segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Amigo é casa

Primeiros períodos da faculdade, sonhando e acreditando que poderia mudar o mundo. Palestra do Ricardo Noblat, professor de Marketing Político vai cobrar na prova, aluno tem que ir. Não pensei que depois que ouvisse o Noblat falar dos problemas dele, do Mino Carta, do Fausto Woff e do Diogo Mainardi, eu iria virar leitora diária e viciada de blogs políticos. Nem muito menos que o blog do Noblat me apresentaria uma das maiores pessoas que eu conheci na minha vida, escritor de um dos melhores blogs políticos de ‘anônimos’ que eu, sem exagero, já li.

Nasceu uma grande amizade. De longos papos no MSN, no Skype, de scraps no Orkut, de sms e de contas gigantescas de telefone que mamãe me fazia pagar com o trocado que ganhava na agência. Ainda não consegui apagar os contatos. Um cara que me faltam adjetivos e me recorda as noites que passávamos ao telefone preparando estratégias para ele chegar à Presidência da República. Está difícil escrever sem chorar, está difícil não me culpar por ter estado ausente, por não saber que durante tanto tempo meu grande amigo lutou escrevendo para viver.

É difícil acreditar que não posso pegar o telefone agora e ouvir aquele sotaque carioca dizendo que o meu é forte e desafinado e que eu sou diferente de todas as mulheres. Posso até ouvir sua voz, me pedindo para nunca acreditar nas “bolsas” do Lula. Que vontade de te abraçar, de ver seu lindo sorriso.

Agora tudo é tão tarde e a única coisa que me conforta é saber que tivemos uma amizade limpa, sincera, plena, afastada pelo tempo e o dinamismo da vida.

As afinidades nas coisas simples. Lembrei do papo de morrer jovem. Eu sempre achando que vou morrer antes dos trinta, mas ele queria viver cem anos me mandando deixar de falar besteira. E os versos da sua canção preferida do Chico me martelam a cabeça em busca da resposta “o que é que a vida vai fazer de mim?”. E agora? Eu nunca mais serei a marqueteira de um Presidente da República? E o que será das iguanas? E onde estará meu amigo? Talvez eu descubra no ‘tempo da delicadeza’.

Foram tantos ensinamentos. É inacreditável. Eu estou zonza ainda. Procurando uma razão. Uma coisa é saber que alguém está longe, outra coisa é saber que não está mais. Posso até ouvir o som da voz no tom da última vez que nos falamos no nosso aniversário em abril. Sempre tínhamos que ligar de madrugada entre a mudança dos dias. Ele me cobrando numa felicidade contagiante “quando vamos comemorar juntos?”

Lembro de tantas coisas, me arrependo de outras. O depoimento do Orkut que terminei dizendo que voaria 4hrs pra abraçá-lo em plena praia de Botafogo, e ele sempre me cobrava e eu sempre rebatia: “ah, teremos muito tempo”. Nada. Essa vida não nos dá tempo.

Meu amigo, você merecia um texto a altura dos que escreveu nessa vida. De leitura leve, simples, que entoa rima e coerência. Mas eu não consigo. Tentei durante um mês, e nada que eu rabisque chega à altura do que você merece. Eu não sei escrever levemente como você, apesar de ter incentivado tanto a criação do meu blog. Mas entre tantas lições eu entendi o seu recado. Agora terei mais pressa em viver. E você estará sempre bem guardado, aqui, dentro do meu coração.

Felippe Garschagen, *03/04/84 + 30/08/08

Imortalizado em: http://www.cerumano.com/ e http://www.hynkell.blogger.com.br/

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