Quando ele vem, a rede estala
os armadores e torce os punhos aumentando a intensidade do impulso no balanço
que pode alcançar o céu.
Quando ele vem, o travesseiro
é dividido em ombros, e os sonhos sonhados de olhos abertos na penumbra de
curvas percorridas pelo tilintar dos dedos.
Quando ele vem, a cama fica
cheia de troncos e pernas e braços e cheiros de pele e pelos caídos, dobrando a
densidade populacional do meu sofá-cama até alguém desfazer a cama em sofá e
tirar os lençóis.
Quando ele vem, as juras são
sonolentamente sussurradas lábio a lábio refletindo o arrepio da pele, vendo
estrelas e ameaçando uma fuga apressada sob os lençóis, sobre o box, sobre o
chão.
Quando ele vem, o entregador
não demora com a pizza, o telefone não insiste no toque, a música começa e não
termina num repeat insistente como no repeat mora o gesto de encontro dos nossos
calcanhares.
Quando ele vem, o garçom
reclama minha ausência no bar, levo falta com os amigos na esquina e desmarco
qualquer outra coisa que não seja vivida com a urgência de nos viver.
Quando ele vem, o domingo é um
saco, o fim da tarde chega depressa, logo o sol se põe e o futebol termina, e
as famílias habitam as praças de adultos dentro da realidade de crianças sem
super heróis.
Quando ele vem, o dia seguinte
é modorrento e há violões por todos os cantos e o telefone toca o tempo todo e
os emails chegam o tempo todo e os carros buzinam o tempo todo e em cada gota
de saudade eu vejo sabão-em-bolha competindo com a poeira que voa no ar.
Quando ele vem, a semana é
cheia de becos sem saída e o sol vai reacendendo girassóis nos canteiros e os
relógios, como os apaixonados flanam sem rumos nas esquinas, começam a girar por
obrigação.
Quando ele vem, nada mais importa. Nada mais é longe. Nada mais demora. Nada mais é feio. Nada mais é triste. Nada mais é perdido. Nada mais é desamor. O desalinho é ninho.
Até,
quando ele vem.
8 de julho de 2009.
Um comentário:
Você prega bem a ordem de que escrever não é tuitar. Parabéns, Moça.
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