possamos nos casar e viver em harmonia".

Assinar um contrato prometendo amor eterno no sentido de convivência pelo resto da vida, é abrir mão do próprio amor. Mas, eu posso estar errada, Stephen Kanitz deve ter hoje 36 anos de casado, dez anos a mais do que eu tenho vida.

Quando se casa por amor, não se deixa de amar o ex nem com a separação. O ex é eterno. Quando se tem filhos, mais eterno ainda. Aliás, nem com alguns filhos, nem com alguns pais, nem com alguns irmãos, a gente é obrigado a conviver bem. E isso não quer dizer que não ame. E isso não tem nada a ver com o amor. Amar por um instante é amar pra sempre. Deixar de amar é uma contradição. Agora, confundir o amor com a obrigação da conivência eterna é tentar assassiná-lo.

A quem interessar, possa:

Na semana passada comemorei trinta anos de casamento. Recebemos dezenas de congratulações de nossos amigos, alguns com o seguinte adendo assustador: "Coisa rara hoje em dia". De fato, 40% de meus amigos de infância já se separaram, e o filme ainda nem terminou. Pelo jeito, estamos nos esquecendo da essência do contrato de casamento, que é a promessa de amar o outro para sempre. Muitos casais no altar acreditam que estão prometendo amar um ao outro enquanto o casamento durar. Mas isso não é um contrato. Recentemente, vi um filme em que o mocinho terminava o namoro dizendo "vou sempre amar você", como se fosse um prêmio de consolação. Banalizamos a frase mais importante do casamento. Hoje, promete-se amar o cônjuge até o dia em que alguém mais interessante apareça. "Eu amarei você para sempre" deixou de ser uma promessa social e passou a ser simplesmente uma frase dita para enganar o outro. Contratos, inclusive os de casamento, são realizados justamente porque o futuro é incerto e imprevisível. Antigamente, os casamentos eram feitos aos 20 anos de idade, depois de uns três anos de namoro. A chance de você encontrar sua alma gêmea nesse curto período de pesquisa era de somente 10%, enquanto 90% das mulheres e homens de sua vida você iria conhecer provavelmente já depois de casado. Estatisticamente, o homem ou a mulher "ideal" para você aparecerá somente, de fato, depois do casamento, não antes. Isso significa que provavelmente seu "verdadeiro amor" estará no grupo que você ainda não conhece, e não no grupinho de cerca de noventa amigos da adolescência, do qual saiu seu par. E aí, o que fazer? Pedir divórcio, separar-se também dos filhos, só porque deu azar? O contrato de casamento foi feito para resolver justamente esse problema. Nunca temos na vida todas as informações necessárias para tomar as decisões corretas. As promessas e os contratos preenchem essa lacuna, preenchem essa incerteza, sem a qual ficaríamos todos paralisados à espera de mais informação. Quando você promete amar alguém para sempre, está prometendo o seguinte: "Eu sei que nós dois somos jovens e que vamos viver até os 80 anos de idade. Sei que fatalmente encontrarei centenas de mulheres mais bonitas e mais inteligentes que você ao longo de minha vida e que você encontrará dezenas de homens mais bonitos e mais inteligentes que eu. É justamente por isso que prometo amar você para sempre e abrir mão desde já dessas dezenas de oportunidades conjugais que surgirão em meu futuro. Não quero ficar morrendo de ciúme cada vez que você conversar com um homem sensual nem ficar preocupado com o futuro de nosso relacionamento. Nem você vai querer ficar preocupada cada vez que eu conversar com uma mulher provocante. Prometo amar você para sempre, para que possamos nos casar e viver em harmonia". Homens e mulheres que conheceram alguém "melhor" e acham agora que cometeram enorme erro quando se casaram com o atual cônjuge esqueceram a premissa básica e o espírito do contrato de casamento. O objetivo do casamento não é escolher o melhor par possível mundo afora, mas construir o melhor relacionamento possível com quem você prometeu amar para sempre. Um dia vocês terão filhos e ao colocá-los na cama dirão a mesma frase: que irão amá-los para sempre. Não conheço pais que pensam em trocar os filhos pelos filhos mais comportados do vizinho. Não conheço filho que aceite, de início, a separação dos pais e, quando estes se separam, não sonhe com a reconciliação da família. Nem conheço filho que queira trocar os pais por outros "melhores". Eles aprendem a conviver com os pais que têm. Casamento é o compromisso de aprender a resolver as brigas e as rusgas do dia-a-dia de forma construtiva, o que muitos casais não aprendem, e alguns nem tentam aprender. Obviamente, se sua esposa se transformou numa megera ou seu marido num monstro, ou se fizeram propaganda enganosa, a situação muda, e num próximo artigo falarei sobre esse assunto. Para aqueles que querem ter vantagem em tudo na vida, talvez a saída seja postergar o casamento até os 80 anos. Aí, você terá certeza de tudo.

