terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Insônia


Tem feito muito calor esses dias. E eu odeio. Eu nasci no inverno, então posso me dar ao luxo de dizer que odeio o verão. Aqui, raramente chove e quando chove caí uma tempestade inunda tudo e minha maquiagem derrete desmanchando a moldura do meu rosto. Inclusive, hoje, especialmente hoje, resolvi sair sem maquiagem. Acho que o mundo precisava vê os meus olhos nus. As maçãs do meu rosto marcadas pelo sol que queimou minha pele na manhã do último domingo.

Além disso, tenho uma tremenda dificuldade de dormir e ontem foi pior, acho que é o calor. Antes eu levantava e ficava no computador, mas quando o dia amanhecia eu já estava enfadada para todos os afazeres que sol ia me trazer. Depois comecei a pensar antes de dormir. Nossa, pensava cada besteira. Lembro de uma vez que imaginei tomar uma dose de Martini Rosé num café de Paris conversando com o Caio Fernando de Abreu. Vê se pode? Faz anos que o Caio morreu e eu não bebo, daí a cena perde a lógica.

Tenho medo de sonhar até dormindo. Os sonhos me deixam inquieta por dias. Normalmente não lembro o que sonho, semana passada eu lembrei, sonhei uma situação que já tinha acontecido, sonhos, acontecem antes e depois de sonhados. Deve ser esse o meu medo de sonhar. Viver pesadelos. Mas existem pesadelos tão bons.

Lembrei agora de quando eu era criança. Morávamos na casa da minha avó e eu tinha medo do telhado. Todas as noites minha mãe tinha que contar histórias e eu ficava olhando bem nos olhos e na boca dela para não desviar a atenção e fixar os olhos no telhado. Quando perdi o medo, ficava contando quantas telhas formava cada quadradinho daqueles.

Engraçado. Senti falta do Jô Soares agora, mas a TV sempre me esperta e eu só queria dormir. Tentei ouvir músicas, no fone de ouvido, mas com a minha mania de cantarolar, vou aumentando o tom da voz e incomoda minha irmã no outro quarto, logo, só consigo dormir de bruços, e de rede, balançando. Não me concentro pra ler. Desisti de forçar o sono, vim escrever.

Às vezes o telefone toca de madrugada e depois eu consigo adormecer levemente. Se tivesse tocado hoje eu ia dizer tanta coisa, mas tanta coisa. Talvez conseguisse dizer tudo aquilo que escondo, por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, por precipitação. Sempre é assim. Só me resta às palavras, esse jeito de colocar palavras em todo o meu processo mental e saber que isso pode assustar as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Não sei viver assim. Quero tudo muito mais limpo e muito mais claro, mas os pensamentos não me deixam, o desejo de não precisar de nada se você me olhar, me tocar.