quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

“Demora 17 minutos. A gente avisa porque a pessoa pode ter um compromisso” – alertou a Moça do Box 21 no Mercado Central, enquanto peneirava a goma para me fazer uma tapioca de queijo.

Olhei o relógio no pulso esquerdo, quase 7h. Sorri. Estou sem pressa – pensei para ela.

Gosto de ver as cores do mercado durante as manhãs. Ouvir a opinião de quem madruga, as expectativas de quem sonha os sonhos dos viajantes que passam, que chegam, que vão, que vêm. O vai e vem. Uma ou outra pessoa nos reconhece “você é a filha de Maria dos bolos?” Aí começam a passar os garotos de dezoito anos indo para a faculdade, o futuro espreguiçando o corpo no meio da rua como se tivessem acabado de saltar da cama sem amanhã.

Coisa mais desconcertante!

2:36h não é hora de ficar pra dormir. “Tem certeza?” Claro que nunca, mas o elevador sobe e desce e tudo fica lá anotado num bloquinho de papel como um manual sob a luz apagada do abajur do lado esquerdo da cama, atrás da folha onde tem rabiscado os ingredientes: leite, açúcar, farinha, detergente, bombril, pano de chão, tempero, creme de leite. Uma vírgula e a receita “para viver um grande amor”.

Difícil pensar num amor que não seja grande depois que se vive a sessão do cinema das 5, com pipoca, guaraná e a camisa toda suja de batom. Depois de dançar Hey Jude na sala e ouvir Yesterday – nas versões de Elvis.

Sóbrios como nunca, sem amanhã como sempre.

E do importa se as versões não são as versões preferidas??? A trilha sonora nunca é a mesma:

Yesterday, all my troubles seemed so far away...

A letra é. Em qualquer versão.

27 minutos e nada da tapioca. Mas era apenas um cinema no fim da tarde e.

“Vai chover”.

31 minutos.

Lá vem a tapioca junto com o final de um set da partida de tênis na TV do Box 25.

A propósito, a previsão do tempo para esta quinta-feira é que: vai trovejar/vai cair/um temporal de amor.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Sobre o tempo que nos resta...

Para Luanda Holanda, que hoje me deu motivos pra chorar de saudades – dela.

Eu queria saber quanto tempo de vida ainda me resta. Quantos dias ainda tenho pra chegar em casa e armar minha rede diante da TV, ficar passando os canais até decidir se eu vou pra rua, não ir pra rua, deitar no sofá da sala, escancarar as janelas e ficar lá, olhando as estrelas pelas frestas.

Quanto tempo me resta pra pedir desculpas às pessoas que eu magoei que eu fiz sofrer que fiz chorar? Dizer pra elas que a separação, a grosseria, a mentira, a omissão, doíam mais em mim, porque quem machuca sempre sofre mais do que quem é machucado. O problema é que quem tá machucado não aceita dor.

Quanto tempo ainda me resta pra encher a vida de vodka achando que esse sentir muito que sempre me parte o coração e racha as veias vai passar na embriaguez? Quanto tempo pra ouvir a voz da minha Mãe pedindo que eu volte pra casa? Quanto tempo para me jogar nos braços de qualquer nova possibilidade, de qualquer novo amor e achar que é pra sempre?

Quanto tempo ainda para continuar acreditando nas pessoas e sendo massacrada por quem eu menos brinco, menos jogo, mais prezo?!

Quanto tempo pra morrer de novo? Pra ressuscitar depois de um banho quente onde as espumas escorrem e tiram do corpo todas as lembranças que voltam quando o corpo seca?

Quanto tempo para entender que o que passa não volta? Que os amigos que estão na estrada, ficaram pra trás. Quanto pra eu criar coragem de me importar? De dizer todas as coisas que eu não disse, e tantas outras que jamais pensei em dizer?

Quantos eu te amo ainda me restam ouvir eu também?

