terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Sobre os elevadores...

Comecei a analisar até onde eu ia com aquilo. Ainda estaria esperando o elevador para subir mais uma vez, achando que, mais uma vez, o corredor era um lar. O caminho era cada vez menor, a vida estava passando da metade e eu emporcalhei uma camiseta dele que ficou comigo. Mas ele sempre me preferia nua. A carne é barata e um tabefe amacia e faz a pele tremer toda por dentro. Ele sempre dizia que meu corpo era quente e eu sempre chupava sua língua para sentir se o paladar ainda tinha gosto de cereja, das doses de kirsch que tomamos para não sentir as dores do abate na última vez.

Trocamos telefones, livros, CDs, filmes, confissões, favores, orgasmos, provocações, bebidas, música, palavras, banhos e as melhores trepadas da minha vida. Não queríamos que isso mudasse. Uma vez por semana, ele era meu e dividíamos até mesmo o chuveiro. Suas coxas eram o melhor lugar para minhas mãos estarem. Sua boca se encaixava perfeitamente em meus lábios. Suas costas largas, que eu gostava de apertar, eram montanhas que me conduziam ao cantinho mais íntimo do pescoço. O peito macio que afagava minhas costas era a segurança de todos os pensamentos e os orgasmos na garganta, o tormento de todas as partidas.

E assim, ele foi o homem mais educado que eu conheci.

Suspiro enquanto escrevo e vou tomar um café para aplacar a água na boca. Senão, coloco todas as memórias dentro de uma caixa úmida para ver se dá fungo e, assim, acabo com isso de uma vez. Se a caixa umedecer as minhas mãos, vou pensar nele e desejar espetar o meu corpo como se os dedos fossem lâminas afiadas por dentro da minha calcinha; como retalho de outro pano, qualquer pano, com manchas solares e gosto de amor.

Vê-lo entre as coxas me devolvia à maciez do encanto, enquanto ele se lambuzava com meu mel quente e vivo. Pelas frestas, o brilho dourado de sol, cor de mel, de moeda encontrada em velas piratas ao fundo do mar. Me fazia perder a vida ao horizonte e me ancorava em ilhas desertas em alto aMar, sem vista para o continente. Era um demônio solar.

Pela respiração, poderia saber que o corpo esperava a borrifada. E as gotas do nosso perfume pingavam lentamente no lençol com o meu suor. Era um desejo cada vez mais individualista. A gente se recolhia ao prazer mais íntimo, onde era estreito demais para alguém.

O nosso amor naufragou na primeira esquina. Comecei a sentir a aspereza dos grãos de areia atrapalhar a conflagração dos nossos corpos.

Nego fogo. Nego tudo.

Negue também.


2 comentários:

carlos santos disse...

Negue não, meu caro. Amor negado, nem pensar. Amor borrifado, gotejante, umectante, com aroma e sabor, não se nega jamais. Fica, porque fica.
Belo, belíssimo,Linda.

Quando eu conseguir me inspirar, tantico assim, escrevo algo sobre o tema. Um conto, vá lá. Crônica, talvez não.

Augusto Sales disse...

Amores intensos são inevitavelmente condenados à brevidade. Uma das poucas coisas humanas que são regras sem exceções.

Paciência...