segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Então,
Passei o final de semana debruçada sobre as letras de Dorival Caymmi - depois de baixar uma coletânea dele no Ipod pra ouvir na estrada. Daí, escrevi o textinho pra que vocês ouçam Caymmi, daí lembrei dessa interpretação linda de se ver/ouvir com Jussara Silveira, Teresa Cristina e Rita Ribeiro cantando Lá vem a baiana.
Sugestão: leiam o texto, ouvindo a música.

É doce morrer no Mar

Caymmi dispensa apresentações. É um gênio. A dispensa das apresentações é minha. Mas, o título de “gênio” é do Tom Jobim e cá pra nós, por mais que não se concorde, ninguém em estado sã de loucura vai discordar do Tom – nem de mim.

A sensibilidade de Dorival Caymmi vai além de qualquer sentimento ou emoção que o samba brasileiro possa proporcionar por um motivo simples: sensibilidade. Dois motivos simples: sensibilidade e delicadeza. Dois motivos nem tão distantes em seus intensos significados.

Fui apresentada a Dorival Caymmi ainda criança, quando estudava piano e tinha uma professora que cantava lindamente ‘Acalanto’ como cantava lindamente ‘Ne me quitte pás’. E aí, vou abrir um [ pra falar dessa professora porque outro dia encontrei Crispiniano Neto e conversava com ele sobre música francesa e comentava sobre esta professora que ele me lembrou o nome e que minha memória memorável já esqueceu, e com vergonha vou fechar o ].

Pois sempre acontece que eu lembro de Caymmi quando estou adorando o Mar. O motivo pode até ser óbvio, mas o que eu sinto é sempre complexo. Não sei se porque eu devoto o Mar – a ponto de sempre me referir a ele em letra maiúscula – ou porquê como diria Antônio Risério, escritor baiano, Caymmi seja tão delicado com as canções e com as palavras que sei lá.

Sei lá qual o paradoxo que minha cabeça faz entre a delicadeza voraz que algumas coisas têm e/ou sugerem. De tudo que eu penso diante do Mar que se eu tento pensar em qualquer outro lugar minha cabeça é tomada por uma dor e uma sensação agonizante de surto sem volta.

Ontem, vendo o Mar se pôr na noite, me ocorreu que pra escrevê-lo como Caymmi escrevia [e ainda cantar] ele só poderia sentir algo muito parecido com o que eu sinto de alegria e dor. De preenchimento e exorcismo. De vontade de naufragar e viver com a mesma intensidade e imensidão das águas cortando o vento.

E não é só samba, morrer pra (re) viver no Mar.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

aqueles dias que

Tem aqueles dias que a gente vive sem saber onde colocar as mãos. E, sem saber onde colocar as mãos, a gente vai vivendo colocando os pés em qualquer chão. E sem conseguir alcançar os pés, a gente perde o chão. E, vai vivendo, sem tocar as próprias mãos.

Até quando?

Eu tinha deixado de me perguntar para aceitar. Aceitar conseguir viver sem arestas, nem frestas, nem falsas modéstias. Conseguir viver sem querer saber e sem soltar e sem agonizar e sem querer sumir e sem querer gritar.

Mas tem aqueles dias que a gente vive sem saber onde colocar as mãos. E, sem saber até aonde a gente vai permitir que o outro coloque as mãos. E sem conseguir controlar as atitudes do outro, a gente perde o chão. E, vai vivendo, sem restar o muito.

Por quê?

Porque não é legal ter o domínio do outro sem a livre vontade dos desejos. E, a gente segue vivendo sem ter onde colocar os sonhos. E os sonhos vão saindo dos pensamentos e vivendo medonhos. Daí, vamos nos acostumando com a poeira de vento que as nuvens fazem no tempo.

Para completar, ainda tem aqueles dias que a gente vive sem saber onde encaixar os corpos. E, sem saber em que mesa cabe os copos e quantos goles de suor darão as próximas lágrimas e quantas mágoas ainda afogará de saliva a língua de lástimas.

Hoje é um daqueles dias que eu não sei onde apoiar as mãos. E, nem sei a que mãos segurar, sei nem se as mãos que quero encaixar as minhas palmas, meus dedos querem.