Ah, e quanto ao remetente, antes que eu esqueça, deve estar completando uns vinte anos de casado. Com amor. Se de boa convivência? Não sei.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Sabe, amor...

O cara com quem eu tive uma reunião na hora do almoço outro dia usava seu perfume. Fui cumprimentá-lo de perto e por alguns instantes me desconcentrei achando que era você. Não me desconcentrei apenas na hora que fui cumprimentá-lo. Confesso.

Pensei em você várias vezes enquanto conversávamos. Aquela sua mania de sentarmos sempre um de frente pro outro, justificada pelo o seu jeito de me dizer que não conseguia parar de me olhar, e aquela minha mania de sempre cutucar o seu prato com meu garfo só pra ouvir você dizer que detestava quando eu fazia aquilo.

Olhava pra ele e via o seu sorriso, o seu olhar, a sua mania de empurrar os óculos com a palma da mão direita, ajustando-o sobre o nariz. Teve um momento quando o rapaz foi atender ao telefone... Bem, enquanto ele atendia ao telefone e eu o observava ele prendeu os lábios como você costumava fazer e como eu tinha certeza que você sempre fazia enquanto falava comigo e como eu sempre pedia que você fizesse para ver as barroquinhas do seu rosto e tocá-las com as pontas do meu maior de todos e do meu indicador. Lembro que você fechava os olhos.

Pela primeira vez, desde que nos separamos, por um momento, eu quis seu colo em desespero. Eu quis seus sonhos de volta – sonhados pra mim.

Eu venci aquele medo de pertencer a outros homens depois de você. Venci o medo de encará-los. Venci o medo de emprestá-los o meu amor no tempo em que eles não conseguissem dormir. Você prometeu que outros tempos viriam. Não sei mais se virão.

Eu senti saudades. Saudade do quanto fomos felizes. Senti saudades das loucuras. Dos mares, da falta de rumo, de hora, de noção do limite. Senti saudade do colo, da falta de contestação. Do silêncio continuo, do amor eterno.

Há quem é que a gente engana agora? Com qual desejo a gente sonha?

Terminei o quadro. Você terminou os poemas? Não rasguei as fotos, mas soube que você tirou-as dos porta- retratos.

Enfim.

Ele desligou o telefone. Começamos a falar em trabalho. O almoço chegou. O gosto da comida encobriu o cheiro do perfume. E tinha alguma coisa muito estranha no cheiro daquele perfume. Estou confusa. Não sei o que é. Não sei se lançaram outra linha. Essas extensões comerciais. Eu conheci porque reconheceria em qualquer lugar do mundo. Em qualquer estação. Mas, não era o mesmo cheiro que é em você.

Não era a sua pele. Não eram os seus poros. Não era o seu sabor. Não era o seu suor.

Esqueci.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Querido Diário - Atos V e VI

Domingo -13: Ressaca absurda. Dor no corpo. Garganta mendigando um coquetel de antiflamatórios Acordei e fiquei quase duas horas criando coragem para me levantar. Quase duas horas. Li uns quarenta minutos. Falando em ler, estou lendo um romance lindo chamado O Silenceiro, de Antonio Di Benedetto, autor Argentino, comprei porque o prefácio é de Saer, mas o livro tem me surpreendido. Dei uma pausa nele porque tinha que estudar e voltei ontem com força total. Vergonha. É um livro pequeno só que esses dias foram infernais, eu não tive tempo nem de respirar direito. Tem até um trecho que queria dividir aqui, é meio longo, só que vale a pena:

Nina não tem de mim promessas, compromissos, nem palavras de amor. Mas me segue, apegou-se a mim.

