Você nunca mais voltou.
Você nunca mais ligou.
Você nunca mais apareceu.
Eu nunca mais fui.
Eu nunca mais liguei.
Eu nunca mais apareci.
Mas não é sua ausência que me agoniza. É a sua presença oculta, silenciosa, constante. É saber que você está aqui de qualquer jeito, a qualquer hora. E que você toma banho comigo, acorda comigo, dorme comigo, vê as coisas que vejo, lê as coisas que eu leio, faz as viagens que eu faço, vai pelos caminhos que eu vou. Que você sintoniza a mesma música que eu, bebe os mesmos porres, compra as mesmas revistas, se interessas pelos mesmos assuntos, evita o mesmo lugar, enfrenta as mesmas pessoas, contempla o mesmo Mar, toma as mesmas doses de remédios, mente as mesmas mentiras, nega a mesma sensação, chora as minhas lágrimas, sente as minhas saudades e beija as bocas que eu beijo, toca os corpos que eu toco, abraça os braços que me abraça, ama os homens que me amam e briga com eles e dorme com eles e os abusam e os mandam embora. E caí na vida comigo. Encontrando, perdendo. Arriscando de novo, e de novo, e de novo e, errando sempre. E agradecendo ao destino por essa infelicidade de não conseguir ser feliz, de não fazer feliz e de só encontrar vida na lembrança das curvas do seu rosto sorrindo pro meu.
Volte.
Ligue.
Apareça.
Vamos sumir.