segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Twitter




Tenho perfil no twitter antes de virar moda. Meu perfil no twitter é da época que o Cidade Marketing postava coisas interessantes. Era um negócio meio coorporativo. Christian Pior não desejava dezenas de “Bom dia colega” seguido. Rolava pouca fofoca sobre a vida alheia.

Demorei pra entender a utilidade e relutei quase um ano pra fazer. Fiz e deixei lá, encostado. Fujo dos vícios. Não via sentido em dizer “Estou indo pro trabalho. Bom dia a todos”, sou a regra, não sou a fonte como Anselmo Góis, Noblat e Luciano Huck, este último, daqui uns dias, dará palestras de ‘Como conquistar seguidores’, ele é campeão nacional.

Uso o twitter dependendo da minha necessidade de falar. Uso quando me sinto só. Quando quero compartilhar algo com alguém. Quando quero tirar sarro de algum fato. Quando ouço uma ótima música, vejo um bom filme, leio algo que acho que vai interessar outras pessoas.

Acredito que minha vida e minhas opiniões interessem a ninguém. Admiro-me quando vejo meus mais de 200 seguidores. Admiro-me quando dão RT (na língua do twitter é copiar) no que eu posto. Admiro-me mais ainda quando volto do final de semana e deparo-me com seguidores como Xico Sá, Paulinho da Viola, Diogo Nogueira, Fabrício Carpinejar.

O twitter é uma nova mídia. Uma ferramenta de comunicação eficaz. Se ela tivesse surgido antes, nem sei se os blog’s de informação existiam.

O twitter tem sido um refúgio. Meu caderninho de anotações.

Surgiu em boa hora. Curou-me do orkut.

Estou cada dia mais seleta. Só o que faz bem. Só o que interessa.

'I'm like a bird, I'll only fly away.'

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Supermercado


Observem as pessoas durante as compras. Observem principalmente os casais quando fazem compras no supermercado. Eles caminham lentamente entre as prateleiras, comparam preços, escolhem o produto, desistem, levam listas, calculadoras, encarte do concorrente.

É extremamente possível conhecer os hábitos de uma família pelo carrinho de compras do supermercado. Às vezes eu me pego traçando perfis do tipo “este consumidor deve ter três filhos, entre 5 e 15 anos”, “esta mulher mora só”, “este casal já casou todos os filhos e leva farinha com leite condensado pra fazer bolo Filipe pros netos”. Os perfis também variam de acordo com o dia da semana, eu, sempre vou aos domingos pela manhã.

Passeio atenta entre aqueles corredores largos. Crianças choram querendo brinquedos, biscoitos, enlatados, pais justificam desesperados a impossibilidade de compra. No supermercado se vê claramente casos tristes de desigualdade social. Mas é também no supermercado que se vê reencontro, comentários sobre o futebol (por que homem sempre veste camisa de time pra ir ao supermercado?) e casos felizes de casais apaixonados.

Conheci um. Dona Clara e seu Osvaldo. Estão juntos há 46 anos. Quatro filhos. Cinco netos. Um bisneto. O segredo? Ir junto ao supermercado. Disse ela ao meu noivo que quase fez uma entrevista. “Tivemos várias crises. Nos separamos algumas vezes, mas sempre que ele resolvia me acompanhar ao supermercado tínhamos dias mais felizes”.

A verdade é que a ida ao supermercado nos faz observar outras realidades e agradecer pela a que temos. Nos faz observar outras famílias e, ao tentar nos ver inseridos em outros lares concluímos que podemos ser felizes do nosso jeito, na nossa casa. Que deixar de complicar traz felicidade.

Admiro os casais que vão juntos ao supermercado. É um divertimento familiar. É um gesto áspero, enfadonho de conhecer o outro.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Amizades



Tenho medo do escuro, mas me entrego ao desconhecido. Sou daquelas pessoas que no primeiro contato você pensa que me conhece desde a infância. Tem dúvidas se realmente não crescemos juntos.

Eu tenho um jeito de fazer as pessoas ficaram a vontade e sem menos esperar me desabafarem sua vida, seus problemas, suas angústias, seus medos, seus impulsos, suas traições.

É natural. Não forço amizades. Só me interessa corações. Não me aproximo das pessoas. Elas correspondem, aproximam-se de mim.

O serviço público tem me ensinado muito sobre os outros. O estado de mendicância que muitos vivem. A carência de atenção que eu percebo. O sofrimento de quem só precisa de um olhar, de um abraço, de um pouco de atenção, só precisa que alguém o ouça, e como nos custa ouvir. Nos consome tempo. Tempo é dinheiro. Dinheiro é uma desgraça pior que poder. E custa ser amigo. Muitos fazem questão de não ser. Eu sou.

Os domingos, bucólicos por si só, tornam-se depressivos e angustiantes quando amanhecem acompanhados de velório e anoitecem com enterros.

E sabem por que eu sou tão feliz? Descobri ontem.

Porque sem motivos nenhum, ou cheio de motivos, um amigo me olhou nos olhos e disse: “dou minha vida por você”. Engraçado que ele foi capaz dizer num momento de tanta angústia e fragilidade onde mesmo na fraqueza ele ofereceu o seu melhor.

Eu tenho amigos. Eu não vivo no escuro.

Não importa o que você tenha. Importa a sua honestidade em assumir.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Enfim, os dois.



