Acordou e ele não estava mais ali. Demorou em se levantar e acreditar que teria que suportar aquela saudade. A alma estava repleta de agonia, o coração apertado. As mãos soadas. Ele prometeu que voltava.
Era uma segunda-feira. 6:45h da manhã. Não acreditava que tinha dormido tanto. Era uma segunda-feira sem graça, como costuma amanhecer as segundas-feiras. Enfadonhas, lentas. Pensou “ele não vai voltar”.
Por mais que soubesse que tudo teria fim, conviver com aquela realidade seria cavar um buraco no fundo do poço. Tomou banho, não conseguiu tomar café.
Nada. Nenhum telefonema. Nenhum recado. Nenhuma carta. Nenhuma mensagem. Nenhum email. Nada. Nada além de todas as lembranças. Nada além dos vestígios de ele deixou.
Sentia medo. Medo de ficar sozinha. Medo que o mundo acabasse. Medo de esquecer. Medo esquecer o tom da voz. O cheiro dos cabelos. Medo que o mofo tomasse conta das roupas, dos sapatos, e destruísse tudo que restou, e então, tivesse que se desfazer de tudo que ficou.
Era um novo dia. Início de semana. Novas oportunidades. Novos jeitos de recomeçar. Mas, como recomeçar sem ele? Sabia que iria encontrá-lo. Iria encontrá-lo em todos os lugares. Nas crianças brincando. Nos apaixonados sonhando. Nos idosos vivendo. Iria encontrá-lo nos sonhos, nas músicas, nas praças, nos parques, nos bosques.
Ele iria chegar. Ele prometeu. Ele disse que voltaria.
Todas vezes que ele saiu, ele voltou. Quando ele saiu, ela via a reprise da novela. Era para ter desligado a TV e impedido que ele fosse. Não teve ação.
Ele não vai voltar. Nunca mais.
E a única coisa que ela não pode esquecer é que ele foi.
Foi de cabeça erguida. Pela porta frente, como quem sai para voltar. Sem malas.
Ele se foi na tarde da sexta-feira. E a última lembrança dela são as palavras.
Só restam agora elas, as tais palavras. Elas sempre ficam. Sempre teimam em ficar.
“Tchau, mãe, me espere para jantar!”
Fechou a porta!
Um comentário:
Oi Laris, parabéns pelo blog e pelas palavras. Textos muito bem escritos, amei! E adorei este que comento agora. Beijão!
Postar um comentário