São Miguel do Gostoso
terça-feira, 30 de novembro de 2010
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Exatamente aqui
Não existe verdade
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Uma canção pra você
Domingo, tenhas graça
A sensação que eu tenho é que o domingo é aquele dia que tinha tudo para ser e não foi. Vai ver o domingo é o que não é porque é ressaca do sábado e o saco da segunda-feira. Ou então porque é o dia de sol que chove dentro da gente. Ou ainda porque é o começo da semana que começa no fim da semana que termina. Enfim, é domingo. O sétimo dia. O dia que tinha tudo para ser e não foi. Entro. Abro as janelas. Faz uma noite de Lua linda, que pelas frestas ilumina meu corpo. Uma noite linda. Como linda’s sempre são as noites de novembro. Adoro novembro. Adoro novembro!
Um parágrafo. Vinte páginas. Um roteiro. Quatro cenas. Um sms. Dez torpedos. Uma chamada. Oitenta minutos.
Desaprendi a dizer.
Amanheceu domingo.
O dia que tem tudo para ser e não é.
Anoiteceu.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Fito Paez
Natal mora no meu coração
Eu sempre quis escrever algo sobre Natal. Comecei várias vezes e vou começar novamente, torcendo para chegar ao fim. Eu sempre quis escrever alguma coisa sobre Natal para esclarecer porque Natal é uma cidade que mora no meu coração.
Daí, no último domingo, eu acordei em Natal. Acordei cedo. Apesar da noite anterior curtida em pratos mexicanos no paraíso da Pipa, despertei com os papagaios. Precisava viver um domingo cheio de graça. Fui pra rua. Não amanheceu um dia tão lindo quanto amanheceu o sábado, mas amanheceu domingo, cheio de cores. Natal é uma cidade muito colorida. E eu comprei flores. Comprei flores naturais para colocar no quarto, pétalas amarelas, que lembravam girassóis. Sois. Só eu estava. A solidão me restava.
Eu sempre me esqueço. A gente esquece. Aquele mar, aquele sol, aquele rio. Aquele rio que encontra o mar. Aquele amor que cruza o oceano para se encontrar.
Natal não tem o que crescer. Se Natal virar Miami não terá mais o bucolismo, a depressão, o silêncio, a solidão. As esquinas não serão saudade. Os bares não serão amigos. Não terá história. Não terá charme. Natal precisa continuar sendo uma cidade matutina, vespertina. Uma cidade de dia, de manhã, de tarde, de sol.
Eu devo muitas alegrias a Natal. Eu devo momentos ímpares. Devo amor. Devo cafés da manhã na cama, devo jantares a luz das velas, ao brilho da lua. Devo madrugadas de samba. Devo boemia. Devo dias lindos, como os amigos lindos que Natal me deu.
Devo o regresso.
A ansiedade pelo os braços do homem amado. O desembarcar de amor. As despedidas desesperadas, sofridas, o coração partido. Mas no meu coração sempre está faltando um pedaço. Sempre está partido. Sempre está partindo.
Deixo os amigos, deixo as paixões, deixo os amores. O desejo, a toalha molhada, o lençol sujo de duas ou três noites dormidas, muito mal dormidas. Sempre não dormidas.
Os novos amores. As novas descobertas. Os novos lugares. Os novos mundos. O refúgio de sol.
A verdade é que a história se repete e sempre se passa em Natal. E sempre é madrugada porque Natal é uma cidade matutina/vespertina.
Domingo é dia de partir. Só queria que isso mudasse.
Vem amor, chegue aos domingos para eu poder explicar porque Natal mora no meu coração.
Já é madrugada, se é madrugada, então é segunda.
A gente se refaz.
Faz calor. Há tesão.
Abro a janela, deixo o vento entrar. Despetalo as flores. Uma a uma. Lentamente.
Por que eu sinto você aqui? Por que você está nas esquinas? Por que você não deixa? Por que você não me faz feliz?
Ah, Natal.
Ouço o seu silêncio.
