“Eu era pequeno, nem me lembro...”, durante anos da minha infância as manhãs de domingo amanheciam assim, entoadas pelas canções de Padre Zezinho enquanto eu me arrumava para a missa das crianças na igreja de São José. Íamos em bando, chamando de casa em casa as crianças da rua e nos juntando na leveza infante. Era uma obrigação que gostávamos de ter.
Depois de alguns anos, o choque, falecia Padre Guido, o Mestre de toda aquela cerimônia de consecutivos domingos felizes na Paróquia de São José. Soube da notícia pelo rádio, um repórter da Rural narrava detalhadamente o velório. Fui à Missa de corpo presente e depois acompanhei todo o cortejo, voltando ali, naquela manhã, em Novembro de 2009, mais de 15 anos da minha vida. Reencontrei meu Catequista e cai no choro ao lembrar da minha primeira eucaristia, principalmente o dia da confissão.
Ora lá, se eu, em plena a inocência dos 9 anos de idade faria qualquer mal consciente de arrependimento, mas lembro de Padre Guido, quando me perguntou se existia alguma coisa que eu não conseguia perdoar, falei de supetão: “por que meu pai não esperou eu crescer para morrer?”, ele fez silêncio e, naquele momento, pausadamente me contou uma parábola que curou em mim algo que comecei a entender e aceitar de outra forma – a vida.
Hoje fui à Missa em São José, cheguei a Igreja, sentei na lateral e nos primeiros bancos do lado esquerdo, vários jovens atendidos pelo Projeto Esperança assistiam a Missa, comungavam de joelhos, cantavam os hinos litúrgicos e se abraçavam felizes, agradecendo a vida de mãos dadas. Sempre achei que o verdadeiro afeto está em dar as mãos, em caminhar de mãos dadas, segurar nas mãos do outro. Abraçar as mãos é como concretizar o seguir juntos, apoiados, unidos. Chorei o gesto confiante e sonhador daqueles jovens em acreditar, enquanto "Amigos para sempre" - a canção, entoava em coro pela igreja.
Fiquei com vergonha, me sentei, tentei disfarçar, mas não teve jeito. Um veio e me abraçou firme. Eu disse “é de felicidade” – tentando justificar. “Vim rezar pelo o meu Pai que está doente, reze por ele” – me pediu com um sorriso largo.
Sentei-o do meu lado, segurei suas mãos e contei rapidamente pra ele e pra mim, a parábola que Padre Guido me contou.
Nos abraçamos. Ele foi embora com os amigos. Eu também.
Não sei seu nome, mas conheço a sua fé.
Ah, a parábola?
Não vou contar, né?
Segredo de confissão.