domingo, 19 de dezembro de 2010

É hora de amar de novo

Eu queria estar dançando um tango em Madagascar, mas estou aqui, entupida de analgésicos, antitérmicos e vitaminas A, B, C, D e E, até não poder mais.

Eu queria acostumar o meu desejo a não te querer. Mas, não vou falar de amor. Já comprovei que não é um bom negócio falar de amor entupida de remédios, escrever dopada mais uma vez, pode me render outra critica literária e quer saber? Fodam-se vocês que criticam meu jeito particular de amar. Estou pouco aí, ou como dizem CAGANDO E ANDANDO em caixa alta para a contestação de vocês.

E quer que eu repita?

- Foda-se! --------- liguei o botão. E, é tão bom ter um caráter honesto sem precisar bancar a moça boazinha. É tão bom deixar o amor fora disso. É tão bom deixar a paixão fora dos desejos. É, acreditem, ser intenso é bom.

Ah, mas eu só queria estar dançando um tango. Um tango a la Gotan Project. Nuvens, café e tango.

Ai, uma coisa nada com a outra tem a ver. Lembrei de Derek Walcott. Por que dele? Ele não era Argentino? Era? Por que não era? Ele não morreu? Morreu? Lembrei dele porque achei O amor depois do amor. O amor depois do amor é coisa do destino. Ou, como diz originalmente no poema: é hora de amar de novo o estranho que era si mesmo. É hora de amar de novo. Hora de me amar de novo? Não, não vou falar de amor, pode render criticas literárias. Ah, mas podem render comentários amáveis.

Ah, mas eu só queria estar dançando um tango. Cantando baixinho, bebendo algo quente, comendo frios. Olhando o fogo. Eu gosto de olhar o fogo. O fogo me acalma.

E, lá vem Derek Walcott again:

Há de chegar a hora

em que, com alegria,

você vai se cumprimentar ao chegar

à porta de casa, em seu próprio espelho,

e cada um sorrirá diante da acolhida do outro,

Mesmo que com a expressão embriagada e os olhos escorridos da maquiagem borrada pela maresia da noite anterior.

e dirá, sente-se aqui. Coma.

Você amará de novo o estranho que era si mesmo.

Dê vinho. Dê pão. Devolva seu coração

a ele mesmo, ao estranho que amou você

Mesmo que tenha restado apenas a vontade de não se ver. A vontade de quebrar os espelhos, de devolver as mentiras, de não ter lavado os copos, de não ter beijado os corpos, de não ter devolvido as taças, de não ter requentado o café.

desde que você nasceu, que você ignorou

por outro, que o conhece de cor.

Tire as cartas de amor da estante,

Como? Se existe a lembrança. Como? Se existem as palavras. Como? Se sobram memórias. Como? Se esse tempo todo eu só me ignorei.

as fotografias, os bilhetes desesperados,

tire suas própria imagem do espelho.

Sente-se. Celebre a sua vida.

Chegou a hora de amar de novo. E, eu não estou nem aí para o amor. Só queria estar dançando... é, um tango.


Ouça.

Ah, eu só queria estar dançando este tango, nas nuvens, sem escapar do feitiço.

Eu só queria estar dançando este tango para celebrar - suspensa em você.

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