terça-feira, 9 de novembro de 2010

Passei uma grande fase tênue entre Anais Nin e Simone de Beauvoir. Não faz muito tempo. Quatro meses, cinco - no mínimo. Pesquisei entrevistas, comprei livros, juntei material suficiente para uma tese de mestrado escultural sobre a relação das autoras com os homens, com o sexo, sobretudo com os seus amantes Henry Miller e Jean -Paul Sartre.

Li histórias apaixonantes. Apaixonei. Só pensava nisso, só falava nisso. Passava o dia inteiro no trabalho ansiosa para chegar em casa e me debruçar naquelas histórias de paixão como quem espera o dia inteiro para debruçar-se nos braços da pessoa amada para ganhar carinhos.

As experiências das autoras abraçavam minha alma.

Um dia, conversando com uma grande amiga jornalista e filósofa ela perguntou: ah, você tá nessa de Anais e Simone? Vou mandar uma entrevista pra você. Dias depois, caí no email.

Hoje, durante os meus calafrios febris lembrei o que eu sempre esqueço. Não sei se por ironia, por opção, por juramento. Foi aí que me levantei arrastando o edredom até a estante de livros que passou por uma faxina tirando o meu Tête-à-Tête dentre os dois volumes de O Segundo Sexo, de Simone e Em Busca de um Homem Sensível, de Anais Nin e colocado entre as biografias de JK, escrita por Cláudio Bonjuga e a de Chatô, escrita por Fernando Morais. Não lembro se a obra da mudança foi minha, e isso, agora, pouco importa ou tanto faz.

Voltei para o quarto e sai dedilhando o livro entupido de post-it com anotações de sensações, dúvidas e termos em outros idiomas para procurar tradução. Caminhei pelas páginas e achei o que eu queria:

“A mulher apaixonada tenta ver com os olhos dele; lê os livros que ele lê, dá preferência à música que ele prefere, só se interessa pelas paisagens que vê com ele, nas idéias que vêm dele, adota as amizades, as inimizades, as opiniões dele, quando se questiona, é a resposta dele que tenta ouvir (…) A suprema felicidade da mulher apaixonada é ser reconhecida pelo homem amado como parte dele, quando ele diz “nós”, ela está associada e identificada com ele, compartilha do seu prestígio e reina com ele sobre o resto do mundo: nunca se cansa de repetir – até o exagero – esse deleitável “nós” “

Estava lá, com um post-it azul datado de janeiro/2010: Por que eu não consigo mais alimentar essas frescuras?

Conclusão.

Não tinha mais paciência com os homens. Calma, vou explicar, porque do jeito que eu sou mole vão começar a espalhar por aí que eu escrevi que ia virar lésbica, e com todo respeito, cheiro de mulher perto de mim, já basta o meu.

Pois bem, a minha paciência com os homens estava naquele verão e talvez ainda esteja neste veraneio estourada porque no geral os homens que eu tenho conhecido têm me dado preguiça. Preguiça de gastar o meu latim, o meu perfume francês e todo o meu conhecimento de samba e literatura latinoamericana no café da esquina. Preguiça de responder a DMs e SMS no dia seguinte, preguiça de anotar o número do celular e de atender e de ligar. E, esclareço, já ouvi isso com outras palavras e justificativas, de várias mulheres. O que caberia até uma ponta de preocupação nos homens que se importam, se ainda existem os que se importam.

Talvez estejamos conhecendo os homens errados. Talvez sejam eles, que se assustem com mulheres como nós. Com exigência e dificuldade de suportar ou não suportar.

Nunca fui de sair procurando amor, paixão, nem nada. Sempre defendi que tudo isso acontece naturalmente. Aliás, aliás, guardadas as devidas proporções, comigo sempre aconteceu. Eu sempre me apaixonei. E re-apaixonei. (Re) apaixonar porque o que sempre me encantou na paixão foi esse jeito que ela tem de reascender a chama num simples beijo roubado no trânsito, na paradinha no sinal.

Mas, voltando a pergunta: Por que eu não consigo alimentar frescuras?

Preciso reformular.

Nosso mundo mais um pouco do mundo do outro – nunca será uma equação exata. Nem muito menos “esse deleitável ‘nós’”.

A mesma direção. O mesmo foco. O mesmo mundo; se completando, se encontrando, se difundindo, e enfim, se unificando. É a equação? Maybe.

E eu que pensava que sabia alguma coisa sobre o amor.

Que nada.

Em tua alma...os meus sentidos.

E foi aí que eu entendi que isso seria tudo.

Bastava só o que eu queria.

Queria que você estivesse aqui.

O que você também queria, eu sei.

5 comentários:

Neisa disse...

Amiga, que lindoooooo... Amei. Vc é demais MESMO.

Carlos Santos disse...

Menina, que texto bonito.
Uma cronista de mão cheia, traço refinado; requinte para moldar as palavras.
Transbordas sentimento.
Velejas com o verbo, razão e paixão, no convés.
Parabéns.
Carlos Santos

Seyssa disse...

Ah quem me dera!
Quem me dera ter um talento tão natural como seu onde é impossível não se identificar na emoção, no sentimento descritos.
Se Deus decidisse ser mais generoso comigo do que ELE já O é, não hesitaria duas vezes em pedir-LHE: ensina-me como ela faz!
Parabéns pelo belo texto, pela coragem em se revelar na essência feminina.
Sou sua fã. Está longe de deixar de ser. Beijo grande querida.

Priscilla Freitas disse...

Que primor!
Parece a música de Pink Floyd - Wish You Were Here. Queria que você estivesse aqui.

Emerson Dantas disse...

Lindo Texto, adorei seu blog e já estou até seguindo!!