segunda-feira, 21 de junho de 2010

Sabe, amor...

O cara com quem eu tive uma reunião na hora do almoço outro dia usava seu perfume. Fui cumprimentá-lo de perto e por alguns instantes me desconcentrei achando que era você. Não me desconcentrei apenas na hora que fui cumprimentá-lo. Confesso.

Pensei em você várias vezes enquanto conversávamos. Aquela sua mania de sentarmos sempre um de frente pro outro, justificada pelo o seu jeito de me dizer que não conseguia parar de me olhar, e aquela minha mania de sempre cutucar o seu prato com meu garfo só pra ouvir você dizer que detestava quando eu fazia aquilo.

Olhava pra ele e via o seu sorriso, o seu olhar, a sua mania de empurrar os óculos com a palma da mão direita, ajustando-o sobre o nariz. Teve um momento quando o rapaz foi atender ao telefone... Bem, enquanto ele atendia ao telefone e eu o observava ele prendeu os lábios como você costumava fazer e como eu tinha certeza que você sempre fazia enquanto falava comigo e como eu sempre pedia que você fizesse para ver as barroquinhas do seu rosto e tocá-las com as pontas do meu maior de todos e do meu indicador. Lembro que você fechava os olhos.

Pela primeira vez, desde que nos separamos, por um momento, eu quis seu colo em desespero. Eu quis seus sonhos de volta – sonhados pra mim.

Eu venci aquele medo de pertencer a outros homens depois de você. Venci o medo de encará-los. Venci o medo de emprestá-los o meu amor no tempo em que eles não conseguissem dormir. Você prometeu que outros tempos viriam. Não sei mais se virão.

Eu senti saudades. Saudade do quanto fomos felizes. Senti saudades das loucuras. Dos mares, da falta de rumo, de hora, de noção do limite. Senti saudade do colo, da falta de contestação. Do silêncio continuo, do amor eterno.

Há quem é que a gente engana agora? Com qual desejo a gente sonha?

Terminei o quadro. Você terminou os poemas? Não rasguei as fotos, mas soube que você tirou-as dos porta- retratos.

Enfim.

Ele desligou o telefone. Começamos a falar em trabalho. O almoço chegou. O gosto da comida encobriu o cheiro do perfume. E tinha alguma coisa muito estranha no cheiro daquele perfume. Estou confusa. Não sei o que é. Não sei se lançaram outra linha. Essas extensões comerciais. Eu conheci porque reconheceria em qualquer lugar do mundo. Em qualquer estação. Mas, não era o mesmo cheiro que é em você.

Não era a sua pele. Não eram os seus poros. Não era o seu sabor. Não era o seu suor.

Esqueci.

Um comentário:

Robertha Falcão disse...

êta cheirinho perseguidor!