Não sei. Não sei também porquê as mãos seguram firme e depois se soltam e se permitem viver sozinhas e se encaixam em outras mãos.

Hoje é um daqueles dias que eu estou perdendo a razão. E, quando eu perco a razão, eu não sei onde colocar as mãos. E sem saber onde eu quero colocar as mãos, eu vou tateando os caminhos do chão até encontrar uma liberdade para me fazer prisão.

Sem razão.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

o problema é que eu te amo


Você vai sentir falta de mim primeiro – confesso que foi a primeira coisa que pensei quando resolvi te deixar. E, não acredite que eu me tornei uma pessoa segura de repente e que estou dizendo isso com a mesma determinação que teorizo uma negociação ou resolvo a cor do esmalte que colorirá minhas unhas durante a semana.

Eu resolvi abandonar aquela brincadeira de palavras que me roubavam o fôlego devolvendo-o em suspiros sem o seu consolo depois. Sem seu corpo e sem suportar a idéia de que um dia você fosse embora primeiro.

Estou convicta que fui escolhida, por você, num formigueiro de pessoas para ser infernizada. Ou, como se diz por essas bandas “que fui pega pra Cristo”.

E quer saber o que sempre achei?

Que valia menos do que qualquer mulher bonita que você cruzasse no fim da tarde e que você se importava tão pouco a ponto de só lembrar de mim quando se sentia só. Eu te causava algum tipo de conforto muito estranho, mas bom a ponto de você não conseguir se livrar de vez de mim.

Eu sou diferente e tenho algo mais a oferecer que as outras garotas da minha idade e sei que sua atração se deu por essa mistura de menina inocente, com ataques de maturidade e responsabilidade. Além de que, você se surpreendia com o fato de conseguir manter conversas incrivelmente duradoura comigo mesmo sabendo da distância toda que existia entre nós. Cronológica ou mental.

Acho que você se assustava com o fato de eu te subestimar suportando tão bem todos os seus silêncios e todos os seus comentários sobre as coisas mais absurdas possíveis. Ou não. Talvez você estivesse mal acostumado e agisse assim com todas as suas mulheres e que eu fui mesmo mais uma que você se entreteria até encontrar outra que correspondesse as suas partidinhas melhor que.

Mas, eu gargalhava muito quando lhe via apavorado com a minha falta de pretensão e se sentia perdendo, se sentia menos admirado e devotado do que deveria ser. E vinha me falar do seu passado, achando que me devia qualquer tipo de satisfações sobre o que passou e sobre todo o resto, mas no final eu soube o que de pior poderia saber e isso foi suficiente para eu ter certeza que nunca teria chances de ser algo mais.

Eu acho que durante muito tempo nós fomos dois putos egoístas numa eterna batalha de tentar provar que seríamos muito capazes de não nos envolvermos sentimentalmente, obrigada. E sempre tive a certeza que aquilo tudo ia terminar muito mal e que você não se importaria.

Mas a carência e o tempo nos venceram até começarmos todo aquele exagero de confissões e saudade incontrolável de palavras, depois de vozes, depois de corpos, de cheiros.

Perdemos tempo. Até que. Nos perdemos.

Terminamos mal e você não se importou.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Hilda Hilst

Ama-me. É tempo ainda.
Interroga-me.
E eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida avidez,
vasta ventura
Porque é mais vasto
o sonho que elabora
Há tanto tempo
sua própria tessitura.
Ama-me.
Embora eu te pareça
Demasiado intensa.
E de aspereza.
E transitória
se tu me repensas.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Faz uns meses, que eu venho perguntando às minhas amigas, onde estão os homens interessantes? Não aqueles que escutam MBP, entendem de literatura e falam um milhão de idiomas – estes são os homens acima da média, me refiro aos interessantes – normais: aquelas que convidam para jantar depois do cineminha.

Pois é. Outro dia, num bar de hotel, conheci um cara interessante. Aliás, interessante acima da média. Agradável, charmoso, simpático, viajado e o mais importante de tudo, solteiro. Um filho – o que pra mim, não tem nenhum problema, já que as crianças me adoram, quem não adora muito essa história são as ex mulheres, nunca ex mães, e eu respeito este detalhe numa boa, contando que elas estejam no canto delas de ex e eu no meu.

