domingo, 24 de abril de 2011

Um carrossel de sonhos

Eu tive um sonho à beira-mar. Era madrugada que amanhecia sobre chuva. As jangadas levantavam suas velas enquanto eu balançava os sonhos sob a rede armada na varanda que dava pra praia.

Ouvíamos Belchior tomando vinho barato e discutindo coisas que somente as estrelas ouviam – as do espaço e as do mar. Outras pessoas chegavam, se beijando, se embriagado e se amando, cheguei até a pensar que essa historinha de espirito de paz durante a páscoa não era balela, enquanto acendíamos cigarros para aquecer o frio que o vento da chuva ardia. Falávamos do quanto o frio também arde, principalmente quando o fogo de quem está por perto não aquece.

Liamos, cantávamos, gargalhávamos das nossas próprias histórias e, como nos sonhos, constatávamos que felicidade é mesmo algo que não se compra. Aprendemos isso cedo, ainda que longe. Mas a vida compensa quando tudo começa a girar.

E, sempre que a roda da minha vida começa a girar lembro o carrossel azul que eu tinha na infância, meu brinquedo favorito. Adorava passar horas dando corda enquanto os cavalinhos giravam subindo e descendo ao som daquela melodia de porta joia variada entre a 21° Andante de Mozart e a 9° Sinfonia de Beethoven. Acho que comecei a enlouquecer naquela época, por volta dos cinco, seis anos de idade.

Perdi o carrossel entre as idas e vindas da casa da minha Mãe pra casa da minha Avó. E, noutro fim de tarde de janeiro me emocionei quando cheguei pra fazer um lanche nessas cafeterias de calçadão e, na vitrine, um carrossel parecido com o da minha infância, só que vermelho. Entrei num estado de emoção tão intenso que partilhei a história com os amigos que me faziam companhia. O carrossel da cafeteria estava à venda por um preço elevado para nós que tínhamos saído de casa pra fazer um lanche no calçadão da esquina.

Daí, meses depois, um dos amigos que estavam conosco no café me convidou para outro lanche na cafeteria do calçadão e me presenteou com o carrossel. Mais bonito do que o que eu tinha quando era criança. Mais moderno, maior, 50 opções de melodias. A emoção ficou pra quem viu. Só posso garantir que, naquela tarde, ninguém no mundo foi mais feliz que eu.

Trouxe o carrossel pro meu quarto como uma criança que não leva desaforo pra casa e acelero a minha loucura quando apago todas as luzes e deixo que ele ilumine a noite girando na velocidade dos meus sonhos.

Eu tive um sonho à beira-mar. Sonhei que o meu carrossel ganhava vida. Que os cavalos libertavam-se das amarras, soltando-se dos mastros de ferro e ganhando o mar. Dezenas de cavalos coloridos correndo em disparada em busca de liberdade. Se atropelando, sem saber se equilibrar direito, o vento batendo na crista, as patas fugindo a galope. Atropelando tudo.

Um ficou. Eu queria perder as forças, mas ele não deixava. Eu queria soltá-lo, mas não conseguia. Até que consegui montá-lo. Fugimos juntos. Acordei quando ele ia entrar além mar.

“Calma, foi só um sonho”.

Mas tinham marcas de patas das dezenas de cavalos na areia da praia, por um horizonte infinito, eu garanto.



Eis o meu carrossel atual

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Este texto é dedicado à André Miranda (@andremiranda79) - por acreditar nos sonhos, nos meus, inclusive, e por ter me dado o carrossel, rs. À Lidiane Mary (@LidianeMary) que faz aniversário neste domingo de sonhos. E, a você, que se liberta das amarras do chão só pela inquietude de ir pras nuvens, sonhar.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ainda emocionada com o texto lindo. Sair de Natal pra ver você em Mossoró não é nada, tamanho o amor que tanto eu, quanto André (sim, sei que posso falar por ele), sentimos por você.

Obrigada pela amizade. Você sabe que pra você não tem hora e nem dia, estamos sempre à disposição.
Beijo muito, mas muito carinhoso.
Lidiane

Anônimo disse...

Te admiro tanto. Queria saber pra quem você escreve....
Ana Lúcia

Ana Cândida disse...

Tive o prazer de conhecer andre e lidi hj, pessoalmente....
Sao pessoas dignas sim... muito dignas de um texto seu...

Tô arrepiada até os pelos da sobrancelha...
Vc arrasa muiiiiiiiiiiiiiiiiiito!

Sou sua fã!

Andr disse...

Eu nem sei o que dizer ainda. E nem sei se nessas situações dizemos alguma coisa ou simplesmente agradecemos. Só sei que sua crônica me emocionou mais uma vez. Você sabe das coisas. Por isso acredito nos seus sonhos. Não pare, nunca. Te amamos. Beijos e muito obrigado por tudo.