Quando eu era adolescente me apaixonei por um dos meus melhores amigos. Nem a tensão de entrar para o ensino médio e ter que estudar muito para passar no vestibular era mais importante do que esperar ele vir conversar comigo, nem que fosse para falar das garotas interessantes que ele conhecia na internet, no inglês, nos passeios do final de semana.
Lembro-me que nunca rezei tanto para não chegar às férias, fiquei para recuperação em matemática de propósito porque ele iria ficar, e nada era melhor do que acordar todas as manhãs ir ao colégio e sentar perto dele. Ele nem era muito bonito, mas era muito inteligente e tinha a chatice da pouca tolerância, normal dos inteligentes. Eu dava aulinhas de redação pra ele, e adorava quando ele não entendia alguma coisa e se aproximava de mim para eu explicar melhor. O cheiro dele, a respiração.
Nunca tive coragem de dizer o que eu sentia, tinha medo de perder a amizade, dele se afastar de mim. Os amigos encharcavam dizendo “isso ainda vai dar namoro” e eu ficava encabulada, ele desconversava. Na minha inocência adolescente, eu não sabia que ia perdê-lo de qualquer forma. Fosse pela morte, fosse pelo círculo normal da vida, e foi o que aconteceu.
As férias chegaram e na volta às aulas ele não voltou para a mesma escola. Lembro o quanto sofri. Queria mudar de colégio, descobrir onde ele estava estudando. Até que no Jern’s nos encontramos no vestiário do Parque Aquático. Era um dia de eliminatória. Ganhei prata nadando costas e ouro no revezamento. E na hora da premiação ele correu para o pódio, sorriu para mim e abraçou a campeã que era do colégio onde ele estudava; nada foi tão triste do que olhar ao longe procurando por ele e vê-lo caminhando de mãos dadas, trocando beijinhos com ela. Pra mim, os meses de treino e dedicação não tinham valido de nada. Foi a última vez que eu entrei numa piscina para competir. Foi a última vez que o vi.
Naquele dia me prometi chorando que dali em diante nada ia impedir que eu amasse com coragem. Acho que foi nesse dia que me tornei tão sensível, intensa e desaforada a amar pressionada em amar mais e mais.
Como mulher, admito tudo em um homem, menos que ele não ame com coragem. Amar com coragem é bem diferente de viver com coragem. Amar com coragem é caráter. Vem de uma obstinação que supera a lealdade. Vem de uma incompetência de ser diferente. É enfrentar sem pretextos de diferenças, distâncias, incompatibilidades. É entregar-se na madrugada e tomar café no carro para ganhar mais quinze minutos de carinho na cama.
Invejo quem planeja o amor. Quem se perfuma e compra roupa nova. Eu não consigo. Sou do amor fulminante, como um enfarte. De perder a razão, a hora, de esquecer a conta do telefone e a reunião do outro dia. O amor faz funcionar o que não existe.
Amo em segredo, a dois.
Amo com coragem, só isso.
Lembro-me que nunca rezei tanto para não chegar às férias, fiquei para recuperação em matemática de propósito porque ele iria ficar, e nada era melhor do que acordar todas as manhãs ir ao colégio e sentar perto dele. Ele nem era muito bonito, mas era muito inteligente e tinha a chatice da pouca tolerância, normal dos inteligentes. Eu dava aulinhas de redação pra ele, e adorava quando ele não entendia alguma coisa e se aproximava de mim para eu explicar melhor. O cheiro dele, a respiração.
Nunca tive coragem de dizer o que eu sentia, tinha medo de perder a amizade, dele se afastar de mim. Os amigos encharcavam dizendo “isso ainda vai dar namoro” e eu ficava encabulada, ele desconversava. Na minha inocência adolescente, eu não sabia que ia perdê-lo de qualquer forma. Fosse pela morte, fosse pelo círculo normal da vida, e foi o que aconteceu.
As férias chegaram e na volta às aulas ele não voltou para a mesma escola. Lembro o quanto sofri. Queria mudar de colégio, descobrir onde ele estava estudando. Até que no Jern’s nos encontramos no vestiário do Parque Aquático. Era um dia de eliminatória. Ganhei prata nadando costas e ouro no revezamento. E na hora da premiação ele correu para o pódio, sorriu para mim e abraçou a campeã que era do colégio onde ele estudava; nada foi tão triste do que olhar ao longe procurando por ele e vê-lo caminhando de mãos dadas, trocando beijinhos com ela. Pra mim, os meses de treino e dedicação não tinham valido de nada. Foi a última vez que eu entrei numa piscina para competir. Foi a última vez que o vi.
Naquele dia me prometi chorando que dali em diante nada ia impedir que eu amasse com coragem. Acho que foi nesse dia que me tornei tão sensível, intensa e desaforada a amar pressionada em amar mais e mais.
Como mulher, admito tudo em um homem, menos que ele não ame com coragem. Amar com coragem é bem diferente de viver com coragem. Amar com coragem é caráter. Vem de uma obstinação que supera a lealdade. Vem de uma incompetência de ser diferente. É enfrentar sem pretextos de diferenças, distâncias, incompatibilidades. É entregar-se na madrugada e tomar café no carro para ganhar mais quinze minutos de carinho na cama.
Invejo quem planeja o amor. Quem se perfuma e compra roupa nova. Eu não consigo. Sou do amor fulminante, como um enfarte. De perder a razão, a hora, de esquecer a conta do telefone e a reunião do outro dia. O amor faz funcionar o que não existe.
Amo em segredo, a dois.
Amo com coragem, só isso.