1991 foi um ano super conturbado na minha vida. Eu tinha 7 anos e nunca gostei muito de brincar de boneca. Filha única na época, as minhas fantasias “mãe e filha” com os bebês de plástico eram mais reais no colo da minha Mãe e com minha Mãe no meu colo.
Apesar de sempre preferir brincar de banco, de escritório, de apresentadora e de artista, nunca me faltaram as bonecas. Todas. Das Xuxas às Barbies, passando pelos bebês e a inesquecível e insubstituível “Menina Flor”.
Eu criava universos desde muito cedo, sentava entre as bonecas todas arrumadas em círculo ao meu redor, enquanto contava histórias pra elas e gesticulava e calçava os sapatos da minha Mãe e vestia as saias da minha Avó e desafinava o violão da minha Tia e vivia como o centro das atenções numa casa de adultos.
Por isso também amadureci cedo, carreguei todas as referências dos meus tios jovens querendo ser uma Paquita mas adormecendo no balanço da rede ao som dos programas de rádio que comemoravam o fim da Guerra do Golfo, a independência da Crácia, dos “quistãos” e o fim da URSS.
Acho que não sou uma decepção maior pra minha família porque eles sempre souberam que eu gostava dessa vida paralela entre a imaginação e o real. Sempre tive dúvida entre o que existia e não. Até hoje, me confundo com o que certamente pode ter acontecido, ou com o que eu posso ter certamente imaginado.
Quando um pé resolve pisar no chão o outro logo pula em salto alto.
Em 1991, desejei muito ganhar um concurso de redação no Colégio. Lembro que minha Avó disse que eu fosse ao quintal, retirasse um dente-de-leão do chão e soprasse com muita força porque quando voassem aqueles pelinhos brancos o desejo que estava escondido lá no pistilo da flor, aconteceria. Não aconteceu. Fiquei chateada com o dente-de-leão, com a minha Avó, com a professora e quase nunca mais queria voltar ao colégio.
Era como toda criança quando não consegue o que quer ou quando sonha com o que não poderia ser. Ficava afobada, como fico até hoje quando desejo e deposito o resto da esperança que me resta no impossível e no improvável. Mas deve ter passado e pelo visto não me causou nenhum trauma. Até porque né.
Tenho me frustrado com os meus desejos e sonhos.
Será possível que o pessimismo sempre apareça quando a gente cresce? Talvez para fazer com que a gente se acostume ao desejo sem conquista. Para nos fazer aprender por mal que não se pode querer tudo. Para nos fazer perder a graça na vida quando se vê mais um dia indo embora. Quero estar errada. Quero pensar que o pessimismo chega pra que a gente tente outra vez.
Vi um dente-de-leão balançando no canteiro, trouxe pra casa e joguei em cima da penteadeira. Ficou lá durante dias até que resolvi soprar, pensei num desejo e ri de mim. De como eu poderia a esta altura da vida, depois de tantas decepções, ainda acreditar nos sonhos ou na realização de um desejo escondido numa flor.
Lembrei da inesquecível expressão da minha Mãe me apertando os ombros e dizendo que os “Sonhos não envelhecem” na tentativa de me fazer ir pro colégio depois do resultado do concurso. Coincidentemente ela entrou no quarto e eu quase peço para ela repetir o gesto, já que hoje somos do mesmo tamanho físico e ela me olha nos olhos sem precisar baixar a cabeça. Talvez ela, me fizesse acreditar.
- Pediu o que?
- Paciência - respondi jogando o talo no cestinho do canto.
- Menina!!! Você tem que guardar as sementes num vidrinho até o desejo se realizar. Não importa o tempo que demore.
[...]
O que importa é que os "sonhos não envelhecem" não é Mãe?!