Adoro ler questionários, deve ser mania de ‘marketeiro’. Evitamos o contato fazendo pesquisas. Gosto de respondê-los também. Uma das melhores formas de conhecer as pessoas é saber suas preferências. Sempre que termino de responder um questionário acabo conhecendo um pouco mais de mim, de gostos que eu nunca parei para pensar.
Uma das perguntas que não podem faltar num questionário é: “Viagem inesquecível” e, lá se vem às respostas mais importadas possíveis. Passeios que vão das Cataratas do Iguaçu às Pirâmides do Egito, que voltam do Rio de Janeiro ao Museu do Prado, em Madri.
Meus sonhos de viagem são mais simples. Todas as noites eu viajo nos meus sonos demorados e nas minhas insônias insuportáveis. A minha ‘viagem inesquecível’ se deu na estrada, no caminho. Uma viagem corriqueira, que tinha tudo para ser como todas as outras. Entrar no ônibus e seguir por exatas quatro horas até Natal, como costumo brincar parodiando a música: “eu conheço cada buraco dessa estrada...” se somaria ao cansaço de um final de semana qualquer, não fosse meu colega do lado direito.
Peguei o ônibus atrasada nas paradas do caminho, como sempre, uma cadeira na janela, no meio, do lado esquerdo, que ainda não tenha companhia no corredor. Entro, sento, ligo o meu Ipod cheio de sambas e começo a ler José Juan Saer. O ônibus segue, mais duas paradas, o meu companheiro de poltrona senta. Desta vez, um senhor, alto, franzino, careca, moreno, os olhos fundos, o sorriso amarelado, a voz tão rouca e grave que me lembrou aqueles locutores de rádio do alvorecer.
- Boa tarde, moça.
Respondi me afastando com um sorriso encabulado.
Ele ficou me olhando, querendo puxar assunto. E eu, mentalizando para que ele não encontrasse um caminho, queria ler. E de repente começa a me perguntar do livro. Resumo sem graça, falo um pouco do autor e já vou fazendo sinais de que quero voltar à leitura. Ele insiste. Depois de alguns minutos de conversa, me disse que era professor aposentado de literatura e estava indo à Natal visitar a filha e conhecer o neto que tinha nascido há quatro dias. Abandonei a leitura, cheguei a Lajes sem sentir. Finalmente, alguém entendeu – sem me achar exagerada – a paixão que sinto por Pablo Neruda e Caio Fernando de Abreu.
Se aproximando de Natal ele resolveu perguntar minha descendência, fiquei desconfiada. Mas, contei. Disse de quem era filha, neta e até ousei entregar-lhe um cartão profissional com meus contatos e sugeri que encaminhasse uns artigos para publicação no jornal. Em vez de ler o cartão ele me olhou nos olhos e disse enfático: “Eu fui professor do seu pai”. Não podia ser. Ele não podia me conhecer ou lembrar. Vinte e quatro anos não são vinte e quatro dias e, certamente, fazia mais tempo. Ele só podia está confundindo, então, exclamei: “Do meu pai!!! Não, não, acho que o senhor está me confundindo com alguém...”. E quando vou respirando para justificar as minhas verdades ele começa a relatar parte da minha vida com intimidade e um conhecimento que eu desconhecia. Emocionada, olhei pela janela, o ônibus se aproximava do Machadinho e eu não demoraria mais do que 5 minutos ao lado daquele senhor. Tinha que descer.
Entendi naquele momento o que é história. Entendi o que é passagem, o que é paisagem, o que é passageiro. O meu companheiro de poltrona me ensinou que uma viagem para ser inesquecível precisa ser plena. Mesmo que ela chegue ao fim antes que façamos todas as perguntas.
Uma das perguntas que não podem faltar num questionário é: “Viagem inesquecível” e, lá se vem às respostas mais importadas possíveis. Passeios que vão das Cataratas do Iguaçu às Pirâmides do Egito, que voltam do Rio de Janeiro ao Museu do Prado, em Madri.
Meus sonhos de viagem são mais simples. Todas as noites eu viajo nos meus sonos demorados e nas minhas insônias insuportáveis. A minha ‘viagem inesquecível’ se deu na estrada, no caminho. Uma viagem corriqueira, que tinha tudo para ser como todas as outras. Entrar no ônibus e seguir por exatas quatro horas até Natal, como costumo brincar parodiando a música: “eu conheço cada buraco dessa estrada...” se somaria ao cansaço de um final de semana qualquer, não fosse meu colega do lado direito.
Peguei o ônibus atrasada nas paradas do caminho, como sempre, uma cadeira na janela, no meio, do lado esquerdo, que ainda não tenha companhia no corredor. Entro, sento, ligo o meu Ipod cheio de sambas e começo a ler José Juan Saer. O ônibus segue, mais duas paradas, o meu companheiro de poltrona senta. Desta vez, um senhor, alto, franzino, careca, moreno, os olhos fundos, o sorriso amarelado, a voz tão rouca e grave que me lembrou aqueles locutores de rádio do alvorecer.
- Boa tarde, moça.
Respondi me afastando com um sorriso encabulado.
Ele ficou me olhando, querendo puxar assunto. E eu, mentalizando para que ele não encontrasse um caminho, queria ler. E de repente começa a me perguntar do livro. Resumo sem graça, falo um pouco do autor e já vou fazendo sinais de que quero voltar à leitura. Ele insiste. Depois de alguns minutos de conversa, me disse que era professor aposentado de literatura e estava indo à Natal visitar a filha e conhecer o neto que tinha nascido há quatro dias. Abandonei a leitura, cheguei a Lajes sem sentir. Finalmente, alguém entendeu – sem me achar exagerada – a paixão que sinto por Pablo Neruda e Caio Fernando de Abreu.
Se aproximando de Natal ele resolveu perguntar minha descendência, fiquei desconfiada. Mas, contei. Disse de quem era filha, neta e até ousei entregar-lhe um cartão profissional com meus contatos e sugeri que encaminhasse uns artigos para publicação no jornal. Em vez de ler o cartão ele me olhou nos olhos e disse enfático: “Eu fui professor do seu pai”. Não podia ser. Ele não podia me conhecer ou lembrar. Vinte e quatro anos não são vinte e quatro dias e, certamente, fazia mais tempo. Ele só podia está confundindo, então, exclamei: “Do meu pai!!! Não, não, acho que o senhor está me confundindo com alguém...”. E quando vou respirando para justificar as minhas verdades ele começa a relatar parte da minha vida com intimidade e um conhecimento que eu desconhecia. Emocionada, olhei pela janela, o ônibus se aproximava do Machadinho e eu não demoraria mais do que 5 minutos ao lado daquele senhor. Tinha que descer.
Entendi naquele momento o que é história. Entendi o que é passagem, o que é paisagem, o que é passageiro. O meu companheiro de poltrona me ensinou que uma viagem para ser inesquecível precisa ser plena. Mesmo que ela chegue ao fim antes que façamos todas as perguntas.
2 comentários:
Nossa que texto...essas coincidências sao interessantes por demais...conheci seu blog por acaso e agora fico ansioso para o que vai ser postado...parabéns
Adoro suas palavras!!
Acho q vou ler tudinho de uma vez só!!
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