Quantas chances de encontrar de novo as pessoas que perdi e me fazem uma tremenda falta, todos os dias? E abraçá-las, e beijá-las e fazê-las sentir que são importantes pra mim. Quantas pessoas ainda vão se perder de mim?

Quanto tempo pra chorar de saudades? Para entregar aquele presente do Natal retrasado, devolver aquele CD que eu nunca ouvi, entregar a cópia das cifras do Belchior ou o livro do Dee Brown que outra hora dessas, escrevi que chorava a cada página lida e uma amiga que eu não falava há dias me escreveu que queria que eu tivesse escrito que estava chorando com saudades dela, porque não conhecia o livro, nem as histórias dos índios das América, mas conhecia a minha saudade, a saudade de mim, de nós.

Quanto tempo para eu postar o livro para que ela leia? Quanto tempo para eu terminar de lê-lo? Quanto tempo para abraçá-la? Quanto tempo para abraçar as pessoas mais importantes dos últimos anos? Da vida inteira. Quanto tempo para eu entregar o que eu quero que fique com quem e explicar o sentido que falta e sobra em todas as coisas?

Quanto tempo me resta?

O segundo suficiente para que Enterrem meu coração na curva de um rio, como no livro do Dee Brown.

E sabe que, mesmo antes de saber do livro, eu falo essa história que o melhor lugar para jogar o meu corpo é uma canoa dentro de um rio, onde quando fosse fazendo a curva para descer a cachoeira, lançassem uma flecha de fogo para eu desaguar no Mar incendiando.

- flechas de cravos que atiram chamas, como no poema de Neruda.

O corpo não precisa de túmulo.

A vida é maior do que a gente. Maior do que qualquer história de amor.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012



- de nada vale ouro, incenso e mirra se nenhuma estrela me leva ao coração do Rei.






domingo, 1 de janeiro de 2012

foi no ano que vem

Acordei e já é 2012. O ano tá passando ligeiro. O dia já vai terminar e eu ainda estou ressacada da virada ocorrida na última sexta-feira, ainda 2011, onde misturei muita vodka, muito uísque e muito amor. Aliás, muito amor é uma coisa que eu não me recomendo para os próximos dias. Mas minha amiga me dizia sobre outra dose e uma que “pessoas de corações levianos sabem que o amor entorna sempre a razão da vida delas” talvez ela nem falasse do meu coração, mas eu abracei a causa – ou sabe-se lá, a falta dela.

Vêm dias novos por aí, mas ano passado, retrasado, também vinha. E isso só serve para que a gente tenha coragem de começar de novo como todo dia nasce novo em cada amanhecer. É difícil não sentir esperança em um novo ano, em um novo dia. Mas difícil ainda que abandonar o passado. Os dias amanhecem e eu não consigo encontrar em mim hoje, quem eu fui ontem. E esta confusão me causa sempre a angústia porque a pessoa que eu sou hoje deve satisfações a quem ontem eu fui. A gente não muda isso de um dia para outro, digo, de um ano para o outro. A gente não muda. Apenas se renova.

O amor é o mesmo da primeira vez, o Moço foi que tomou outras formas durante o passar dos anos novos. Os amigos, o trabalho, o carro, o fogo, o corpo, a mesa farta, a casa cheia, a solidão, o vazio, as perdas, as estradas, as noites em claro, os rompimentos, o choro escondido, a vontade de sumir, a covardia de tentar, a coragem de resolver, o medo de perder, os sonhos – tudo chega em tempo, mas parece renovado.

Até porque o mundo vai acabar neste ano. E no final de tudo, próximo janeiro - mundo novo, vida nova – como canta Elis na letra de Gonzaguinha que fala de amor, claro, e ensina a deixar de lado as velhas histórias, as meras lembranças e ver se desta vez, a gente se supera e faz um final feliz.

Por enquanto e até agora, só a ilusão.

Tudo que ocorre foi no ano que vem. Foi quando ele chegar.