Estou sempre partindo de você mas nunca vou embora.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Eu nunca tive um Natal Feliz
Todo mundo precisa ter uma válvula de escape para escapar muitas vezes até de si. A minha, ultimamente, tem sido o twitter. Vou das minhas overdoses musicais aos meus lamentos em cento e quarenta caracteres. Muitas vezes sem o menor pudor, mas sempre com muito caráter.
Pois bem, outra tarde cai na timeline “50 dias pra acabar esse ano desgraçado” tweet de @atalija. Eu li, reli, li de novo e pensei, pensei e pensei tentando lembrar alguma coisa bacana e feliz que tenha me acontecido em 2010.
Verão, Carnaval, Semana Santa, Dia das Mães, São João, Copa, Dia dos Pais, Eleições, Natal, Ano Novo. Pronto. Vai acabar o mundo. Ano novo de novo.
E eu não sei desses 315 dias que se passaram quantos eu vivi.
Vai chegar o Natal. E outro dia, esta semana, não sei a noite, fazia supermercado com Miguel (meu primo afilhado de 2 anos) e ele gritava pelos Papais Noéis das prateleiras, queria que eu comprasse todos, me subornando o seu bom comportamento em troca do bom velhinho. Ai, essas crianças geração tecnologia, tsc.
Tenho refletido cada vez mais sobre o tempo. Sobre a vida. Sobre a rapidez que os dias têm passado. Sobre a lentidão que eu tenho vivido. Sobre o nada que eu tenho feito. Sobre as merdas que eu tenho feito. E, pra não ser de todo negativo, porque o otimismo sempre foi o meu forte, sobre as coisas lindas que eu tenho desperdiçado.
Bem, mas eu comprei o Papai Noel para Miguel e a Moça do caixa brincou com ele dizendo: Um feliz natal, ho ho ho!
Imediatamente me veio o pensamento: eu nunca tive um Natal feliz.
Por sorte, não estava muito longe de casa, porque repeti o caminho inteiro o tal pensamento num tom de voz sussurrante que entoava no meu silêncio em alto volume.
Lembrei que meu sonho, durante muitos anos, foi ter uma árvore de Natal daquelas de filme, que quase alcançava o teto e que alguém teria que me colocar nos braços para que eu alcançasse a ponta estrela, que eu queria um presépio onde as vaquinhas, burrinhos e o escambau acendessem e se mexessem e fosse quase de verdade como o da igreja. Que eu sempre quis, e quis e quis e nunca quis demais. Depois, pensei ainda um monte de besteiras que mereceria uma surra por mau agradecimento da minha Mãe que sempre me deu os melhores presentes e os mais lindos vestidos de Natal que uma criança pode ter para ir jantar na casa da Avó. E, é claro, todo amor.
Nem sei por qual motivo entrei na minha infância. A frase correta seria: eu nunca mais tive um Natal feliz. Ou, há tantos anos eu não tenho um Natal feliz. Ou ainda, eu preciso que meu Natal este ano seja o mais feliz dos últimos anos.
Quantos? Onze ou dez.
Preciso.
Preciso recuperar o espírito de luz que geralmente se renova no Natal. Preciso acreditar. Preciso que não seja vazio. Preciso que não seja só. Preciso matar aquela sensação de desamparo, de desespero. Preciso sentir a certeza que os 360 dias valeram. Que o esforço para que fossem dias melhores valeu. Preciso acreditar na hipocrisia dos votos. Preciso acreditar no sentimento de renovação do tempo. Talvez não preciso.
Eu nunca tive um Natal feliz, é verdade.
Minha diversão é estranha quando estou sozinha. É infantil.
Eu nunca tive um Natal feliz.
Magia.
Eu nunca esperei o Papai Noel.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Passei uma grande fase tênue entre Anais Nin e Simone de Beauvoir. Não faz muito tempo. Quatro meses, cinco - no mínimo. Pesquisei entrevistas, comprei livros, juntei material suficiente para uma tese de mestrado escultural sobre a relação das autoras com os homens, com o sexo, sobretudo com os seus amantes Henry Miller e Jean -Paul Sartre.
