quarta-feira, 16 de junho de 2010

Querido Diário - Atos V e VI

Domingo -13: Ressaca absurda. Dor no corpo. Garganta mendigando um coquetel de antiflamatórios Acordei e fiquei quase duas horas criando coragem para me levantar. Quase duas horas. Li uns quarenta minutos. Falando em ler, estou lendo um romance lindo chamado O Silenceiro, de Antonio Di Benedetto, autor Argentino, comprei porque o prefácio é de Saer, mas o livro tem me surpreendido. Dei uma pausa nele porque tinha que estudar e voltei ontem com força total. Vergonha. É um livro pequeno só que esses dias foram infernais, eu não tive tempo nem de respirar direito. Tem até um trecho que queria dividir aqui, é meio longo, só que vale a pena:

Nina não tem de mim promessas, compromissos, nem palavras de amor. Mas me segue, apegou-se a mim.

Não é exatamente como fazia Besarión.

Besarión protegia uma moça muito confiada, que se apaixonou por ele e, ao seu modo, dava-lhe lições.

Não lhe dizia “te amo”, nem tampouco “não te amo”.

“Digo a ela”, contou-me Besarión,”que a esperei tal dia, a tal hora, em tal praça. Ela não pergunta pra quê. Portanto, ela vai e eu não vou. Depois ela me explica: ‘Eu o esperei uma hora. Acho que me confundi de lugar ou você não pode ir’. ‘Não ficou brava comigo?’ ‘Não, por quê?’’ Então, vou inteirá-la da verdade, para que esteja preparada e nenhum homem a engane’”.

(...)

Pronto. Tem outras partes boas, só que eu estou morrendo de preguiça de digitá-las.

Depois que me desconcentrei e comecei a pensar, fui ver desenho animado. E senti muita vontade de dar um forte abraço em quem inventou o desenho animado. Apesar dos da minha época ser bem melhores. Houve uma queda na qualidade dos roteiros dos desenhos animados. Só que isso é assunto para dissertação. Certamente, em algum lugar no mundo, alguém deve estudar isso. Geléias exóticas & Churneys. Misturar café com almoço. Comecei a ler, adormeci. Acordei já era tarde. Da noite. Vi um filme legal ‘Uma vida por um fio’, depois joguei meia partida de War com a minha irmã, só que jogar War de dois é meio chato. Sem sono, sem sonhos. Adormeci.

Segunda-feira – 14: Hoje faz 24 anos da morte de Jorge Luis Borges, o cara que entre outras coisas me ensinou que 'enquanto dura o remorso, dura a culpa'. Demorei muito para acordar. Acredito que 10h da manhã eu ainda estava desacordada. Perambulava no trabalho com aquele posicionamento de Zumbi. Enjoada. Tive minutos de autoinsuportabilidade (se não existir no seu dicionário, acrescente), é aquele momento em que nem você se suporta e acaba descontando o seu descontentamento jogando a primeira pedra no primeiro vidro que você encontra. Tenho absoluta certeza que machuquei quem não merecia. Foi estranha essa segunda-feira. O corpo tava mal, a cabeça tava mal, os sentidos não corresponderam o dia inteiro. O HD não processou. Hoje eu me liguei do quanto eu gosto de ler anúncios de perfume. Foi na hora que eu entrei num site pra mandar o link do perfume que eu usei sábado para uma amiga que vai comprar igual. Nunca tinha me ligado. Eu gosto mesmo de ler anúncio de perfume, sempre leio. Acho poético demais, sensível. Aliás, cheiro pra mim é uma coisa imprescindível. Adoro cheiro. Alguém já disse antes: cheiros são como músicas. Eu lembro pelo o cheiro. Falando em cheiro, senti falta do cheiro de uma musiquinha que eu gosto chamada Casa Pré Fabricada, é do Marcelo Camelo. Sempre fico em dúvidas se a versão mais bonita é a da voz de Maria Rita ou a da voz de Roberta Sá. Maria canta mais voraz do que a letra sugere e Roberta doce, sempre doce. O pedacinho que eu sempre cantarolo diz mais ou menos assim:

Abre os teus armários, eu estou a te esperar
Para ver deitar o sol sobre os teus braços, castos
Cobre a culpa vã, até amanhã eu vou ficar
E fazer do teu sorriso um abrigo

Canta que é no canto que eu vou chegar
Canta o teu encanto que é pra me encantar
Canta para mim, qualquer coisa assim sobre você
Que explique a minha paz
Tristeza nunca mais

(...)

Fico revezando uma vez Maria, noutra Roberta. Quis voltar cedo do trabalho. Trouxe trabalho pra casa. Não trabalhei. Além disso, nada. O dia foi pão com mortadela.

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa correria que é sua vida te tirando de um dos seus maiores prazeres... Ler.
Como sabemos, tem tempo pra tudo, né?
Quanto a versão de Casa Pré-Fabricada, eu ainda fico com a suavidade de Roberta Sá. ;)
Acho que com você, combina bem essa alternância voraz de Maria Rita e a suavidade de Roberta.
Beijo grande, moça das letras. :)
Lidi