quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Sobre o tempo que nos resta...

Para Luanda Holanda, que hoje me deu motivos pra chorar de saudades – dela.

Eu queria saber quanto tempo de vida ainda me resta. Quantos dias ainda tenho pra chegar em casa e armar minha rede diante da TV, ficar passando os canais até decidir se eu vou pra rua, não ir pra rua, deitar no sofá da sala, escancarar as janelas e ficar lá, olhando as estrelas pelas frestas.

Quanto tempo me resta pra pedir desculpas às pessoas que eu magoei que eu fiz sofrer que fiz chorar? Dizer pra elas que a separação, a grosseria, a mentira, a omissão, doíam mais em mim, porque quem machuca sempre sofre mais do que quem é machucado. O problema é que quem tá machucado não aceita dor.

Quanto tempo ainda me resta pra encher a vida de vodka achando que esse sentir muito que sempre me parte o coração e racha as veias vai passar na embriaguez? Quanto tempo pra ouvir a voz da minha Mãe pedindo que eu volte pra casa? Quanto tempo para me jogar nos braços de qualquer nova possibilidade, de qualquer novo amor e achar que é pra sempre?

Quanto tempo ainda para continuar acreditando nas pessoas e sendo massacrada por quem eu menos brinco, menos jogo, mais prezo?!

Quanto tempo pra morrer de novo? Pra ressuscitar depois de um banho quente onde as espumas escorrem e tiram do corpo todas as lembranças que voltam quando o corpo seca?

Quanto tempo para entender que o que passa não volta? Que os amigos que estão na estrada, ficaram pra trás. Quanto pra eu criar coragem de me importar? De dizer todas as coisas que eu não disse, e tantas outras que jamais pensei em dizer?

Quantos eu te amo ainda me restam ouvir eu também?

Quantas chances de encontrar de novo as pessoas que perdi e me fazem uma tremenda falta, todos os dias? E abraçá-las, e beijá-las e fazê-las sentir que são importantes pra mim. Quantas pessoas ainda vão se perder de mim?

Quanto tempo pra chorar de saudades? Para entregar aquele presente do Natal retrasado, devolver aquele CD que eu nunca ouvi, entregar a cópia das cifras do Belchior ou o livro do Dee Brown que outra hora dessas, escrevi que chorava a cada página lida e uma amiga que eu não falava há dias me escreveu que queria que eu tivesse escrito que estava chorando com saudades dela, porque não conhecia o livro, nem as histórias dos índios das América, mas conhecia a minha saudade, a saudade de mim, de nós.

Quanto tempo para eu postar o livro para que ela leia? Quanto tempo para eu terminar de lê-lo? Quanto tempo para abraçá-la? Quanto tempo para abraçar as pessoas mais importantes dos últimos anos? Da vida inteira. Quanto tempo para eu entregar o que eu quero que fique com quem e explicar o sentido que falta e sobra em todas as coisas?

Quanto tempo me resta?

O segundo suficiente para que Enterrem meu coração na curva de um rio, como no livro do Dee Brown.

E sabe que, mesmo antes de saber do livro, eu falo essa história que o melhor lugar para jogar o meu corpo é uma canoa dentro de um rio, onde quando fosse fazendo a curva para descer a cachoeira, lançassem uma flecha de fogo para eu desaguar no Mar incendiando.

- flechas de cravos que atiram chamas, como no poema de Neruda.

O corpo não precisa de túmulo.

A vida é maior do que a gente. Maior do que qualquer história de amor.

3 comentários:

carlos santos disse...

Belo, belíssimo. Esse coração "índio", é telúrico e lírico. Por todo o tempo que houver.

Pedro Henrique disse...

Tu és uma mulher que muito ama os homens, larigabi.

Laris. disse...

Sou apenas sensível a admiração deles, Pedro. Não frusto nenhum admirador, tsc.