Eu adorava as tardes de sábado. Enquanto todas as mulheres da casa se mobilizam na faxina, eu brincava de bonecas no corredor. Entre uma bananada e o intervalo da TV, um carão de mamãe “tire esses brinquedos do meio da casa, menina!” “tem que tomar o copo todo” “vá escovar os dentes”. E assim, cansei de brincar.
A radiola ficava na parte de cima da estante. Eu tinha que subir no sofá para conseguir alcançá-la. Tirar os chinelos, afastar o sofá, e lá estava eu, em cima da estante, escolhendo o LP da minha preferência. Diferentemente das crianças de hoje que acoplam o seu acervo de hits em um aparelhinho que mede
Todos os dias começava por Nara Leão. Um LP de Coletânea da Philips, chamado “Personalidade” de
“Atravessei sete montanhas pra chegar no mar, por que nasci, nasci para bailar, porque nasci, nasci para bailar....” cantava e dançava pela casa como se tivesse flutuando na voz de Nara. E a voz de Nara faz flutuar. Sempre fez.
Lembro da minha alegria quando no Dia das Crianças ganhei um walkman e aprendi a gravar a fita. Passava as noites escondida no escuro do sofá na sala ouvindo a 105 Fm e gravando o flashback do programa de Duarte Neto, hoje, meu colega na assessoria da prefeitura.
A música sempre foi como meu temperamento. Uma paz de domingo, uma inquietude de sexta-feira. Uma penitência de segunda, um samba de dor. De dor de cotovelo, claro.
Sou movida ao som. Às vezes o do silêncio. Mas sempre o som. Nesse dia da Bossa Nova, me lembrei especialmente da interpretação de Nara “vou no raso, vou no fundo, mas um dia chego lá...”
Por que nasci.
Nasci para bailar.