sábado, 3 de outubro de 2009

Antes de começar

Tinha descoberto que precisava fazer um curso de noiva para casar. Não era um curso comum para aprender a ser uma boa mãe, uma boa dona-de-casa e uma esposa dedicada. Não era um curso que ensinava a lavar, passar, cozinhar e limpar banheiro. “É para aprender a amar eternamente”, explicou a beata, voluntária da igreja pelo telefone.

Retrucou. Repetiu a resposta para confirmar que tinha entendido certo. Entendeu o que ela disse, não entendeu o que ela quis dizer. “Temos uma turma que inicia amanhã às 19hrs, passe aqui”.

Não tinha opção. Passou. Desconfiada. Ficou olhando da janela. Aquelas passagens secretas comum nas igrejas. Salões enormes, chão de cimento verde, teto alto e redondo, passando a impressão da imensidão. Caminhou timidamente. A mulher veio ao seu encontro.
- Você é a nova noiva? Balançou a cabeça e sorriu sem jeito. Começou um monólogo puxando-a pelo braço.

- Vamos esperar seu noivo chegar. Ele está vindo, não é? Olhe, o curso custa R$200 este valor tem que ser pago agora, já inclui o aluguel da igreja para o dia da cerimônia. Vocês são crismados? Fizeram a primeira eucaristia? Qual a data mesmo? Preciso reservar! O curso leva um dia inteiro. Como eu disse vocês aprenderão a se amar, a se respeitar, enfim, a conviver, você sabe, coisa ruim e difícil é casamento. Eu mesma estou com o mesmo marido há mais de 35 anos. Tenho 3 filhos e acabei de ganhar a minha primeira netinha e não tem um dia que eu não pense “Meu Deus, será que eu sou feliz ao lado do Alberto? Será que ele é feliz ao meu lado?”

A moça já tinha esquecido a ordem das perguntas. Achava que a beata nem queria as respostas. Eram informações demais. A pobre mulher quase não respirava.

- Senhora...
- Mulher, mas por outro lado o casamento é ótimo. E tem a melhor parte... dormir e acordar juntinho. Ah, um dica: nunca deixe os filhos dormirem entre vocês dois, einh?!
- Como é nome da senhora mesmo?
- Maria.

Claro, tinha que ser.

- Dona Maria, seguinte...
- Ah minha filha, esqueci de dizer...
- Não precisa. Volto outra hora. Esqueci que tenho um compromisso.

Caminhou quase que correndo para a saída.

Tinha descoberto por que quase todos os casamentos terminavam na solidão de uma sexta-feira ouvindo Trocando em Miúdos do Chico e Bilhete do Ivan Lins num revezamento programado no último volume com uísque, gelo e lágrimas.

Monólogos.

Uma sombra de amor entre os lençóis.

Não adianta deixar bilhete.

Não há verso de Neruda que resolva.

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