Ando meio desgostosa com a vida, sabe. Não que ela tenha culpa dos acontecimentos que me desafetam dela. Não que o domingo exista e esteja amanhecendo e eu tenha me divertido a madrugada inteira. Não que eu tenha feito coisas que não condiziam com a minha postura de alguns meses atrás, não que eu esteja mais bêbada que sóbria enquanto devaneio palavras.
Sempre achei que poderia ser uma pessoa melhor se me agarrasse à convicção de que não existe outra vida. Viver sem desculpa (sem perdão). Fazer o quisesse fazer, sentir como se quisesse sentir.
Digo isso inúmeras vezes a todos. Digo que isso pra mim, remete sempre aquela oração de São Francisco: amar como jesus amou. E só existe uma única chance, obrigada. E sempre vivo jogando essas chances fora porque se a fé não é minha, tenho o dom de desconfiar do milagre. E pago tudo em gratidão. E doação. E amizade. E afeto.
A angústia que me domina só confirma a certeza que eu sempre tive que morreria outra vez. Sorte minha ter esse dispositivo chamado consciência que sei onde piso as dores.
Por isso, essa necessidade de fuga, de exilio, de não querer acreditar, de não permitir que aconteceu e eu não tenho mais como negar que não.
A vida me impõe as decisões de uma vez, por todas as vezes que me restam. Essa inclinação ao difícil me atormenta. A vontade do desafio instiga. Eu sou assim. Consigo ver oportunidade num metro quadrado de chão, consigo ver amor no sorriso, consigo ver poesia na porta, consigo. Não sei se é bom não conseguir. Nunca consegui outro jeito de ver.
Estou triste. Muito triste. Me sentindo como um jogador que lê toda síntese do problema e não consegue ter coragem de jogar. Que sabe como movimentar as peças e não consegue tocá-las.
A ideia de mudança sempre me desespera. A inquietação pelo o novo espaço, pelo o novo corpo, pelo o novo. Porque me desespera o sofrimento. E eu vou controlando a razão e o meu coração não se controla. E meu descompasso é a emoção. É a partida que me parte. A indiferença necessária para a cicatrização é que me barra o enfrentar dos processos.
Bobagem, minha. Sou consciente, já disse? Não quero me repetir. Sei que vou ter que resolver que não vou ter como fugir e nem preciso me prometer que não vou mais criar relações de amor com isso ou aquilo porque, porque, eu sei que vou criar até morrer e morrer.
Melancolia mais que medo. Saudade mais que lembranças.
Não sei escolher.
Não sei o que mais divagar. Preciso do discernimento que me falta agora. Preciso do sono que a vontade de escrever interrompeu. Preciso do banho de água quente, de outra dose, não preciso. Talvez de água. Mais música. Mais ar. Mais tempo.
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