Clarice Lispector disse que “quem falou de primavera sem vê o teu sorriso falou sem saber o que era”, certamente deveria ser um riso paralisante para inspirar uma comparação de Clarice com a estação mais bela a esperançosa do ano – minha preferida por sinal. Conheci essa frase através de um namorado cantador que tentava me conquistar com palavras bonitas. Conseguiu.
Eu não sou de fácil amor como sou de fácil riso. Sou dura na queda. Difícil de me apaixonar. Sei o valor das palavras e não costumo sair por aí dizendo que quero sem realmente querer, nem acreditando em tudo que me dizem. Não minto nem nego os meus desejos. E acho um crime interior não matá-los. Demoro a me entregar porque sei que não vivo paixões pela metade. Não aprendi a viver de meio e média. Comigo 9 é 90 e as vontades não ficam para trás. As entregas são totais. Eu falo o que sinto e sei que a palavra é uma arma na sedução.
Vivi poucas paixões não correspondidas, lembro de algumas da infância e pré-adolescência, mas no geral os poucos homens que quis na minha vida também me quiseram. Conto nos dedos de uma mão os namorados que tive e nas duas as bocas que beijei. Relacionamento para mim tem que ter história, tem que ter encanto. Sabe aquele tipo de pessoa que só de olhar o olhar a gente sabe o desejo? Pois é... Tem que ter integridade nas coisas de espírito.
Minha irmã de 15 anos está apaixonada. O primeiro amor. Vive pelos cantos da casa ouvindo hinos internacionais do nível de How deep is your love - Bee Gees, passa horas olhando para o celular, o telefone de casa não pode tocar que ela corre para atender. E pelo o nível de irritabilidade e estresse que ela anda a paixão não é correspondida. Reconheci os sintomas. Ela é meu oposto. Introvertida, contida, muito séria e de uma antipatia educada. Não faz a mínima questão de cativar.
Hoje a flagrei lendo o meu diário – fiz diário dos 15 aos 18 anos – e ela estava justamente na fase que descrevia com detalhes o início do meu namoro. Segredos, dúvidas, medos e inseguranças hoje, tão bobos e banais que quando sentei para ler com ela fiquei com vergonha da falta de maturidade e excesso de fantasia, principalmente quando ela alarmava algum detalhe. Tentei arrancar alguma coisa, oferecer alguns conselhos subentendidos, mas não adiantou ela está descrente que o amor exista e afirmando convicta que nunca mais vai se apaixonar. Ledo engano.
Mas ela precisa viver, romper, rasgar o peito de dor. A ‘dor de cotovelo’ é doce. O choro é ardente, parece que quanto mais a gente quer esquecer, mais se apaixona. E é uma dor injusta, mas boa de sentir. Quando passa a sensação é de liberdade e fortaleza. Minha vontade era que ela nunca sofresse e nunca quisesse paixões impossíveis, nunca desejasse o proibido, vivesse sempre os contos, fosse sempre fada e nunca conhecesse os sapos, nem perdesse os encantos. Nunca pagasse alto pela realização dos seus desejos. Só que infelizmente essa é apenas a primeira decepção dela e nem é tão intensa assim.
Hoje, com um pouco mais de idade e alguns romances de experiência eu pude dizer para ela; um dia, certamente, ela há de encontrar alguém que explodirá todas as suas sensações, a levará por todos os caminhos, a fará fechar os olhos, entregar as mãos e matará todas as vontades e desejos. Um dia ela há de encontrar alguém que vai olhá-la nos olhos, abraçar forte, dizer que ela é a melhor mulher do mundo e jurar fazê-la feliz pelo o resto da vida e ainda que a faça sofrer, vai fazê-la feliz. O tempo vai passar, ela vai ter raiva, vai se decepcionar várias vezes, se irritar com freqüência e depois de um simples passeio numa tarde de domingo os olhares vão se encontrar como na primeira vez, a paixão reacenderá como um vulcão em chamas, fazendo ressurgir um riso mais bonito que a primavera. E será assim, gostoso demais, pelo sempre que viver. Na hora que esse cara aparecer, ela vai saber. Ele será diferente de todos os outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário