segunda-feira, 14 de junho de 2010

Querido Diário - Atos I e II

A ideia surgiu há umas três semanas quando confessava para um amigo o prazer de abandono que eu tinha em escrever diários. Explicava pra ele numa mesa de pizza que o Twitter tinha se tornado o meu diário diário, que eu despejava em cento e quarenta caracteres o que antes escrevia em páginas coloridas, cheias de recortes, papéis de chocolate, guardanapos, comandas, etc e tals. E que, quando datava alguma coisa, era a lição do dia, como por exemplo: a moral da história, nos diários. Andei relendo alguns diários da minha adolescência. Lá na escada dos quinze, dizer seis, dizer sete, dizer oito. Hoje, dez anos a mais, dez anos depois, resolvi fazer um treino desordenado. A pontuação não é linear, os pensamentos nunca foram. Minha meta é manter a disciplina por pelo menos uma semana. Espero conseguir. Não precisa gostar. Eu nem ia publicar aqui. #Humpf

Quarta-feira – 9: Tá. Eu bem que poderia começar este diário em qualquer outro dia da semana Mas, hoje é quarta-feira. Nove. Ímpar. 4+5 = 9. 3x3=9. Não existe dia melhor na semana do quê a quarta-feira. Inclusive, antes que eu esqueça, nasci numa quarta-feira, 4, mês 4, ano 84. Não há relação com o nove, eu sei; há relação com a quarta-feira. Uma vez, numa fase rebelde da adolescência – aquela fase que eu usava um pentagrama no pescoço, tinha os cabelos encaracolados na cintura e calçava all star, procurei um numerólogo e ele me disse que eu teria quatro amores felizes, teria quatro filhos, cursaria quatro faculdades e juntaria uma poupança de quatro bilhões (essa parte da poupança é mentira, acho que a dos amores também conseqüentemente a dos filhos). Só sei que viverei no máximo mais 4 anos, tá bom, ta bom 40. Enfim, o quatro que somado ao cinco resulta o nove é um número relevante na minha vida, apesar de o sete ser o meu número da sorte. Ímpar. Hoje o dia foi inerte. Acordei cansada. Atrasada. Com chamadas desconhecidas no telefone. Não lembro o que meu tio falou durante o percurso Avenida Diocesana/ Avenida Rio Branco. Lembro que o locutor na AM reclamava das ruas sem saneamento na periferia, lembro que cheguei a anotar o nome das ruas, não lembro se foi um bom dia. Tomei um cappuccino com os amigos no fim da tarde, falamos sobre cinema, literatura, comunicação, coisas bregas, coisas cafonas. Ah, peguei um brigadeiro de panela no lugar do troco pra adoçar a noite. Estava ótimo. Cheguei em casa e a melhor hora do dia foi ao meio dia e pouco quando folheava uma agenda antiga em busca de um contato e encontrei Ana Cristina César: Não, não sou como você, que diz que não acredita, eu sim fico crente, e de mau humor, e acho que tudo é de verdade. Ponto. Parágrafo. E sei lá, sabe!? Hoje eu cheguei à conclusão que tem fases nessa vida que a gente precisa saber escolher os pensamentos.


Quinta-feira – 10: Meus contos de fadas. Os príncipes que eu sempre derrubo do cavalo. Já é dia 11 (ímpar) e eu ainda não acordei o dia 10. Como eu trabalhei hoje. Teve um momento entre nove da manhã e meio dia que achei que fosse surtar com o telefone tocando, com pessoas esperando, com os pensamentos chamando, com umas trocentas coisas para resolver e a sensação de ter responsabilidades para o fim do dia suficientes ao fim do mês. Mas, acabou. O celular, o computador e o relógio já me dizem que é dia 11. Não sinto sono. Acabou e eu cheguei em casa tropeçando na edição do mês da Revista Piauí que traz Michel Temer se achando “a cara do Brasil”. Vou começar a ler, a entrevista tem umas sete páginas naquele estilo da Piauí-diagramação de bula de remédio. Ah, mas hoje li uma entrevista ótima na Trip com Marinho Chagas (artilheiro do Botafogo quando eu nem sabia o que era futebol) e, graças ao homem e ao lobisomem existem o Canal 100, o You Tube e os amigos que viveram o momento, guardaram os recortes e me contam de olhos brilhantes as alegrias. Só para variar com os outros dias do mês, não almocei. Nada foi muito engraçado hoje. Enquanto anoitecia eu tinha vontade de me transportar para qualquer lugar abaixo do Trópico de Capricórnio, abaixo do Círculo Polar Antártico, abaixo da Zona Fria Sul, abaixo do Equador que eu estava, que eu estou. Um quarto com a luz do banheiro acesa, a porta encostada e um silêncio de cheiro, colo e carinho. Bobagem minha, me deixa pra lá.


2 comentários:

Neide Carlos disse...

Eu queria muito escrever bem como você.

@monicacompoesia disse...

Viver pelo prazer da trajetória e pela felicidade de ter o dom de contá-la como história.