Já faz uns anos que eu deixei de acreditar em Natal, de ser contaminada pelo espírito natalino. De trocar presentes, de enfrentar filas nos shoppings, de brincar de amigo secreto, de comer peru e de viver esse momento de inspiração e hipocrisia que todos vivem dizendo que ama o seu colega de trabalho que você falou mal e desejou que ele se fodesse o ano inteiro.
Mas, este ano eu fiz umas coisas diferentes do que vinha fazendo nos últimos anos. Este ano eu saí de casa depois de todo mundo, depois da meia noite, depois de horas de solidão. Este ano eu enfrentei as dores da infância e comi o tender. Este ano eu fui à Missa. Este ano eu vesti vermelho, coloquei o gorro na cabeça e contei aos meus primos como é que se supera algumas decepções da vida. Também contei pra eles o quanto meu trabalho é legal, contei de algumas pessoas que conheci. Acendemos cigarros, abrimos garrafas de vinho, tiramos vovó pra dançar, dançamos tango argentino, ouvimos histórias de como se comemora o Natal na Europa, nos Estados Unidos e na Argentina, ouvimos histórias de Natal de quando éramos criança. Ouvi meu primo dizer: fico todo empolgado quando meus colegas da escola dizem “vi sua prima dando entrevista na TV”. Vi minha alegria ser devolvida em taças de champanhe e grãos de farinha. Em apenas duas horas que passei entre eles. No meio da festa, no meio deles. Cheguei, já tinha começado. Saí, não tinha terminado.
Hoje. E hoje é que é Natal. Ou melhor, nem é mais, porque hoje já é amanhã. Mas hoje, enquanto todos almoçavam minha mãe me chamou. Eu falava ao telefone, uma ligação demorada, pedi que ela esperasse. Ela chamou novamente. Tinha urgência em me dizer alguma coisa. Eu não tinha urgência em ouvir. É sempre tanta coisa pra gente saber.
Tranquei a porta. Não queria falar com ninguém. Não queria ver ninguém. Olhei pra mim a tarde inteira, conversei com minha solidão a noite inteira. Vi um filme após o outro, bebi, comi, dormi. Fiquei de porre, melhorei do porre, fiquei de porre de novo.
E, agora a pouco, quando fui à cozinha, minha mãe estava lá, vendo TV. Pediu que eu colocasse mais um pouco de cerveja em seu copo. Pediu um beijo e falou “faça o que tiver que fazer para ser feliz” "você acha que falta muito?" - perguntei fazendo graça. "Falta? Quem sabe da sua felicidade é você".
Voltei para o quarto.
Façam o que tiverem que fazer para serem felizes - é conselho de mãe. Em pleno Natal.
Um comentário:
Faltou o complemento, Lari. Ó: Conselho de mãe... Sábia.
O Natal, muitas vezes, nem dói, não é?
Beijo!
Lidi.
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