Depois de meses se esbarraram no mesmo hotel. Era um evento sobre todos esses desafios que vieram juntos com o mundo moderno. Ela, ele, uma multidão e ao mesmo tempo, mais ninguém além de uma solidão comum. Horas tinha medo que ele a visse, horas queria esbarrar com ele na fila do café da manhã.

Deveria deixar de ser passional em tudo o que sentia; em tudo que fazia. Ele a viu. Sorriu. Baixou a cabeça e tentou disfarçar a vergonha, tentou conter a surpresa. Levantou-se. Caminhava na direção dela. Ela não conseguia ouvir nada além da trilha sonora que pairava na sua cabeça como uma machinha de carnaval "A boca tremia/ Os olhos ardiam/ Oh! Doce agonia/ Oh! Dor de viver/ De ver sua imagem/ Que eu nunca via". Sentou-se ao lado dela. Suspirou. Um suspiro parecido com um "enfim..." se não um "enfim sós" um "enfim o fim".

Mas algo deveria se esclarecer. É ruim quando as coisas se perdem, quando fica algo por dizer. Mas sempre fica alguma coisa que nunca foi dita. Sentia medo. O que menos queria era uma vida editada. As mãos trêmulas. Ela estava com uma aparência desagradavelmente notória. Sem graça. Arrepiou-se ao senti-lo. Pensou “meu Deus, será que ainda gosto dele?”. Era completamente possível que sim. Se olharam.

E era tanta coisa misturada naquele olhar. Ódio. Medo. Receio. Decepção. No fundo, vontade de abraçar e de brigar ao mesmo tempo. Dançar naqueles braços. Sentir aquele cheiro. Tocar aquele corpo.

“No meu quarto ou no seu?” suspirou no ouvido dela. Agoniou-se. Fez um ar de riso e se levantou. Ele a seguiu. Ela apressou o passo. Um corredor imenso. Segurou-a pelos os ombros e disse: “Eu sabia que íamos nos encontrar em um planeta abandonado no curto espaço imenso entre nós dois. Em nossos abraços, no meu descompasso e em seus sorrisos largos”.

A grande mentira que ele era, era verdade. Tudo que ela não queria admitir.

Nem sei se beijaram-se.

O telefone tocou. Acordei.

Questão de Educação


Os bancos deveriam providenciar um folheto explicativo sobre o uso do caixa eletrônico. Já observaram como as pessoas não sabem ao certo a utilidade daquela máquina? O quanto elas gostam de deixar que o tempo se esgote, que a operação seja anulada? E quando vão com 4 cartões? Pior, quando levam água, luz, telefone, cartão de crédito, prestação do carro, tudo para pagar no mesmo caixa e perdem a hora de ler o código de barra e começam a operação novamente, enquanto a fila, geralmente imensa aguarda, aguarda e aguarda.

Outro dia no MidWay, passei 20 minutos numa fila que só tinha duas pessoas na minha frente, de quebra, ainda perdi a sessão do cinema. Uma moça sacando, transferindo e pagando contas. Uma situação de falta de consciência e educação. Eu tenho vergonha de fazer isso, penso no tempo dos outros.

Mas, educação por aqui é coisa rara e sem remédio. A grande maioria não tem noção de espaço e respeito ao próximo.

Final da tarde de sexta-feira, depois de uma semana exaustiva de trabalho, viajo indisposta pra Natal. Mais de 4horas dentro de um ônibus. Primeiro, senta ao meu lado uma mulher com um menino de quase 6 anos no colo. Imaginei ”meu Deus, essa mulher vai passar 4horas com os quase 30kg nas pernas?” Mas não era problema meu, me junto da janela o máximo que posso, ligo Dorival Caymmi e tento dormir, não consigo. A criança estava empolgada demais em passar o feriado em Natal, soltar pipa, tomar banho de mar e “chegar à casa do tio Mauro pra encontrar o Lucas.”

Começo a ler. A mãe reclama “meu filho, a moça está estudando, chegue, encoste aqui em mainha”. O menino obedece. Consigo meia hora de tranqüilidade.

No corredor do outro lado, um rapaz espalhado na cadeira. Acredito eu, que ele seja a única pessoa nesse país que possuí um Iphone, tirou-o com gosto do bolso e ligou em altíssimo volume Thriller, do Michael Jackson. Começou a cantar com um inglês de péssimo tom. Coitado, não sabia nem o que estava dizendo.

Sinceramente não acreditei que ele fosse ficar ouvindo, mas ficou. Passou para Eternal Flame, de The Bangles, a pronúncia hilária “couse uas, baby io happe foiú, iouro fine a fime tcho iorlas dentes”, batia o pé, assobiava e mexia a cabeça e os ombros numa harmonia desafinada.

“Moço, boa tarde, tudo bem? O senhor pode colocar seu fone de ouvido, porque eu estou estudando e o seu som está me desconcentrando” pedi educadamente. Ele, grosso, respondeu “Posso baixar. Colocar fone de ouvido, não coloco”. Fechei e guardei meu livro.

Gente mal educada é igual à gente ignorante.

Olho pela janela e vejo Macaíba. Pronto. Só mais meia hora e já estarei no Machadão.

A falta de senso e noção de convivência pública a mim, incomoda demais.

Não gosto de ficar perto dessas pessoas. Contamina.

Não quero adoecer.