“Demora 17 minutos. A gente avisa porque a pessoa pode ter um compromisso” – alertou a Moça do Box 21 no Mercado Central, enquanto peneirava a goma para me fazer uma tapioca de queijo.
Olhei o relógio no pulso esquerdo, quase 7h. Sorri. Estou sem pressa – pensei para ela.
Gosto de ver as cores do mercado durante as manhãs. Ouvir a opinião de quem madruga, as expectativas de quem sonha os sonhos dos viajantes que passam, que chegam, que vão, que vêm. O vai e vem. Uma ou outra pessoa nos reconhece “você é a filha de Maria dos bolos?” Aí começam a passar os garotos de dezoito anos indo para a faculdade, o futuro espreguiçando o corpo no meio da rua como se tivessem acabado de saltar da cama sem amanhã.
Coisa mais desconcertante!
2:36h não é hora de ficar pra dormir. “Tem certeza?” Claro que nunca, mas o elevador sobe e desce e tudo fica lá anotado num bloquinho de papel como um manual sob a luz apagada do abajur do lado esquerdo da cama, atrás da folha onde tem rabiscado os ingredientes: leite, açúcar, farinha, detergente, bombril, pano de chão, tempero, creme de leite. Uma vírgula e a receita “para viver um grande amor”.
Difícil pensar num amor que não seja grande depois que se vive a sessão do cinema das 5, com pipoca, guaraná e a camisa toda suja de batom. Depois de dançar Hey Jude na sala e ouvir Yesterday – nas versões de Elvis.
Sóbrios como nunca, sem amanhã como sempre.
E do importa se as versões não são as versões preferidas??? A trilha sonora nunca é a mesma:
Yesterday, all my troubles seemed so far away...
A letra é. Em qualquer versão.
27 minutos e nada da tapioca. Mas era apenas um cinema no fim da tarde e.
“Vai chover”.
31 minutos.
Lá vem a tapioca junto com o final de um set da partida de tênis na TV do Box 25.
A propósito, a previsão do tempo para esta quinta-feira é que: vai trovejar/vai cair/um temporal de amor.