quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Ele me ligou. Não esperava que ligasse. O dia seguinte é sempre a ressaca da noite anterior. Mas ele ligou e eu ouvia o barulho do vento mais do que da sua voz. Não tenho certeza de onde ele estava. Se era praia, se era praça. Se era dia, se era cinco horas a mais. E se estivesse chovendo? Nunca venta muito em dias de sol forte. Não venta aqui, lá não lembro.


Ele me ligou e não tínhamos muito o que dizer. Ele não teve coragem de falar que estava com saudades de ouvir minha voz. Eu não tive coragem de dizer que não estava tudo bem. Atendi assustada. Caminhava para o almoço. Depois, fiquei em silêncio. Ouvia uma música baixa que aos poucos foi abafando o vento. Era uma letra em inglês. Era uma balada leve. Não consegui captar muita coisa além de such a shame. Desconfio que se sentia só. Eu também me sinto. Principalmente quando lavo a louça e corto as unhas dos pés. Especialmente aos sábados. Ah, mas hoje é terça-feira.

Você tem se alimentado direito? Deu vontade de responder: a última vez foi naquela tarde, com você. Ele falou mais do que eu consegui ouvir. Perguntou várias vezes se eu estava entendendo o que estava me pedindo. Respondi que sim. Mas quase nunca entendo direito o que ele quer dizer, aposto que nem ele.

Eu ouviria a voz dele em silêncio a tarde inteira, a vida inteira. Contanto os sonhos, rindo dos pesadelos.

Aqueles olhos rubros. Claros de sol.

Não tínhamos o que falar. Aliás, tínhamos. Eu sempre tenho tanto a dizer. Tenho tanta vontade de telefonar a cada pôr do sol. No final da semana quase telefono só para desejar boa tarde. Mas, sempre encontro motivos pra não fazê-lo. Sempre invento jeitos de não desejar.

Para não desejá-lo.

Mais.

A ligação caiu.

Sem minutos de silêncio.

Sem suspiros.

Sem ter que retornar depois.

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