Conversamos muito. E, pra minha surpresa, ele me esperou para o café da manhã no outro dia [bem, eu falei que ele era interessante acima da média] cof cof. Depois do café, eu parti. Na saída, enquanto trocávamos os cartões, eu pensei: ah bobo, deve trocar cartões com meio mundo de mulheres. Joguei na bolsa.

Daí, semana passada, sem querer, por conta de uma queda de energia, eu acabei descobrindo um lugar bacana para se paquerar. Um lugar despretensioso, porém, lotado de homens charmosos, interessantes e não gays. Inclusive, menos disputado que barzinhos, cafezinhos e showzinhos de verão. E - pasmem meninas – um lugar com poucas mulheres.

Tá, não vou fazer cerimônia, nem criar suspense. Vou contar logo pra vocês que:

No meio de uma tarde desocupada na semana passada, eu fui almoçar no shopping e ver o filme infantil [é, eu amo filme infantil, desenho animado e tudo que é infante] Enrolados, produção da Disney, uma história linda e com todos aqueles requififes que só a Disney sabe enfeitar.

Subi a escada rolante e entrei no escurinho do cinema quando o trailer já iluminava os rostinhos atentos de 5, 9, 11 anos. Coloquei os meus óculos de grau e sentei na fila do meio, na cadeira do meio. O filme começou e logo no comecinho, um bummm tomou de assalto a atenção da platéia e o mais chato: mesmo na hora que a bruxa má ia pegar a princesa para proteger numa torre durante anos.

Entoou-se um: aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa em altíssimo tom. Até que todos se deram conta que faltou energia.

Enfim, passaram-se uns vinte minutos até o problema ser solucionado. Tempo suficiente para todo mundo começar a conversar, se conhecer, trocar telefones e etc.

Faz uns meses, que eu venho perguntando às minhas amigas, onde estão os homens interessantes?

E, no fundo, no fundo, eu sabia que eu encontraria esta resposta pra elas. Mesmo que, eles estejam Enrolados.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Gavetas

Hoje é Dia de Reis. Uma coisa não tem nada a ver com a outra mas, eu comecei a manhã arrumando as minhas gavetas/mesas/gaveteiros de trabalho no Jornal. Sabem o que descobri? Que guardo as fitas/laços de tudo que recebo. E foi uma surpresa pra mim. Arrumando as gavetas, eu descobri uma mania que não sabia que tinha. Cada gaveta que eu abria me surpreendia com a quantidade de laços, fitas, amarrilhos e essas coisas que usam para segurar embalagens.

Foi uma manhã divertida porque eu também descobri que faço da minha mesa no trabalho, minha casa. Achei fotos pessoais, bilhetes, maquilagem, receitas de médico e até um par de chinelos.

O ponto ápice da arrumação foi quando eu achei agendas antigas de três, quatro anos atrás e acabei me dando conta que abandonei os diários quando comecei a programar meu dia em agendas e que, vezenquando nas páginas das agendas, entre uma reunião e um orçamento, tem sempre uma sensação solta no rodapé. Tem sempre uma frase rabiscada e o nome de uma música para ouvir depois.

Eu não mudo, eu não mudo!

Estou sempre amando da mesma forma. Mesmo que depois, enterre as palavras junto com os sentimentos nas gavetas como se rasgasse uma página de papel.

E este texto poderia ficar bem melhor se eu descrevesse tudo o que senti lendo 2007 e 2008 mas, não. Eu comecei falando da mania que eu descobri que tenho de guardar as fitas e os laços de tudo o que recebo dentro das gavetas da minha mesa de trabalho e sigo me perguntando até agora porquê o meu inconsciente faz isto. E sigo me perguntando tantas coisas que eu poderia ter feito e não fiz. Que eu poderia ter evitado e não evitei.

Os laços.

As fitas.

Por que os guardo? Por que os guardo se os nós que foram dados estão cegos e nem o tempo vão desatar?!

As fitas, os laços...

Não desfaz.


Legenda: Fitas na mesa - eu, ótima fotógrafa.