Daí que eu não sou muito de ficar lendo e relendo as mensagens que encaminho e recebo. Estou errada. A gente deve ler e reler tudo que escreve para o outro e tudo que o outro escreve para nós. É o jeito lúcido de estarmos sempre atentos e lembrantes ao que alimentarmos com palavras - sobretudo quando se trata de amor.
Mas eu não sou de ficar relendo com expressão abestalhada na manhã seguinte as juras de amor que fiz na noite anterior pelo simples fato de gostar de enfatizá-las ou repeti-las em atos mais do que em palavras, aliás, o que pode surpreender ao mundo, eu não sou de chamar o outro de “vida” nem de repetir todas as manhãs “que não consigo viver sem você”.
Parece que aprendi a demonstrar nas coisas simples que alguém é especial, como quando eu ligo só pra dividir o fato de ter descoberto uma música nova no rádio. E se alguma vez, fiz isso com você, o risco de você está classificado numa lista “as 30 pessoas mais importantes” é alto.
Outro dia, tive que bater em casa no meio de uma reunião porque precisava do número de um telefone que estava anotado no celular antigo. Castigo, mas aquele lance da vida que números que dominavam a conta do celular há menos de um ano, hoje, nem aparecem nos contatos da agenda. Enfim, foi ligar o aparelho antigo e um bombardeio de sms da operadora invadiu a caixa de entrada. Entre eles, alguém que quis jantar comigo e tomar um vinho no dia 7 de dezembro e eu não reconheci o número nem vou ligar para perguntar e parecer deselegante, até porque né, o remetente parecia íntimo.
Fui apagando os sms apertando mecanicamente sucessivos ler/apagar ler/apagar ler/apagar - sem ler, até que o esquecimento me separasse da operadora. Até que outros sms tomassem de assalto meu descaso e me repetissem a mesma sensação que eu devo ter tido quando eles chegaram inéditos:
“só o amor vale a pena” “hoje é dia dos namorados, mas é de você que eu estou sentindo falta” “sou todos sorrisos pra você sempre” “você não resiste a minha ausência”
E tantos e tantos e tantos outros; recentes, pouco mais de um ano, enviados e recebidos e o que é pior, alguns salvos no rascunhos covardemente não encaminhados no meio da tarde, no fim da madrugada ou em todas as manhãs. Por nada. Do nada. Alguns incompletos, outros interrompidos, tímidos, engraçados, ansiosos, honestos e, ainda acredito, sinceros – pleonasmo, porque não há nada mais pleonasmo que o amor quando se entende.
Segui apagando, apagando, apagando. Um a um. E a gente deve apagar. Sempre acho digno discordar de mim, principalmente em causos de amor, é a prova que estou evoluindo ou, sabe-se lá retrocedendo, na maturidade dos meus sentimentos. Afinal, não vou andar por aí com o celular na mão lembrando o que se disse e o que se deixou de dizer.
Que tão bom quanto receber um sms escrito "love you" é encaminhar outro respondendo "eu também".
O que importa é que reler aquilo tudo, que eu nem lembrava que tinha sido tanto, tempos depois, me vez confirmar que o amor a cada dia é feito de hoje. Sem nenhum amanhã.