Li histórias apaixonantes. Apaixonei. Só pensava nisso, só falava nisso. Passava o dia inteiro no trabalho ansiosa para chegar em casa e me debruçar naquelas histórias de paixão como quem espera o dia inteiro para debruçar-se nos braços da pessoa amada para ganhar carinhos.
As experiências das autoras abraçavam minha alma.
Um dia, conversando com uma grande amiga jornalista e filósofa ela perguntou: ah, você tá nessa de Anais e Simone? Vou mandar uma entrevista pra você. Dias depois, caí no email.
Hoje, durante os meus calafrios febris lembrei o que eu sempre esqueço. Não sei se por ironia, por opção, por juramento. Foi aí que me levantei arrastando o edredom até a estante de livros que passou por uma faxina tirando o meu Tête-à-Tête dentre os dois volumes de O Segundo Sexo, de Simone e Em Busca de um Homem Sensível, de Anais Nin e colocado entre as biografias de JK, escrita por Cláudio Bonjuga e a de Chatô, escrita por Fernando Morais. Não lembro se a obra da mudança foi minha, e isso, agora, pouco importa ou tanto faz.
Voltei para o quarto e sai dedilhando o livro entupido de post-it com anotações de sensações, dúvidas e termos em outros idiomas para procurar tradução. Caminhei pelas páginas e achei o que eu queria:
“A mulher apaixonada tenta ver com os olhos dele; lê os livros que ele lê, dá preferência à música que ele prefere, só se interessa pelas paisagens que vê com ele, nas idéias que vêm dele, adota as amizades, as inimizades, as opiniões dele, quando se questiona, é a resposta dele que tenta ouvir (…) A suprema felicidade da mulher apaixonada é ser reconhecida pelo homem amado como parte dele, quando ele diz “nós”, ela está associada e identificada com ele, compartilha do seu prestígio e reina com ele sobre o resto do mundo: nunca se cansa de repetir – até o exagero – esse deleitável “nós” “
Estava lá, com um post-it azul datado de janeiro/2010: Por que eu não consigo mais alimentar essas frescuras?
Conclusão.
Não tinha mais paciência com os homens. Calma, vou explicar, porque do jeito que eu sou mole vão começar a espalhar por aí que eu escrevi que ia virar lésbica, e com todo respeito, cheiro de mulher perto de mim, já basta o meu.
Pois bem, a minha paciência com os homens estava naquele verão e talvez ainda esteja neste veraneio estourada porque no geral os homens que eu tenho conhecido têm me dado preguiça. Preguiça de gastar o meu latim, o meu perfume francês e todo o meu conhecimento de samba e literatura latinoamericana no café da esquina. Preguiça de responder a DMs e SMS no dia seguinte, preguiça de anotar o número do celular e de atender e de ligar. E, esclareço, já ouvi isso com outras palavras e justificativas, de várias mulheres. O que caberia até uma ponta de preocupação nos homens que se importam, se ainda existem os que se importam.
Talvez estejamos conhecendo os homens errados. Talvez sejam eles, que se assustem com mulheres como nós. Com exigência e dificuldade de suportar ou não suportar.
Nunca fui de sair procurando amor, paixão, nem nada. Sempre defendi que tudo isso acontece naturalmente. Aliás, aliás, guardadas as devidas proporções, comigo sempre aconteceu. Eu sempre me apaixonei. E re-apaixonei. (Re) apaixonar porque o que sempre me encantou na paixão foi esse jeito que ela tem de reascender a chama num simples beijo roubado no trânsito, na paradinha no sinal.
Mas, voltando a pergunta: Por que eu não consigo alimentar frescuras?
Preciso reformular.
Nosso mundo mais um pouco do mundo do outro – nunca será uma equação exata. Nem muito menos “esse deleitável ‘nós’”.
A mesma direção. O mesmo foco. O mesmo mundo; se completando, se encontrando, se difundindo, e enfim, se unificando. É a equação? Maybe.
E eu que pensava que sabia alguma coisa sobre o amor.
Que nada.
Em tua alma...os meus sentidos.
E foi aí que eu entendi que isso seria tudo.
Bastava só o que eu queria.
Queria que você estivesse aqui.
O que você também queria, eu sei.