Não é exatamente como fazia Besarión.

Besarión protegia uma moça muito confiada, que se apaixonou por ele e, ao seu modo, dava-lhe lições.

Não lhe dizia “te amo”, nem tampouco “não te amo”.

“Digo a ela”, contou-me Besarión,”que a esperei tal dia, a tal hora, em tal praça. Ela não pergunta pra quê. Portanto, ela vai e eu não vou. Depois ela me explica: ‘Eu o esperei uma hora. Acho que me confundi de lugar ou você não pode ir’. ‘Não ficou brava comigo?’ ‘Não, por quê?’’ Então, vou inteirá-la da verdade, para que esteja preparada e nenhum homem a engane’”.

(...)

Pronto. Tem outras partes boas, só que eu estou morrendo de preguiça de digitá-las.

Depois que me desconcentrei e comecei a pensar, fui ver desenho animado. E senti muita vontade de dar um forte abraço em quem inventou o desenho animado. Apesar dos da minha época ser bem melhores. Houve uma queda na qualidade dos roteiros dos desenhos animados. Só que isso é assunto para dissertação. Certamente, em algum lugar no mundo, alguém deve estudar isso. Geléias exóticas & Churneys. Misturar café com almoço. Comecei a ler, adormeci. Acordei já era tarde. Da noite. Vi um filme legal ‘Uma vida por um fio’, depois joguei meia partida de War com a minha irmã, só que jogar War de dois é meio chato. Sem sono, sem sonhos. Adormeci.

Segunda-feira – 14: Hoje faz 24 anos da morte de Jorge Luis Borges, o cara que entre outras coisas me ensinou que 'enquanto dura o remorso, dura a culpa'. Demorei muito para acordar. Acredito que 10h da manhã eu ainda estava desacordada. Perambulava no trabalho com aquele posicionamento de Zumbi. Enjoada. Tive minutos de autoinsuportabilidade (se não existir no seu dicionário, acrescente), é aquele momento em que nem você se suporta e acaba descontando o seu descontentamento jogando a primeira pedra no primeiro vidro que você encontra. Tenho absoluta certeza que machuquei quem não merecia. Foi estranha essa segunda-feira. O corpo tava mal, a cabeça tava mal, os sentidos não corresponderam o dia inteiro. O HD não processou. Hoje eu me liguei do quanto eu gosto de ler anúncios de perfume. Foi na hora que eu entrei num site pra mandar o link do perfume que eu usei sábado para uma amiga que vai comprar igual. Nunca tinha me ligado. Eu gosto mesmo de ler anúncio de perfume, sempre leio. Acho poético demais, sensível. Aliás, cheiro pra mim é uma coisa imprescindível. Adoro cheiro. Alguém já disse antes: cheiros são como músicas. Eu lembro pelo o cheiro. Falando em cheiro, senti falta do cheiro de uma musiquinha que eu gosto chamada Casa Pré Fabricada, é do Marcelo Camelo. Sempre fico em dúvidas se a versão mais bonita é a da voz de Maria Rita ou a da voz de Roberta Sá. Maria canta mais voraz do que a letra sugere e Roberta doce, sempre doce. O pedacinho que eu sempre cantarolo diz mais ou menos assim:

Abre os teus armários, eu estou a te esperar
Para ver deitar o sol sobre os teus braços, castos
Cobre a culpa vã, até amanhã eu vou ficar
E fazer do teu sorriso um abrigo

Canta que é no canto que eu vou chegar
Canta o teu encanto que é pra me encantar
Canta para mim, qualquer coisa assim sobre você
Que explique a minha paz
Tristeza nunca mais

(...)

