quinta-feira, 14 de outubro de 2010

As mesas dos bares têm sido os melhores lugares que eu tenho sentado ultimamente. Melhor do que a minha cama, melhor do que as cadeiras do trabalho, melhor, mais muito melhor do que a cadeira do divã do terapeuta.

Gosto de mesas mistas. Homens, mulheres. Gays, héteros. Brancos, pretos, mulatos, índios, lindos, com a pele macia – oxum. Mas eu não vou entrar no Samba da Bênção de Vinicius e Barden apesar de que as mesas dos bares que apesar dos pesares, me trazem você - serem um verdadeiro altar.

Pois bem. Outro dia, estava eu, numa mesa de bar, lá pela madrugada de uma terça-feira, lá pela 6° dose de vodka, lá pela 20° pauta. É, porque mesa de bar não tem concordância nominal, verbal, ideológica, moral, nem porcaria nenhuma. Mesa de bar é uma discordância de conclusões desclassificadas e, só. Aí, vezenquando aquele amigo que você não tem muita intimidade, leva outro amigo que você não tem intimidade nenhuma que leva uma amiga inconveniente. Daí, você, que já tem por natureza, uma intolerância e uma impaciência com a burrice inconveniente é escolhida para vitima de ataque.

Enfim, estava eu, numa mesa de bar, lá pela madrugada de uma terça-feira, lá pela 6° dose de vodka, lá pela 20° pauta. Quando a amiga inconveniente do amigo do amigo que eu não tenho muita intimidade interrompe um assunto sobre a legalização do diploma de jornalismo para me fazer uma pergunta bastante pessoal e inconveniente.

Nunca me intimidei em responder absolutamente nada. Nem sobre o que eu penso, nem sobre o que sinto, nem, nem. Até quem não me conhece sabe: my life is an open book.

Nunca fui de viver preocupada com o que os outros pensam e devo frustrar muitas expectativas porque sempre fiz o que eu queria fazer. Enfim, eu sempre mandei pro cacete o que eu tive vontade de mandar e sempre trouxe pro meu colo o que eu quis amar.

Só que um detalhe eu zelo: o respeito e a confiança da minha mãe. Com o que ela pensa, eu me preocupo, e acho bacana, sabe? Porque mesmo quando eu tomo uma decisão contra a vontade dela ela sabe respeitar de uma forma confiante e apoiadora. E essa confiança, conquistada dia a dia dada pela segurança de sempre dizer a verdade e ter agüentado firme as decisões erradas é que eu temo perder. Engraçado, que enquanto minhas amigas viviam o drama do medo da mãe descobrir que elas tinham perdido a virgindade, eu morria de rir porque pra minha, eu contei.

Apesar de toda discrição que procuro viver sei que de certa forma as pessoas aumentam o que vêem. E eu temo quem distorce verdades. Temo porque eu cresci. Temo porque eu mudei. Temo porque ela não me espera mais acordada. Temo porque eu viajo na sexta volto na segunda e ela só me liga pra dizer que o quarto está vazio. Temo porque ela sabe que dentro de alguns dias eu vou morar sozinha e ela vai perguntar se eu tranquei a porta. Temo porque ela sabe que eu sei que a vida não se resume mais a barra da saia dela.

Mas não era sobre isso que eu queria falar. Minha relação com minha mãe é coisa de filme. Ela é minha melhor amiga. Eu sou a melhor amiga dela. Eu queria falar que cansei dos padrões que as pessoas precisam seguir pra viver. Cansei dos sinônimos da felicidade.

Porra.

Não está escrito na minha testa que eu sou uma pessoa de bem com a vida e feliz? Que nos dias de tristeza, solidão e depressão eu fico em casa ouvindo samba, rock, jazz, blues, escrevendo e enchendo a cara da primeira coisa que eu encontrar na frente seja doce, seja álcool, seja verbo, seja carne. Que eu corto os pulsos só pra provar que a dor não é mais forte do que eu. Que eu não derrubo o dia de ninguém e, se isso acontece é porque às vezes acordo com instinto mal mesmo e tenho vontade de ver todo mundo convalescendo. Inclusive, eu.

Mas que besteira eu tô escrevendo. Que arrodeio bobo para dizer que eu tenho preguiça de perguntas idiotas que vêm com afirmações embutidas nas entrelinhas. Aliás, tire o entre de todas as linhas.

A pergunta, né?!

Outro dia vi sua Mãe num desses programas matutinos da Tv falando sobre família. A repórter mandou lembranças pra você e perguntou se você já tinha casado e quando chegava o netinho. Ela ficou bem sem jeito pra dizer que ainda não. Ai foi tão engraçado. Você não vai dá um neto pra sua mãe não, mulher?

Primeiro, ela deve ter ficado sem jeito porque era uma pergunta pessoal sobre a minha vida que, com absoluta certeza ela não se achava jamais no direito de responder.

Segundo, minha resposta?

Ah, deixa pra lá, vai empobrecer o texto.

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