segunda-feira, 3 de maio de 2010

Depois da noite, a ressaca

É como ouvir Fagner depois de fazer amor. Sensação de sábado qualquer. Você se arruma, faz uma maquiagem para sentir-se melhor, sabendo que o pensamento masculino será “ela se produziu toda na tentativa de me seduzir” e senta no bar mais longe de você, na mesa que você menos se identifica, com colegas que você não gosta e amigos que você gosta demais em busca do que você não conhece.


Ainda tem as desesperadas que ficam mandando bilhetinhos para o cantor pedindo hinos que vão de Reginaldo Rossi a Alcione e o boy da mesa ao lado escrevendo cantadas copiadas das embalagens do Serenata de Amor em guardanapos.


No domingo você acordará vazio, com dor de cabeça, gritando enquanto faz a cama e guarda as roupas da noite anterior: hoje só acredito no pulsar das minhas veiaaaaaassss – e sinceramente, há momentos na vida que é o melhor em que se acreditar.


Se a noite terminar em sexo, você acorda cantando Asa Partida bem naquela parte: gemido, morto amor, tão longe vai, tão longe voooooooou – sem falar na saudade, no cigarro, na luz acesa, você pensa com uma convicção “Poxa, como Fagner tem razão, nuvem sem rumo é assim mesmo”.


Agora, colocar os pés no chão e cantar Jura Secreta é o domingo do sábado falido, mas, o domingo é o começo da semana e outros sábados virão depois da sexta-feira, o que não adianta porque você acordou cantando “só uma coisa me entristece o beijo de amor que eu não roubei” no domingo que sucedeu aquele bendito sábado, e é foda não ter coragem para roubar um beijo de amor, mas é tão foda, que a vontade que dá é tomar uma dose de cana antes mesmo de escovar os dentes.


Não roubar um beijo que se deseja é como terminar um relacionamento e depois da divisão de papéis não ouvir Bilhete de Ivan Lins bem alto, com uma dose de uísque sem gelo e todas as fotografias espalhadas no chão.


Não ter motivos para pensar numa volta é o sábado. Tê-los para roubar um beijo e causar um briga de amor é o desjejum do domingo.

Um comentário:

@monicacompoesia disse...

A coragem de roubar um beijo é proporcional ao seu desejo...
O bom dos finais de semana é o fato de nunca serem finais...