Fico revezando uma vez Maria, noutra Roberta. Quis voltar cedo do trabalho. Trouxe trabalho pra casa. Não trabalhei. Além disso, nada. O dia foi pão com mortadela.

aconteceu você;

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Querido Diário - Atos III e IV

Sexta-feira – 11: “Vem saber quantas vitórias/por mares que só eu sei/ vem ver que a vida ainda vale/ o sorriso que eu tenho pra lhe dar” – hoje Chico fez o favor de me acordar. Moroso. Bem que poderia ser “amanhã vai ser outro dia, larálarálará...” Pois bem, como eu ando movida por um conformismo de sete céus não vou reclamar dos “Olhos d’água”. Quase não acordo hoje. Decidi chegar ao trabalho às nove. Decidi tomar café da manhã na casa da minha avó só porque acordei com uma vontade enorme de ouvir ela me contar histórias de papai. As mesmas histórias de sempre- Claro, lesada! E você esperava o quê? Histórias novas do que estatizou, é?! Só você, dããããããã. Bem, vovó não me contou histórias de papai. Fiquei com vergonha de pedir. Ela anda empolgada com minha tia que está pra chegar de férias com o marido Argentino e o filho Dinamarquês. Meu primo, coitado, tão lindo. Branco como a neve, crescendo confuso com uma mãe brasileira, um pai argentino e uma educação européia. Quando ele chegar aos 15 anos eu terei 40 - vou morrer antes. Para a minha felicidade o primeiro compromisso oficial era às 11h. Li os jornais com calma, assisti flash’s do futebol – primeiro dia de jogos da Copa do Mundo que acontece na África, falando nisso, fiquei meio serelepe quando Loco Abreu entrou em campo pelo Uruguai, ele tem um jeito tão Botafogo de me dá alegria acertando gols. A melhor hora do dia foi lá pras 4h da tarde quando eu enchi de tanta coisa e fui desopilar no café da esquina. Lá tem umas revistas de moda, comportamento e futilidades femininas que eu nunca compro, mas, gosto de folhear naquele bucolismo animado do café. Esqueci que não tinha sacado dinheiro, consequentemente os R$ 6 que tinha na carteira não dava pra pagar o cappuccino, a água e um saco de biscoito de canela que tinha aberto. A máquina de débito estava sem papel. “Larissa deixe. Depois você passa aqui e paga” “Não, vou sacar e venho deixar” “Pode deixar, Larissa, faço questão” – surge aquela voz no meio do nada, quer dizer, Ele estava lá quando eu entrei, ando meio cega mesmo. Mineiro. De Montes Claros. Veio assumir um concurso público, mora aqui há dez dias. Dei meu cartão pra ele. Quero retribuir a gentileza. Fiquei sem jeito. Mary espontânea e metida falou: Pronto. Você não precisa conhecer mais ninguém em Mossoró. Ele disse que acreditava. Eu, bom, eu rubrei. Quase mato Mary que se não tivesse desfeito o meu pagamento (...). Mas, gosto da moça que trabalha no caixa do café que eu freqüento. Sempre brinco chamando-a de Marrie. Ela ri. Eu puxo o erre das palavras. Um último comentário sobre o café: a rádio que eles tocam lá. É uma sintonia Argentina, às vezes Francesa, às vezes Espanhola, hoje Italiana. Quando eu cheguei tocava Vattene Amore, de Amedeo Minghi e depois tocou umas três que eu não conheço até que tocou uma de Andrea Bocelli, daí resolvi usar de toda minha intimidade para pedir que ela mudasse a sintonia para as rádios latinas; foi nessa hora que Love Hurts entoou com Gram Parsons e Emmylou Harris. Morri. Tanto que corri para pagar a conta, chegar ao Jornal e colocar no YouTube um repeat sem limites. A gente esquece que algumas músicas existem e nos renovam. Passei o dia planejando curtir o jazz na Cidadela – uma cidade cenográfica que a Prefeitura monta para romantizar o Mossoró Cidade Junina – só que quando cheguei tropecei no Box de Dolores Duran que comprei pela internet. Não preciso explicar porque desisti do Jazz. Armei uma rede no alpendre. Levei o som. O vento do assobio. A iluminação do céu e do monitor. Estou aqui, ouvindo Dolores e (re) sentindo essa minha sensação imbecil de ser feliz com pouco.

