quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O antigo é natural


Nasci na época errada, é fato. Passo horas pensando como é que não posso ter vivido as décadas de 50, 60, 70, e como não consigo ser bem resolvida com o tempo me realizo comprando coisas antigas.

Essa minha mania está virando uma fixação. Ano passado enquanto não arrumei uma vitrola e desenterrei todos os vinis da casa do meu avô eu não sosseguei. Passei meses ouvindo sambas antigos, bossas, resgatando Belchior, 14Bis e por aí vai. Essa paixão passa por literatura, cinema, TV, música, enfim, às vezes morro de vergonha de ter 24 anos e só me sentir bem conversando com os amigos dos meus pais. Claro, tenho amigos da minha idade e os adoro, mas os assuntos com quem foi fã de Louise Brooks, quem viveu a ditadura, viu Pelé estrear na copa de 1958 e adora um samba de raiz me trazem muita paz. Eu sinto mais vontade de viver.

Morro de ciúmes das minhas coisas. Ninguém ousa ligar a vitrola, limpar a Remington 25, nem espanar os livros guardo-os em ordem alfabética, minha mini biblioteca já passa dos 300 títulos e meu maior prazer é limpá-los nos finais de semana, ouvindo os vinis. Tenho umas coisas legais, gravações do Repórter Esso, vídeos de propagandas antigas e imagens de anúncios que a gente nunca esquece. Passo horas vendo as mesmas coisas, vivendo o passado que não vivi.

Essa semana indo pra Natal parei num restaurante que tinha um Projetor de Cinema 16mm IEC Compact, lindo, dos tempos em que Louis Malle formou a nouvelle vague. Enlouqueci. Usei de todos os argumentos possíveis para a dona do restaurante me vender. Tirei fotos (vejam no Orkut como é lindo), quase implorei. Não teve jeito. Ela foi enfática “há coisas na vida que não tem preço”. E ela tem razão. E eu estou moendo até agora como rói uma pessoa apaixonada.

Compreensivelmente, cheguei a Natal corri pro Alecrim procurando um projetor daqueles e não achei. Fui à Ribeira, tomei um refrigerante KS no saudoso Beco da Lama e nada do meu projetor.

A única coisa que me fez esquecer foi chegar ao hotel, ligar a TV e vê Claudia Cardinale encantadoramente linda aos 70 anos falando da “Pantera – Cor- de - Rosa”. E lembrei automaticamente da sua atuação em Fitzcarraldo, de Herzog, excelente atriz. Eu gosto das mulheres que se deixam envelhecer sem esconder-se, demonstram o respeito que têm consigo o que é raro em mulheres muito belas. Eu gosto de antiguidades. Gosto de observar os designs antigos - são simétricos. Até as mulheres eram mais bonitas antigamente, eram naturais.

Um comentário:

Unknown disse...

Comentário técnica: A qualidade sonora do vinil é assustadoramente superior à do CD ou qualquer outra mídia digital. Pena ser tão mais sensível.