Esta semana dormi na casa da minha melhor amiga. Ela sempre levanta primeiro porque demora mais com esses negócios de maquiagem, cremes, hidratações e além do mais tem o cabelo super comprido e leva pra penteá-lo, o tempo que eu levo para tomar banho e me trocar.
E eu não molho os cabelos de manhã cedo como também não tenho fome. Meus rituais de beleza são poucos ou quase nenhum, comparados aos da minha melhor amiga. Temos a mesma idade. Quer dizer, sou mais velha três meses. Nasci no quatro e ela no seis e assim, vamos levando a vida, eu ficando mais velha primeiro e ela me alcançando depois.
Mas para não me dispersar, volto para os rituais de beleza, os dela, porque já falei que os meus são quase nenhuns. Não sou noiada com essas coisas de corpo (neste aspecto, claro) nem de beleza. Não tenho alimentação saudável, até porque nunca sei quando, como e onde vou comer e sempre que a atividade física começa a dar resultado, eu largo. Apesar de que, acho que ainda não contei pra vocês, que estou na Ioga – mais por uma questão de busca pelo equilíbrio espiritual do que pela busca de um corpo escultural. Afinal, daqui uns dias serei uma Balzaquiana e a cabeça, ombro, joelho e pé, sentirão mais minhas estripulias.
Mas esses dias, compartilhando com minha melhor amiga o espelho do banheiro, vi que levo pra escovar os dentes o tempo que ela leva para passar pó, sombra, rimel, delineador e blush – é, ela faz maquiagem completa às 7:18h da manhã. E nem precisa, porque é linda de dá abuso.
Eu vi o quanto eu demoro escovando os dentes. De verdade. Adoro escovar os dentes. Começo pela parte das bochechas, depois os dentes superiores, depois os inferiores, o céu da boca e principalmente a língua. Com a língua, eu tenho até um tratamento especial. Escovo com mais força, esfregando bem, todas as partes, até arder, para depois, tirar todo o excesso.
Escovo a boca várias vezes durante o dia. A higiene bucal é importante. Associada ao creme dental, a escova dentes e suas cerdas de náilon [que antigamente (pasmem) eram feitas de pelos de porco ou de cavalo] higienizam a boca por onde entram ou saem todos os fungos, bactérias e alimentos que nos habitam. Por onde saem, as palavras, todas, tudo o que a gente diz. Reparem como o sentido é até poético: o amargo, o ácido, o unami, o doce e o salgado das papilas gustativas que estão na língua e toda sua função na formação dos fonemas da fala. Daria um bom tema de dissertação acadêmica.
Gosto de escovar os dentes. De esfregar bem a língua. De lavar bem a boca.
É a forma mais saudável de exorcizar o que a gente se arrependeu de dizer.
3 comentários:
Moça, tens que escrever mais. Mesmo sem escovar os dentes, sem lavar a boca, sem fazer biquinho pro batom. Tens que arrasar nas penas, sem pena. Gente é para brilhar. Teu caso, ora. Ah, e não esqueça meu pedido: fale e estimule o bem-querer. A missão de quem escreve, como você, é contribuir para que nesse bailado da vida, a gente termine ensaiando - pelo menos - "a dança do acasalamento". Bote fé. Beijos, saúde e paz. Do seu fã sem número, mas que está sempre na fila da leitura. Mesmo que seja o rabo-da-fila. KKk! Carlos Santos, o Rapaz Velho Encruado
Até que enfim encontrei alguém que demora tanto quanto eu para escovar os dentes.
Demoro tanto, que sou capaz de dormir em cima da pia. Engraçado que ninguém me ensinou isso; crie este hábito sozinho.
Sua analogia com a doçura e acidez das palavras foi totalmente pertinente.
E siga os conselhos do seu leitor ai, o Carlos Santos. Afinal, não é todo dia que encontra-se uma mulher bonita e inteligente.
E inteligência é afrodisíaco.
E por falar nisso, vou lá escovar meus dentes.
realmente, você demora horrores para escovar "a boca". e tem vaidade maior?
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