Ingratidão é como ódio. Só dói em quem sente. É como a indiferença sem motivos óbvios. Engraçado é a gente perceber depois de um certo amadurecimento que na vida existem pessoas que não merecem ter nossa atenção quiçá o respeito ou admiração, pessoas que simplesmente não valem a pena.
No meu último aniversário uma amiga pediu espaço para falar algumas palavras sobre mim, e em meio a tantos adjetivos, alguns até que eu nem merecia, me chamou atenção quando ela disse “a forma com quê você se doa pras pessoas, seu jeito entusiasmado que sempre faz bem."
Ela me deu sem saber a resposta que eu mais buscava nos últimos dias. Porque tenho tanto apreço e consideração por algumas pessoas que não merecem se quer minha atenção? Sou uma otimista e sonhadora incorrígivel e tento ao máximo passar isso para quem está ao redor e, se eu não puder fazer o bem por alguém, eu não faço nada.
Tenho pensado muito esses dias. Já me flagrei várias vezes refletindo até ‘frases do dia’ daquelas vindas no biscoito chinês. Mas, enjoei de ser doce.
Ando me escondendo, é bem verdade. Sumida. Fechada. Propositalmente inalcançável. Só o tempo conhece o caminho, os atalhos, as brechas e todos os dias eu recebo uma cota de sol, de sabedoria, de carinho.
Desapeguei. Despojei. E a liberdade tem mudado discretamente o meu dia-a-dia.
Ela tem tido um parceiro forte que nesses momentos de faxina interior, fica parado na porta reclamando da poeira e botando defeito. Reclamando dos cantos, da sujeira em baixo do tapete, e sempre pisa onde acabei de limpar. Fica impedindo que a melancolia domine.
Engraçado que essa semana quando ia para o trabalho parei no sinal e li no pára-choque de um caminhão “Não repare a poeira que está a minha volta. Deus está em obras na minha vida.” É brega, eu sei, mas lembrei do lance da faxina, e as palavras têm sido minha cota diária de luz e ar no meio de tanta mudança.
O entusiasmado unido à liberdade exige que as coisas mínimas beirem a perfeição. E aos poucos tudo está ficando tão limpo e brilhoso como passar óleo de peroba na madeira. Um organizado desorganizado que eu entendo.
Só assim, conhecendo os cantos da alma, os lugares onde escondemos os segredos, é que podemos limpá-la. Não basta limpar o aparente, é preciso revirar e limpar quantas vezes forem necessárias. Abrir a janela algumas horas no dia pra entrar um pouco de luz e ar.
Essas faxinas fazem bem. Trazem paz. Limpam. Curam. Fortalecem.
Entusiasmo... Me faz um bem que ninguém faz.
Ele é um pouco de sol.