Eu sempre quis escrever algo sobre Natal. Comecei várias vezes e vou começar novamente, torcendo para chegar ao fim. Eu sempre quis escrever alguma coisa sobre Natal para esclarecer porque Natal é uma cidade que mora no meu coração.
Daí, no último domingo, eu acordei em Natal. Acordei cedo. Apesar da noite anterior curtida em pratos mexicanos no paraíso da Pipa, despertei com os papagaios. Precisava viver um domingo cheio de graça. Fui pra rua. Não amanheceu um dia tão lindo quanto amanheceu o sábado, mas amanheceu domingo, cheio de cores. Natal é uma cidade muito colorida. E eu comprei flores. Comprei flores naturais para colocar no quarto, pétalas amarelas, que lembravam girassóis. Sois. Só eu estava. A solidão me restava.
Eu sempre me esqueço. A gente esquece. Aquele mar, aquele sol, aquele rio. Aquele rio que encontra o mar. Aquele amor que cruza o oceano para se encontrar.
Natal não tem o que crescer. Se Natal virar Miami não terá mais o bucolismo, a depressão, o silêncio, a solidão. As esquinas não serão saudade. Os bares não serão amigos. Não terá história. Não terá charme. Natal precisa continuar sendo uma cidade matutina, vespertina. Uma cidade de dia, de manhã, de tarde, de sol.
Eu devo muitas alegrias a Natal. Eu devo momentos ímpares. Devo amor. Devo cafés da manhã na cama, devo jantares a luz das velas, ao brilho da lua. Devo madrugadas de samba. Devo boemia. Devo dias lindos, como os amigos lindos que Natal me deu.
Devo o regresso.
A ansiedade pelo os braços do homem amado. O desembarcar de amor. As despedidas desesperadas, sofridas, o coração partido. Mas no meu coração sempre está faltando um pedaço. Sempre está partido. Sempre está partindo.
Deixo os amigos, deixo as paixões, deixo os amores. O desejo, a toalha molhada, o lençol sujo de duas ou três noites dormidas, muito mal dormidas. Sempre não dormidas.
Os novos amores. As novas descobertas. Os novos lugares. Os novos mundos. O refúgio de sol.
A verdade é que a história se repete e sempre se passa em Natal. E sempre é madrugada porque Natal é uma cidade matutina/vespertina.
Domingo é dia de partir. Só queria que isso mudasse.
Vem amor, chegue aos domingos para eu poder explicar porque Natal mora no meu coração.
Já é madrugada, se é madrugada, então é segunda.
A gente se refaz.
Faz calor. Há tesão.
Abro a janela, deixo o vento entrar. Despetalo as flores. Uma a uma. Lentamente.
Por que eu sinto você aqui? Por que você está nas esquinas? Por que você não deixa? Por que você não me faz feliz?
Ah, Natal.
Ouço o seu silêncio.
Estou sempre partindo de você mas nunca vou embora.
2 comentários:
Não gosto de Natal. Gosto de como você escreve. Menina, você lembra Ana Cristina César, morrendo de amor e sinceridade.
"Estou sempre partindo, mas nunca vou embora" - Linda!
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