quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Enfim, os dois.



Depois de meses se esbarraram no mesmo hotel. Era um evento sobre todos esses desafios que vieram juntos com o mundo moderno. Ela, ele, uma multidão e ao mesmo tempo, mais ninguém além de uma solidão comum. Horas tinha medo que ele a visse, horas queria esbarrar com ele na fila do café da manhã.

Deveria deixar de ser passional em tudo o que sentia; em tudo que fazia. Ele a viu. Sorriu. Baixou a cabeça e tentou disfarçar a vergonha, tentou conter a surpresa. Levantou-se. Caminhava na direção dela. Ela não conseguia ouvir nada além da trilha sonora que pairava na sua cabeça como uma machinha de carnaval "A boca tremia/ Os olhos ardiam/ Oh! Doce agonia/ Oh! Dor de viver/ De ver sua imagem/ Que eu nunca via". Sentou-se ao lado dela. Suspirou. Um suspiro parecido com um "enfim..." se não um "enfim sós" um "enfim o fim".

Mas algo deveria se esclarecer. É ruim quando as coisas se perdem, quando fica algo por dizer. Mas sempre fica alguma coisa que nunca foi dita. Sentia medo. O que menos queria era uma vida editada. As mãos trêmulas. Ela estava com uma aparência desagradavelmente notória. Sem graça. Arrepiou-se ao senti-lo. Pensou “meu Deus, será que ainda gosto dele?”. Era completamente possível que sim. Se olharam.

E era tanta coisa misturada naquele olhar. Ódio. Medo. Receio. Decepção. No fundo, vontade de abraçar e de brigar ao mesmo tempo. Dançar naqueles braços. Sentir aquele cheiro. Tocar aquele corpo.

“No meu quarto ou no seu?” suspirou no ouvido dela. Agoniou-se. Fez um ar de riso e se levantou. Ele a seguiu. Ela apressou o passo. Um corredor imenso. Segurou-a pelos os ombros e disse: “Eu sabia que íamos nos encontrar em um planeta abandonado no curto espaço imenso entre nós dois. Em nossos abraços, no meu descompasso e em seus sorrisos largos”.

A grande mentira que ele era, era verdade. Tudo que ela não queria admitir.

Nem sei se beijaram-se.

O telefone tocou. Acordei.

2 comentários:

Frank Dantas disse...

Muito bom seu texto.

Mirna Oliveira disse...

Ela tava inspirada...
Tenho até medo de saber de onde saiu tantas inspiração.