sábado, 15 de maio de 2010

Tempo (des) honesto

O cafezinho da esquina está para a mesa de bar. É quase um ritual vespertino. Paliativo que funciona como descarrego emocional. Se as pessoas soubessem o quanto um cafezinho no final da tarde faz bem - ainda que depois voltem ao trabalho, vão para academia ou para aula – elas não precisavam de terapia.

Outro dia, numa mesa de bar, digo, de cafezinho, descobri duas grandes bobagens que a gente geralmente comete nos relacionamentos. Uma no início, quando tudo ainda são flores, café e bossa nova, outra no final, quando tudo já são espinhos, samba e leite com Nescau.

A última é “pedir um tempo para terminar”. A primeira é “pedir um tempo para começar”. Muita gente faz isso, é verdade. No começo, pela dúvida da paixão, no final, pela dúvida do amor. Afinal, como já se sabe, relacionar-se é duvidar.

Eu, (não sei o que eu sou quando escrevo essas bobagens), bem, essa Moça que vos escreve essas bobagens, nunca entendeu muito bem esse negócio de tempo. Nunca entendeu outro tempo que não fosse agora. Tem verbos para mim que só se conjugam no presente: eu amo, eu namoro, eu quero. Com todo respeito a Vinicius, por toda minha vida eu só sei que vou amar minha mãe.

Como é? Vamos! Preciso entender esse negócio de “tempo”. Suspeito que seja assim: vocês namoram tudo certinho, engomadinho, dormem juntos, você acorda tarde e o outro decide dá um tempo para viver novas emoções. É isso? Viajar, conhecer pessoas novas, experimentar drogas, tomar porres, procurar outro parceiro e, se não encontrar um que satisfaça os desejos na rua, na grua e na cama ele volta para o comodismo da vida segura com você. Isso é dá um tempo no final?!

E no começo? É conhecer alguém na balada, trocar o número do celular, ficar cada vez mais dependente, mais íntimo, morrer de ciúmes do lençol que o outro dorme porque não tem seu cheiro, receber uma ligação às 2h da manhã para ouvir: preciso me afastar de você para não me envolver, “precisamos de um tempo”.

Ah, hipócritas!

Fugir do que se sente (de bom e de ruim) é remar contra a maré. É sofrimento óbvio. Se for pra terminar, pra quê tempo?! Se for pra começar pra quê esperar?! Felizes são as pessoas que amam e desamam sem preocupações. Que tem consciência que a vida é ingrata mesmo. Que no momento do prazer se fala o que não se sente. Promete o que não se cumpre. Que o amor é foda e a paixão é pior.

Esse negócio de tempo em relacionamento só me faz acreditar cada vez mais no amor barato e vulgar. Inclusive, o melhor amor para a convivência, o que eu defendo com segurança, o único que corre o risco de durar até que morte separe.

Se os amantes não têm coragem de dizer, digo eu:

Um tempo no relacionamento é conversa decisiva. Seja no início, seja no final.

Não é vírgula coisíssima nenhuma. É ponto final.

Parodiando Chico, põe a roupa de sábado e pode esquecer.

7 comentários:

@monicacompoesia disse...

Amar, assim como se apaixonar, não é algo buscado pelos covardes.O que eles desejam e esperam do outro não é amor, é apenas zona de conforto.

Gabi Damásio disse...

veja bem, meu bem... sou do tempo que vive no pesente, hoje, agora, já!
nunca acreditei em tempo, isso fica pra os covardes. eu já tô preparando para vestir a roupa de sábado e você? já separou a sua?
Vamos sambar....

Marcelo disse...

Laris, Laris...
Se apaixonar por você é inevitável.

Katharina Paiva disse...

Lariiii, que texto lindo!
Vou cobrar: o livro? cadê? deixe de enganar as pessoas e publique logo isso!

J. disse...

Eu nunca daria um tempo prá você. Textos fantásticos, Larissa Gabrielle. Nem parece aquela menina que ficou vermelha quando eu disse o quanto era interessante e inteligente. Continue assim, MULHER em caixa alta.

Frank Dantas disse...

É a pura verdade, o alcool não combina com direção nem com computador. kkk

la increible aventura disse...

vamos viver o hoje: ligar os computadores, celulares, coletar papéis e outros meios. vamos escrever e enviar, gastando o pensar com o que deve ser dito (e na sua melhor forma) e não com a dúvida que surge antes do "send". é escrever, pensando que já está sendo lido. é mais divertido.