sábado, 1 de novembro de 2008

De pai pra filho


Conheço Flávio Rezende há algum tempo, não lembro nem como, nem de onde, mas certamente deve ser por causa do trabalho, ele é jornalista. Um grande jornalista por sinal. Diferente da maioria que eu conheço. Sério, integro, dono de um coração, de uma doação e de um amor pela vida e pelas outras pessoas que é admirável. Inclusive, se alguém souber algum defeito dele, me conte, porque esses anos todos, eu ainda não descobri nenhum além da bondade exagerada. Ah, se todos fossem iguais...


Um dos motivos pelo o qual mais o admiro, e ele sabe, é o jeito com quê ele administra a felicidade na vida. O jeito de começar, recomeçar, se apaixonar, se entregar, se ‘desentregar’, tudo sem perder o tom, sem descolorir o dia-a-dia. Hoje, Flavinho é casado com uma mulher maravilhosamente linda, se chama Andréa, e é de uma simpatia e leveza que nos faz cochilar de tanta paz. Casaram recentemente numa cerimônia linda que por outros compromissos, infelizmente, não pude ir.


Há algumas semanas, em Natal, quando eles foram me entregar o convite do casamento, conheci Gabriel, filho do primeiro casamento dele. Conheci pessoalmente porque de adjetivos eu já o conhecia muito bem. Gabriel me surpreendeu ainda mais. Primeiro pelo o nome de anjo, depois pelo o gosto da leitura, o respeito pelas outras pessoas e o amor pelo pai. Estávamos numa livraria, era o lançamento do livro de uma amiga que Flavinho faria a apresentação. Lá pude vê uma das cenas mais lindas da minha vida e que gerou uns segundos de aplausos e emoção em quem viu.


Gabriel estava no café com ‘tia Deinha’ – a forma carinhosa que ele chama a atual esposa do pai, que cuida dele como filho - enquanto Flávio cumpria suas atividades jornalísticas, digamos assim; quando o pai pegou o microfone e foi fazer a apresentação do livro, relatando os valores sociais, o respeito pelo próximo, Gabriel em um piscar de olhos pulou da cadeira do café e se jogou correndo nos braços dele. E foi lindo de se vê. Com o impulso infante de dizer ao mundo “é meu pai, é meu herói, tenho muito orgulho dele” Gabriel soltou clarões de luz que refletiram um lindo brilho no olhar, o anjo roubou a cena e encheu os olhos de muita gente de lágrimas, permanecendo lá, ao lado do pai até que o discurso terminasse.


Entendi naquela hora porque amo tanto meu pai mesmo sem tê-lo conhecido. Entendi porque a vida inteira minha mãe sempre fez questão de falar nele com os olhos cheios de admiração. Entendi que ela sempre quis que eu entendesse que não importa o que tenha acontecido, que mesmo que ele não esteja, que mesmo que haja fatalidades na vida, que mesmo que a gente caminhe sobre o fio de uma espada, o amor dele por mim é incondicional e o meu por ele deve ser.


Prendi a atenção naquele pai, me encantou o amor daquele filho. Nada é mais sublime do quê se ter a capacidade de despertar a admiração de uma criança; é muita nobreza de caráter. E Flávio consegue. Gabriel ama o pai, ama os amigos do pai e ama a mulher que faz seu pai feliz, mesmo que não seja mais a mãe dele, Gabriel entende, e o que é mais bonito, respeita as escolhas dos pais.


Espero conseguir ser para os meus futuros filhos metade do quê minha mãe é pra mim, metade do que vi Flávio ser para Gabriel. Por hora só uma coisa posso garantir, se amanhã eu descobrir que a relação homem-mulher entre mim e o pai acabou, o amor pai-filho, eu nunca vou permitir que acabe. Para os meus filhos, o pai que eu escolhi será sempre um Super Herói.