Sábado – 12: Amor só se cura amando. Hoje é dia dos namorados e não faz o menor sentido eu não começar falando de amor. E, até faria, se eu fosse abordar todo apelo comercial que a data sugere, porque só sugere isso. Eu sempre presenteei o gesto. Nunca jurei amor nessas datinhas comemorativas, aliás: natal, ano novo, aniversários, dia dos namorados, aniversário de namoro, casamento, noivado só servem pra beber e jantar fora. E foi o que eu fiz. Curti o dia com os amigos e, não tenho lembrança de um dia dos namorados tão engraçado. Primeira cerveja em homenagem a Lionel Messi. Segunda cerveja em homenagem aos amigos vindos de Natal para curtir o Mossoró Cidade Junina. Terceira cerveja interrompida por uma porção de mousse de maracujá. Da quarta em diante não houve mais brinde. Diversão, gargalhadas, contos e conversa de bêbado. Ah, eu vi o pôr do sol de um 3° andar enquanto concluía que o hit do meu momento é “todos falam que eu falo demais/ e que ando bebendo demais/ que essa vida agitada não serve pra nada/ bar em bar/bar em bar”. Egoísmo meu gostar das tardes amarelas. Hoje ela teve mais cores do que eu esperava. Como ultimamente eu ando meio enamorada comigo me presenteei com uns livros de Bolaño. Uma observação sobre Bolaño é que ele tem o livro do título mais fodástico que eu conheço: Putas Assassinas. O cara escrever um livro e chamá-lo de Putas Assassinas é o sábado do dia dos namorados. Vi muita gente fazendo promessas pra Santo Antônio – coitados. Enfim. Foi um dia muito feliz. Fazia muitos anos que eu não me atrevia a dançar quadrilha. Dancei. Foi divertido demais. Eu gosto de dias sem romantismo. São mais racionais.

Querido Diário - Atos I e II

A ideia surgiu há umas três semanas quando confessava para um amigo o prazer de abandono que eu tinha em escrever diários. Explicava pra ele numa mesa de pizza que o Twitter tinha se tornado o meu diário diário, que eu despejava em cento e quarenta caracteres o que antes escrevia em páginas coloridas, cheias de recortes, papéis de chocolate, guardanapos, comandas, etc e tals. E que, quando datava alguma coisa, era a lição do dia, como por exemplo: a moral da história, nos diários. Andei relendo alguns diários da minha adolescência. Lá na escada dos quinze, dizer seis, dizer sete, dizer oito. Hoje, dez anos a mais, dez anos depois, resolvi fazer um treino desordenado. A pontuação não é linear, os pensamentos nunca foram. Minha meta é manter a disciplina por pelo menos uma semana. Espero conseguir. Não precisa gostar. Eu nem ia publicar aqui. #Humpf

Quarta-feira – 9: Tá. Eu bem que poderia começar este diário em qualquer outro dia da semana Mas, hoje é quarta-feira. Nove. Ímpar. 4+5 = 9. 3x3=9. Não existe dia melhor na semana do quê a quarta-feira. Inclusive, antes que eu esqueça, nasci numa quarta-feira, 4, mês 4, ano 84. Não há relação com o nove, eu sei; há relação com a quarta-feira. Uma vez, numa fase rebelde da adolescência – aquela fase que eu usava um pentagrama no pescoço, tinha os cabelos encaracolados na cintura e calçava all star, procurei um numerólogo e ele me disse que eu teria quatro amores felizes, teria quatro filhos, cursaria quatro faculdades e juntaria uma poupança de quatro bilhões (essa parte da poupança é mentira, acho que a dos amores também conseqüentemente a dos filhos). Só sei que viverei no máximo mais 4 anos, tá bom, ta bom 40. Enfim, o quatro que somado ao cinco resulta o nove é um número relevante na minha vida, apesar de o sete ser o meu número da sorte. Ímpar. Hoje o dia foi inerte. Acordei cansada. Atrasada. Com chamadas desconhecidas no telefone. Não lembro o que meu tio falou durante o percurso Avenida Diocesana/ Avenida Rio Branco. Lembro que o locutor na AM reclamava das ruas sem saneamento na periferia, lembro que cheguei a anotar o nome das ruas, não lembro se foi um bom dia. Tomei um cappuccino com os amigos no fim da tarde, falamos sobre cinema, literatura, comunicação, coisas bregas, coisas cafonas. Ah, peguei um brigadeiro de panela no lugar do troco pra adoçar a noite. Estava ótimo. Cheguei em casa e a melhor hora do dia foi ao meio dia e pouco quando folheava uma agenda antiga em busca de um contato e encontrei Ana Cristina César: Não, não sou como você, que diz que não acredita, eu sim fico crente, e de mau humor, e acho que tudo é de verdade. Ponto. Parágrafo. E sei lá, sabe!? Hoje eu cheguei à conclusão que tem fases nessa vida que a gente precisa saber escolher os pensamentos.


