terça-feira, 30 de agosto de 2011

“Eu era pequeno, nem me lembro...”, durante anos da minha infância as manhãs de domingo amanheciam assim, entoadas pelas canções de Padre Zezinho enquanto eu me arrumava para a missa das crianças na igreja de São José. Íamos em bando, chamando de casa em casa as crianças da rua e nos juntando na leveza infante. Era uma obrigação que gostávamos de ter.

Depois de alguns anos, o choque, falecia Padre Guido, o Mestre de toda aquela cerimônia de consecutivos domingos felizes na Paróquia de São José. Soube da notícia pelo rádio, um repórter da Rural narrava detalhadamente o velório. Fui à Missa de corpo presente e depois acompanhei todo o cortejo, voltando ali, naquela manhã, em Novembro de 2009, mais de 15 anos da minha vida. Reencontrei meu Catequista e cai no choro ao lembrar da minha primeira eucaristia, principalmente o dia da confissão.

Ora lá, se eu, em plena a inocência dos 9 anos de idade faria qualquer mal consciente de arrependimento, mas lembro de Padre Guido, quando me perguntou se existia alguma coisa que eu não conseguia perdoar, falei de supetão: “por que meu pai não esperou eu crescer para morrer?”, ele fez silêncio e, naquele momento, pausadamente me contou uma parábola que curou em mim algo que comecei a entender e aceitar de outra forma – a vida.

Hoje fui à Missa em São José, cheguei a Igreja, sentei na lateral e nos primeiros bancos do lado esquerdo, vários jovens atendidos pelo Projeto Esperança assistiam a Missa, comungavam de joelhos, cantavam os hinos litúrgicos e se abraçavam felizes, agradecendo a vida de mãos dadas. Sempre achei que o verdadeiro afeto está em dar as mãos, em caminhar de mãos dadas, segurar nas mãos do outro. Abraçar as mãos é como concretizar o seguir juntos, apoiados, unidos. Chorei o gesto confiante e sonhador daqueles jovens em acreditar, enquanto "Amigos para sempre" - a canção, entoava em coro pela igreja.

Fiquei com vergonha, me sentei, tentei disfarçar, mas não teve jeito. Um veio e me abraçou firme. Eu disse “é de felicidade” – tentando justificar. “Vim rezar pelo o meu Pai que está doente, reze por ele” – me pediu com um sorriso largo.

Sentei-o do meu lado, segurei suas mãos e contei rapidamente pra ele e pra mim, a parábola que Padre Guido me contou.

Nos abraçamos. Ele foi embora com os amigos. Eu também.

Não sei seu nome, mas conheço a sua fé.

Ah, a parábola?

Não vou contar, né?

Segredo de confissão.

Um comentário:

Robertha Falcão disse...

que lindo, Larissa! emocionei.