Todo mundo precisa ter uma válvula de escape para escapar muitas vezes até de si. A minha, ultimamente, tem sido o twitter. Vou das minhas overdoses musicais aos meus lamentos em cento e quarenta caracteres. Muitas vezes sem o menor pudor, mas sempre com muito caráter.
Pois bem, outra tarde cai na timeline “50 dias pra acabar esse ano desgraçado” tweet de @atalija. Eu li, reli, li de novo e pensei, pensei e pensei tentando lembrar alguma coisa bacana e feliz que tenha me acontecido em 2010.
Verão, Carnaval, Semana Santa, Dia das Mães, São João, Copa, Dia dos Pais, Eleições, Natal, Ano Novo. Pronto. Vai acabar o mundo. Ano novo de novo.
E eu não sei desses 315 dias que se passaram quantos eu vivi.
Vai chegar o Natal. E outro dia, esta semana, não sei a noite, fazia supermercado com Miguel (meu primo afilhado de 2 anos) e ele gritava pelos Papais Noéis das prateleiras, queria que eu comprasse todos, me subornando o seu bom comportamento em troca do bom velhinho. Ai, essas crianças geração tecnologia, tsc.
Tenho refletido cada vez mais sobre o tempo. Sobre a vida. Sobre a rapidez que os dias têm passado. Sobre a lentidão que eu tenho vivido. Sobre o nada que eu tenho feito. Sobre as merdas que eu tenho feito. E, pra não ser de todo negativo, porque o otimismo sempre foi o meu forte, sobre as coisas lindas que eu tenho desperdiçado.
Bem, mas eu comprei o Papai Noel para Miguel e a Moça do caixa brincou com ele dizendo: Um feliz natal, ho ho ho!
Imediatamente me veio o pensamento: eu nunca tive um Natal feliz.
Por sorte, não estava muito longe de casa, porque repeti o caminho inteiro o tal pensamento num tom de voz sussurrante que entoava no meu silêncio em alto volume.
Lembrei que meu sonho, durante muitos anos, foi ter uma árvore de Natal daquelas de filme, que quase alcançava o teto e que alguém teria que me colocar nos braços para que eu alcançasse a ponta estrela, que eu queria um presépio onde as vaquinhas, burrinhos e o escambau acendessem e se mexessem e fosse quase de verdade como o da igreja. Que eu sempre quis, e quis e quis e nunca quis demais. Depois, pensei ainda um monte de besteiras que mereceria uma surra por mau agradecimento da minha Mãe que sempre me deu os melhores presentes e os mais lindos vestidos de Natal que uma criança pode ter para ir jantar na casa da Avó. E, é claro, todo amor.
Nem sei por qual motivo entrei na minha infância. A frase correta seria: eu nunca mais tive um Natal feliz. Ou, há tantos anos eu não tenho um Natal feliz. Ou ainda, eu preciso que meu Natal este ano seja o mais feliz dos últimos anos.
Quantos? Onze ou dez.
Preciso.
Preciso recuperar o espírito de luz que geralmente se renova no Natal. Preciso acreditar. Preciso que não seja vazio. Preciso que não seja só. Preciso matar aquela sensação de desamparo, de desespero. Preciso sentir a certeza que os 360 dias valeram. Que o esforço para que fossem dias melhores valeu. Preciso acreditar na hipocrisia dos votos. Preciso acreditar no sentimento de renovação do tempo. Talvez não preciso.
Eu nunca tive um Natal feliz, é verdade.
Minha diversão é estranha quando estou sozinha. É infantil.
Eu nunca tive um Natal feliz.
Magia.
Eu nunca esperei o Papai Noel.
2 comentários:
nossa, ameeeei o texto e chorei litros enquanto lia. vc pensa igualzinho a mim. hoje eu estavs falando pra o meu pai que eu nao lembrava de nenhum natal da minha infancia. è que meus pais nunca tiveram esses costumes de confraternizaçoes no natal. sempre desejei montar uma arvore de natal mas nunca pude. atualmente eu odeio minha cidade na epoca do natal, é uma chatice so. e minha familia nunca faz nada. a cada natal eu estou mais triste, nao sei mais oq fazer... bjs
ass: alguem com 16 anos
Oi Anônimo,
Que bom que se emocionou. Fico feliz. O que você deve fazer é não deixar que o espírito do Natal morra dentro de você. É tentar cultivar isso cada vez mais.
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