Quinta-feira – 10: Meus contos de fadas. Os príncipes que eu sempre derrubo do cavalo. Já é dia 11 (ímpar) e eu ainda não acordei o dia 10. Como eu trabalhei hoje. Teve um momento entre nove da manhã e meio dia que achei que fosse surtar com o telefone tocando, com pessoas esperando, com os pensamentos chamando, com umas trocentas coisas para resolver e a sensação de ter responsabilidades para o fim do dia suficientes ao fim do mês. Mas, acabou. O celular, o computador e o relógio já me dizem que é dia 11. Não sinto sono. Acabou e eu cheguei em casa tropeçando na edição do mês da Revista Piauí que traz Michel Temer se achando “a cara do Brasil”. Vou começar a ler, a entrevista tem umas sete páginas naquele estilo da Piauí-diagramação de bula de remédio. Ah, mas hoje li uma entrevista ótima na Trip com Marinho Chagas (artilheiro do Botafogo quando eu nem sabia o que era futebol) e, graças ao homem e ao lobisomem existem o Canal 100, o You Tube e os amigos que viveram o momento, guardaram os recortes e me contam de olhos brilhantes as alegrias. Só para variar com os outros dias do mês, não almocei. Nada foi muito engraçado hoje. Enquanto anoitecia eu tinha vontade de me transportar para qualquer lugar abaixo do Trópico de Capricórnio, abaixo do Círculo Polar Antártico, abaixo da Zona Fria Sul, abaixo do Equador que eu estava, que eu estou. Um quarto com a luz do banheiro acesa, a porta encostada e um silêncio de cheiro, colo e carinho. Bobagem minha, me deixa pra lá.


segunda-feira, 7 de junho de 2010

Minhas paixões são despretensiosas

Outro dia eu fui participar de uma entrevista num desses programas amigos de Colunista Social e no meio do tempo me perguntaram:

- De onde vem tanta paixão?


Não sei. Com a mesma rapidez que elas vêm, elas vão. São viciantes, rotineiras. Minhas paixões são despretensiosas. Nunca chegam com a rapidez que querem ser vividas. Nunca as vejo apressadas, desesperadas, sedentas; nem no auge - quando minam minhas forças e me impulsionam. Tranquilas, despojadas de tudo. Muitas vezes até de amor. Outras tantas até de mim.



Vezenquando, eu perco uma paixão em vida, e é com essa parte que eu não seu lidar muito bem. E lá se vem todo aquele processo de morrer pra começar de novo, de morrer pra recomeçar e, por mais que eu goste da dor, a gente sempre evita o renascimento por saber que vai doer de novo. E que cada dor é diferente e melhor, ou pior.


Parece que é durante esse processo em que o coração se quebra e começa a ser reconstruído que a paz de saber que a perfeição não existe nunca adianta de nada. A ilusão se ilude. O que sempre vem depois é sempre mais intenso do que o que veio antes. O coração vai petrificando para os sentidos serem lapidados.


E arde, e queima, e irrita, e afoba. Depois de tudo anestesia. Anestesia porque sensibiliza toda forma de dor causada num alívio que funciona como esquecimento. Eu comparo a ardência do fogo que queima, queima, queima e depois a água alivia o calor e a gente é levado por aquela sensação de arrepio e esquecimento.


Mas, engraçado: sempre as minhas paixões me plantam algumas necessidades. Cultivam em mim alguma constância.


De vida e de morte. De céu e de inferno. De alegria e de dor.